quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Bilhete aberto aos educadores

Caríssimos professores, educadores do Brasil; Parabéns não somente por esse dia, mas por todos os outros que se dedicaram por nós alunos, nós que, um dia, aspiramos chegar no lugar em que vocês chegaram। E não chegaram à toa: com muitas noites mal dormidas, seja pela preparação intelectual que tiveram que passar para chegar até aqui, a renúncia de seus entes amados e queridos pelas horas de estudos, a elaboração de aulas, correção de provas, trabalhos, TCC, altas incertezas entre soluços, suor e as lágrimas derramadas. Vocês que não são meros transmissores de conhecimentos, mas de certa forma, nos ensina que ainda vale a pena apostar no potencial do ser humano. A prova viva dessa verdade somos nós alunos e é bom saber e sentir que somos o objeto de vossas preocupações cotidianas! Por isso queremos manifestar a estima, o apreço, a afeição, e principalmente a gratidão que temos para com os nossos professores, formulando os votos sinceros que se realizem cada vez mais naquilo que sabem fazer de melhor: ensinar, educar e extrair o melhor de seus alunos. De um imperfeito e humano aprendiz; Ricardo Ferrara

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A hermenêutica da palavra que bem aventura

Em algum momento da infância, li numa capa de um livro de gramática a seguinte frase: " Penetra surdamente no reino das palavras. Lá estão os poemas que esperam ser escritos. Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: 'Trouxeste a chave? ' " Era o poema de Carlos Drummond de Andrade. Depois de tanto tempo, me deparo novamente com essa frase. Eis que atravessei o tempo que me leva da infância até o dia de hoje, e essa frase não me deixou. Esqueci dela, mas trazia-a comigo. O exercício que mais me aplico é o de adentrar cegamente, surdamente, mudamente, para que a palavra elaborada possa me transfigurar. Não sou mais o mesmo depois de ter passado por ela, mesmo que não quisesse reconhecer essa verdade. Embriagado no silêncio, minha palavra pode ser profunda e experimentando a solidão, minha presença pode levar a comunhão. Contemplo o poder invisível da palavra tomada como obra de arte. Michel Guerín em seu livro "O que é obra?" nos ensina que: "Toda obra é de ultra-túmulo. Quando ascende no horizonte do mundo, ela atesta sua descida aos infernos, sua iluminação muito profunda. Devolvida à luz, ela continua a se revestir desta marca. Assim, o trabalho cumpre a obra; ele a realiza." Pois é Drummond, sua poesia desceu a recônditos mais secretos do meu ser, e por lá decidiu se instalar sem o meu conhecimento. Produziu os seus efeitos benéficos, sem que eu tomasse conta. Deixou marcas profundas de verdade e na verdade. Hoje eu sei, pois ela veio à tona e o seu trabalho realizou o ser estético da obra de arte. Descobri a beleza de sua verdade, um desvelamento de ser e loucamente comecei a viver, como se fosse o primeiro, o único e o último dia da minha vida. Martin Heidegger também experenciou isso, e em seu livro "A origem da obra de arte" nos relata que: "A verdade é a desocultação do ente como ente. A verdade é a verdade do ser. A beleza não ocorre ao lado dessa verdade. Se a verdade se põe em obra na obra, aparece. É este aparecer, enquanto ser da verdade na obra e como obra, que constitui a beleza. O belo pertence assim ao autoconhecimento da verdade. O belo não é somente relativo ao agrado e apenas como o seu respectivo objeto. Todavia, o belo reside na forma, mas apenas porque outrora a forma clareou a partir do ser, enquanto a entidade do ente. A realidade converte-se em objetividade, e a objetividade torna-se vivência." A beleza acontece na verdade e ninguém pode ficar imune à sua manifestação, quando está diante de uma obra de arte. Quero essa hermenêutica para a vida inteira!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Por que Horkheimer e Adorno querem esclarecer radicalmente o esclarecimento sobre si mesmo?

Horkheimer e Adorno querem esclarecer radicalmente o esclarecimento sobre si mesmo, pois percebem que a realidade perdeu sua verdade e transformou-se em perversão e que a verdadeira face do ser não está meramente no simples ordenamento da realidade, ao constatar que esta “dominação não é meramente a alienação dos homens com relação aos objetos dominados; com a coisificação do espírito, as próprias relações dos homens foram enfeitiçadas, inclusive as relações de cada indivíduo consigo mesmo” (Horkheimer e Adorno 1985, p.40). O esclarecimento tem que tomar consciência de si mesmo e não ser passível de manipulação, operando “uma crítica de si mesmo a fim de libertar-se do emaranhado que o prende a uma dominação cega” Horkheimer e Adorno, 1985, p.15). Habermas (1990, P.166) apresenta o cenário trágico do esclarecimento: “O drama do esclarecimento só atinge sua peripécia quando a própria crítica da ideologia é suspeita de não produzir (mais) verdades – e o esclarecimento se torna reflexivo pela segunda vez. A dúvida estende-se então também à razão, cujos critérios a crítica da ideologia encontrara nos ideais burgueses, tomando-os ao pé da letra.” A concepção de ideologia como uma manipulação de massa, em que se engana o indivíduo, tem origem iluminista é denúncia da superstição. Na concepção hegeliana, a ideologia anuncia uma verdade sobre si que até então misteriosa, e, ao expor essa verdade, faz analogia com a sua experiência dessa mesma verdade e, desse juízo passado sobre si mesma vem à tona algo como um sentimento dramático de seu descompasso, de sua divisão. Refere-se a uma negação interna que procura resolver por uma nova atividade crítica comandada pelo seu próprio padrão de medida. A função da crítica da ideologia é questionar a verdade de um conhecimento suspeito, ao revelar sua falta de autenticidade e veracidade, conforme Habermas (1990, P.165-166): “A crítica torna-se crítica da ideologia quando pretende mostrar que a validade da teoria não se separou suficientemente do contexto de origem, que às coisas da teoria, se oculta uma ilícita mescla de poder e validade e cuja reputação se deve justamente a essa mescla.” Adorno e Horkheimer, segundo Habermas, recordam a imagem da crítica marxista da ideologia, que, partindo do princípio de que potencial racional expresso nos “ideais burgueses” e posto no “sentido objetivo das instituições”, mostra uma dialética: de um lado, empresta as ideologias da classe dominante, a aparência ilusória de teorias convincentes, de outro, oferece o ponto de partida para uma crítica, empreendida de maneira imanente, dessas construções, que elevam universal o que de fato serve apenas á parte dominante da sociedade. A crítica da ideologia interpretava na má utilização das idéias um fragmento da razão existente, oculto a si mesmo, e interpretava-se como uma regra que poderia ser cumprida por movimentos sociais, conforme o desenvolvimento de forças produtivas excedentes. Dessa forma, Adorno e Horkheimer almejam acertar as contas com o entendimento calculador que tomou o lugar da razão, que está relacionada com a totalidade, com pequena diferença entre a pretensão de validade (verdade ou falsidade) e a utilidade para a autoconservação (contém elementos de autodestruição). A razão instrumental, associou-se ao poder e abdicou da crítica, que segundo Habermas (1990, P.170) “é o último desvelamento de uma crítica da ideologia aplicada a si mesma. Esta descreve, contudo, a autodestruição da capacidade crítica de forma paradoxal, visto que no instante da descrição ainda tem de fazer uso da crítica que declarou estar morta. Ela denuncia o esclarecimento que se tornou totalitário com os meios do próprio esclarecimento.” A universalização da razão instrumental levada às últimas conseqüências implica a dinâmica de reificação elevada ao seu ápice. Livros para consulta Dialética do Esclarecimento – Adorno & Horkheimer, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 2006. Discurso Filosófico sobre a modernidade – Jürgen Habermas, Martins Fontes, 2º edição

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Nos limites do ócio e do negócio

É difícil acordar para cumprir a sina do dia, quando não se tem vontade e disposição. É um impulso da cama a contra gosto. O cansaço desafia a fragilidade do corpo. Seus limites são testados e provados todo o dia. O corpo reclama, pois está sangrando por dentro. É por isso que anda faltando muita qualidade de vida. Há inúmeras vidas e raríssimas as que têm qualidade de vida. Há os que ignoram os limites da corporeidade em nome de uma estética que chame a atenção. O cuidado de si tem um efeito terapêutico, curativo, contudo é muito mais eficaz preventivamente do que quando se tenta apagar o incêndio. Isso aliado aos tempos digitais, virtuais, mecânicos e frios em lugar da presença objetiva, do toque e das afecções. Nas eras das ausências e exarcebações, Aristóteles nos ensina que a virtude não está nos extremos, mas na sua justa medida. Cuidar demais do corpo não é bom, cuidar de menos também não é boa pedida. Isso me recorda a tensão que temos que ter entre o Ócio e o Negócio. O negocio é aquilo que nega o ócio. O ócio é aquilo que nega o negócio. A parte começar definindo pela negativa, precisamos de um espaço e de um tempo nosso que possamos cultivar o ser pessoa. Precisa ser criativo, aberto ao lúdico, as surpresas e ao mistério. Isso eu chamaria de ócio. Está muito longe da perspectiva de ser um tempo sem fazer absolutamente nada. Longe de ser ausência de exercícios. O negócio é aquela caixa fechada, com regras bem definidas, que está situada no espaço do hoje que deve ser atendida no tempo do ontem. O negócio tem uma cronologia estranha para a lógica humana. É capaz de disciplinar quem tiver limites e capaz de transformar um indivíduo em um compulsivo empresarial. Nesse caso, nem tanto ao céu, nem tanto a terra, pois limites têm limites, ócios têm negócios e nos negócios, sempre há ócio criativo e lúdico a ser descoberto. Desejo que descubra e que seja bem feliz!

Embate educacional entre Estado e Família: uma Utopia para a contemporaneidade

Cada vez mais tenho percebido que a educação das pessoas tem desaparecido. Você que pega ônibus ou metrô todo o dia, sente na pele isso que estou relatando. Se a disputa para ficar sentado é grande, nem se fala então a disputa por espaços mínimos para poder ficar de pé, ou então para se segurar. Já vi de tudo: empurrões, pontapés, cotoveladas, grandes guerras por espaços curtíssimos. Fica latente perceber a subjetividade exarcebada. A pressa tomou de súbito a gentileza e a subjetividade exarcebada raptou o encontro dos olhares. Não há espaços nem para quem poderia ter a primazia sobre ele, como idosos, gestantes e pessoas especiais. Tudo em nome do Eu, tudo em nome de mim, e tudo vai ficando assim. O que vale é o bem-estar privado em detrimento do bem-estar coletivo. Cada qual olhando para o seu próprio umbigo. Esquecemos a nossa humanidade em um universo muito distante, a bilhões de anos-luz daqui. Lançando um olhar sobre a psicologia contemporânea, constataremos que nenhum ser humano é incoerente, ele é fruto histórico, rede bem encadeada de acontecimentos marcantes. Age de acordo com sua história tecida em sua existência. Fico pensando a trama que há entre o processo educativo em que fomos formados e a realidade em que vivemos. Me questiono sobre as possíveis falhas educacionais da família. É absurdo atribuir ao estado a função de educar, uma vez que a educação é primazia da família. Leve-se em consideração que a célula-mater da sociedade está se decompondo, homens e mulheres que possuem filhos, mas renunciaram a vocação da paternidade e da maternidade. A subjetividade levada até suas últimas consequências, tão em voga, massacra o indivíduo e a própria família. Se o estado não dá conta (seja por vias do inviável, seja por desinteresse) de dar cobertura à aquilo que é de sua competência, como por exemplo, transporte público quallitativo e quantitativo, muito menos devemos esperar milagres no plano educacional do ser humano. Estamos diante de um fenômeno que tomou proporções avassaladoras no nosso tempo. Não sou homem de respostas rápidas e prontas, quero entender, quero aprender, para me posicionar e agir, sem ilusões. Mas isso não me impede de pensar que devemos procurar novos areópagos da educação, da gentileza e da gratuidade. Uma dose de utopia, que em grego, quer dizer um não-lugar, um ideal, um lugar que não possua a condição empírica, não faz mal para um mundo puramente instrumental.