domingo, 26 de dezembro de 2010

Roberto Carlos, o rei das canções de amor

Não é a toa que ele é o rei da música brasileira. Artistas estrangeiros também reconhecem sua importância. Apresento algumas razões. Soube se misturar a outros gêneros que não eram o seu, sem perder sua identidade musical. Soube manter as canções de acordo com a sua tessitura vocal, sem ser grave ou agudo demais. Soube fazer música comercial, com qualidade poética impressionante. Soube ser humilde e valorizar tendências e ritmos relevantes para a constituição da música popular brasileira. Soube escrever sobre o amor humano e o amor divino como ninguém. Soube ser humilde. Existem ainda outros motivos. Suas músicas acaletaram, acalenta e acalentará os corações exultantes de amor. É fenômeno, e fenômeno a gente não explica, admira, aprende junto e bate palmas. Vida longa ao rei da música brasileira! Roberto Carlos é do Brasil! Essa é minha simples homenagem ao mestre das canções que embalam os corações apaixonados.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Natal, festa da humanidade

O mundo está privado de luz. Por escolha própria. Por própria deliberação, vontade e consciência. A luz que veio da luz não foi recebida. Foi rejeitada pelos homens. Cada qual quis andar em outras ‘luzes’ que lhes eram convenientes. Escolheram por caminharem por conta própria, ao bel-prazer. Muitos esperavam uma luz que rasgasse os céus de forma magistral e triunfante. Decepcionaram-se. A luz esvaziou-se da sua potência, se tornou uma criança frágil e indefesa. O Deus Todo Poderoso se tornou carne que fenece, pois o homem se tornou Deus. Mais ainda: o homem tomou como Deus as próprias coisas que concebeu. E quando o homem troca as ordens da natureza, em nome do seu egoísmo, torna-se perverso, desumano, autoritário. Deus, para inverter essa situação, mandou Jesus, Deus de Deus, Luz da Luz. Deus tem feições humanas em Jesus, para que no próprio Jesus, o homem tenha feições divinas. Um homem que consegue dividir a história antes Dele e depois dele, não pode ser comum. Ainda que o Natal seja a festa da luz, do Sol maior que veio nos visitar, é tempo é profunda mudança de vida, de mentalidade e de coração. Que a troca de presentes dê lugar à troca de um coração velho para um novo coração. É no Natal que fica mais nítido que a fé não é pura e simplesmente fé em Deus, mas uma aposta ousada na humanidade. Para quem acredita em Deus, a fé Nele, de certa maneira, não é tão difícil assim. O desafio é crer que Ele acredita em nós, continua apostando e colocando todas as fichas em nós, para que busquemos o que precisamos ser nesta vida, e que façamos o que precisa ser feito. E isto não é tão evidente quanto parece. Natal é o desvelamento da verdadeira humanidade, que está no porvir, e que sobrevive da busca de quem procura com abertura de intelecto e retidão de coração. É a este mistério que somos chamados a nos render, para que alcancemos a verdadeira plenitude humana na história.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Para o ano novo, uma pessoa nova

Ano que se vai. Ano que se vem. Tantas coisas que nos absorveram. Tantas coisas perdidas. Por um lado, encanto perdido, pelo outro, surpresa inesperada. Quantas lágrimas com motivos e sem motivos derramadas. Briguei, reconciliei, guerreei, construi pontes de amizade e esperança. Fui humano como sempre e na busca do eterno como nunca. Sinto que morro aos poucos quando passo pelo tempo. Mas faço parar o tempo, quando estou com meus amigos, quando componho uma canção, quando escrevo alguns versos para aliviar minha existência. Estou no tempo e pela contemplação saio dele para contemplá-lo e vejo que o que não muda é o seu eterno gesto de mudar. Dias nascem, dias morrem, tardes se desvelam e se escondem com grande sedução. Queria ter a sabedoria do tempo de saber mudar de saber morrer para depois viver. Mas me prendo a um medo comum que todos os mortais possuem: o de passar pela experiência da morte. Morte é esvaziar as gavetas com coisas e papeladas inúteis e sem sentido que por muito tempo você carregou em sua mochila de viagem. Morte é ter o conhecimento que o inimigo número 1 de você é você mesmo. Vida é deslumbrar o horizonte de superar-se para além da superação, para além daquilo que te dizem ou até mesmo sobre o que pensas de ti mesmo. O tempo desliza sobre minhas mãos. Já não posso interferir no que passou. O amanhã ainda é um mistério. Tenho somente o hoje. Hoje pode ser o dia que a eternidade resolveu habitar ao seu lado. É só viver e não somente ensaiar de viver ou apenas existir. Ano novo só é novo se tenho a capacidade de ser novo tanto quanto ele é. Acompanho o tempo, mas não deixo de pensar um só instante na eternidade. Sou peregrino do tempo, a história é a minha tenda que me abrigo quando penso além do tempo.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Seguir a natureza: um café com Epicuro, Sêneca e Horácio

A questão que perpassa o pensamento de Sêneca é seguir a natureza. Há duas escolas que duelam nesta questão, a saber: o epicurismo e o estoicismo. A vertente epicurista prega que o seguir a natureza, corresponde a dar asas aos instintos e as paixões humanas. A vertente estóica versa por preconizar que o seguir a natureza é, antes de tudo, desenvolver e aperfeiçoar a parte mais nobre do homem: a razão. As duas teses são diametralmente opostas: uma enfatiza que se deve dar vazão aos instintos, e a outra, anuncia que a razão é o principal elemento do seguir a natureza. Vejamos. O homem ocupado tem as características de se apegar ao amanhã, e se esquecer do hoje, como também de se encher de diversas atividades e passatempos que o impeçam o se debruçar sobre a sua própria existência e refletir. Por não viver o presente, ele cria inúmeras expectativas e projeções irreais e falsas acerca do futuro. Neste aspecto, sua vida se torna breve, não em sentido cronológico, mas no sentido da intensidade de viver. E por estar enclausurado nas efemeridades do tempo, cada vez mais se aproxima do particular, distanciando-se do universal. Ao contrário, o homem livre possui as características de estar absorvido inteiramente pelo seu presente. No homem livre, não há carência e nem excesso de tempo: cada momento é uma oportunidade de se aperfeiçoar e ser melhor. Horácio, poeta grego e contemporâneo de Sêneca I a.C, em seu poema Ode (I, XI) afirma: “Tu não procures, conhecer não deves, o fim que a mim, A ti concederam os deuses, ó Leucone, nem experimentes os números babilônicos. Melhor sofrer o que quer que seja! Seja muitos invernos, seja o último que Júpiter te concedeu, e que agora o mar Tirreno quebra contra os rochedos, sejas sabia, filtre os vinhos, e pelo curto espaço de tempo suprimas qualquer longa esperança. Enquanto falamos, o tempo invejoso foge: aproveita o dia, (carpem diem) muito pouco crédula no que virá.” Eis aqui o trecho do famoso trecho do carpem diem, cuja tradução mais aproximada é a do colher o dia. A preocupação horaciana é no sentido de que o hoje tem a necessidade de ser vivido intensamente, sem maiores apegos no que virá no dia de amanhã e de que os homens possuem a estranha tendência de informarem sobre o que virá e sobre qual seja o seu fim. Assim se encontram fazendo planejamentos minuciosos e calculistas, debruçando-se somente sobre o que virá, e, portanto, dando as costas ao seu tempo presente. Já que o passado é conhecido do homem, o já foi, e o presente, de certa forma, já ser conhecido, o amanhã causa medo e pavor, pois é uma fronteira desconhecida para o homem. E para se precaver e cercar-se de cuidados, às vezes de perigos imaginários e até ilusórios, ele apega-se às coisas materiais, bem como a acumulação de riquezas e esquece-se de colher o dia, que generoso a eles se oferece. Há uma inversão de finalidades: o indivíduo lembra que é preciso se atentar ao que virá, dando às costas para o seu presente, fazendo com que a memória daquilo que será passado seja a pior possível. Com isso, a sua verdade não é a de viver a vida de maneira significativa, mas tão somente de passar o tempo, e de simplesmente existir. O grande êxito do homem livre é que ele utiliza a meditação em seu próprio benefício, refletindo sobre as boas e más coisas que ocorreram, para fazer com que o bem que fez continue e que o mal que causou ele não mais cometa. Neste sentido, o homem livre afasta-se do particular, das efemeridades do tempo, e se aproxima cada vez mais da estrada da eternidade.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Debulhando "A lista" de Oswaldo Montenegro

Se você fizer uma lista dos seus melhores amigos, esta lista consegue chegar à 10 pessoas? 5 pessoas? Lembre-se de quantas pessoas já passaram na tua vida, na tua existência e quantas que ficaram. Amigos de infância, amigos do bairro, amigos do colégio, amigos da faculdade, quantos restaram? Quanto ainda restará? O duro é ter que constatar o prazo de validade das relações, da amizade. A composição “A lista” de Oswaldo Montenegro tocou o meu coração. Nesta canção se desvela uma amarga verdade: nem todos os que nos prometeram amizade e amor são os que realmente ficam. Que por mais que queiramos nos cercar de verdadeiras relações e amizades, às vezes, fazemos muito pouco para preservar, cultivar uma relação. É que pessoas e relações também são sementes, flores e frutos: precisam ser cultivadas, precisam serem cuidadas. Há tantas formas de dizer que amo alguém, sem recair no calabouço do conceito. Há infinitas formas de dizer que te quero bem, sem que com isso eu possa banalizar tal ato. A intensidade de querer bem não se esgota a palavra; antes, a palavra é uma seta que aponta para esse bem. Palavra que é palavra não se encerra em si mesma; tem o dom de tocar o coração, de trazer leveza, e de transformar a terra seca em oásis. Palavra que é palavra significa bem mais do que todos os versos apaixonados poderiam dizer. Mas, ainda assim, quero a intensidade e os versos apaixonados. Escute “A Lista” e faça o exercício. Muito obrigado, Oswaldo Montenegro, por esta preciosa pérola que nos ofertaste este teu coração poeta! A boa canção agradece e o povo também.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Ou vai 'dilmavez' ou racha 'dilmavez'

Habemus Presidente, ops... Habemos Presidenta: Dilma Roussef. Que Deus a abençoe nesta árdua tarefa de gerenciar as terras tupiniquins, bem como responder à altura novas problemáticas que surgem com o andar político e as necessidades da população. Que não legitime de uma vez a lei do aborto, preserve a democracia em todos os âmbitos e limites, para além de todos os limites. Que governe para todos, sobretudo para os mais marginalizados. Que a situação possa seguir na linha daquilo que já deu certo e repensar aquilo que está errado. Que a oposição construa um debate frutuoso para o bem da nação brasileira, no hoje e no amanhã. O contraditório político é necessário para a paz social. Mas não é de hoje que o povo já queria uma mulher representando-o. Não se lembram em 2002, na primeira eleição que Luis Inácio Lula da Silva ganhou, bem no começo, quem estava na frente nas pesquisas? Roseana Sarney. É que o sobrenome pesa, e tanto pesou, que na época, a polícia federal descobriu em seu escritório, malas de dinheiro bem suspeitas, e ela acabou por ser afastada de ser candidata à presidência da República. Sem dúvida nenhuma que a eleição de uma mulher é um fato histórico, único, como foi a eleição de um operário. O povo quer alguém que o represente de verdade. Mas essa campanha política de ambos os partidos, PT e PSDB foi marcada pela ausência de propostas reais e sustentáveis para todos os campos. Não podemos mais admitir isso. Me contento quando vejo que 20 milhões de brasileiros, que votaram em Marina, estão descontentes com a lógica perversa de se conservar no poder, tanto PT, quanto PSDB. No segundo turno, o índice de brancos foi 2,30%, o que corresponde à 2.452.594 de votos. O índice de nulos foi 4,40%, o que corresponde à 4.689.397. Mesmo que esses votos se dirigissem à José Serra, ele ainda não ganharia, Dilma teria uma diferença de um pouco mais do que 6%. Agora, me impressionou o índice de abstenções: 21,50%, o que equivale 29.196.864 de votos. Aqui sim, seria decisiva qualquer reação. Esbarra, de certa forma, na concepção de que a política brasileira já não tem mais jeito. Ainda falta conscientização, esclarecimento e maturidade. Tanto do povo, quanto dos políticos. Democracia é alternância do poder e não conservação. Haja vista, o que foi o terror da ditadura. Aplaudam seus acertos, apontem seus erros e mostrem soluções adequadas, fiscalizem, pois o voto não se encerra nas urnas. A cidadania começa nas urnas e não repousa enquanto o bem não atingir a todos. De olho na política, povo brasileiro, de olho nela ‘dilmavez’, para que a gente não possa sucumbir ‘dilmavez’.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

É verdade que Política e Religião não se discutem ?

Dizem que política e religião não se discutem, pois cada qual tem sua verdade e o seu ponto de vista. É por cada qual ter seu ponto de vista e achar a sua verdade mais verídica do que a do outro que sinto dizer que ainda somos medíocres, presos à uma mordaça que parece ser verdadeira e libertadora, mas é falaciosa. Para começar: quando digo que política e religião não se discute, isso já é uma forma de discussão. Veja o leitor que é um argumento-bomba, que afirma negando, que nega afirmando. Não precisa muito para se auto esfacelar. Mas estranho como essa falácia está entranhada em nossa cultura. Aprofundemos a perspectiva da perspectiva. Muito tem a ver com Nietzsche: "Contra o positivismo, que permanece junto ao fenômeno afirmando "só há fatos", eu diria: não, justamente fatos não há, há apenas interpretações. Nós não podemos fixar nenhum fato "em si": talvez seja mesmo um disparate querer algo assim. "Tudo é subjetivo", vós afirmais: mas já isto é interpretação. O sujeito não é nada dado, mas algo anexado, colocado por detrás da interpretação? Já isto é poetização, hipótese. Conquanto a palavra ele é passível de receber outras explicitações, ele não possui nenhum sentido por detrás de si, mas infindos sentidos, "Perspectivismo" ". (KSA 12, 7 [60]).A percepção do mundo como um todo é rasa e superficial. O que conta é a perspectiva única e individual de cada homem. Neste registro, não há verdades absolutas, mas infinitas interpretações sobre infinitos universos. Cada perspectiva pode ser mais ou menos abrangente, mas em geral, são imperfeitas, não-absolutas e complementares. O mote esse trecho é a crítica de que não existiria um fato absoluto que condicionasse uma posição única e absoluta ante a realidade e o mundo. Não somente isso: Nietzsche critica a concepção de que haveria um sujeito por trás da perspectiva ou da interpretação. Ainda que Nietzsche critique o sujeito e o subjetivismo, não há como negar que, na pós-modernidade, o subjetivismo exacerbado está maquiado pelas perspectivas, pelos pontos de vistas. Retire o sujeito e verá o que restará das perspectivas. Por isso é mais cômodo dizer que problemáticas tão relevantes quanto religião e política não se discutem, pois pelo ponto de vista, afirma-se o sujeito do ponto de vista. E quando há eu demais, não há espaço para a gente nem sequer sentar e conversar. Que o leitor reflita e tire suas próprias conclusões! Quando há subjetivismo demais, há profundidade de menos!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Vida longa ao rei Pelé

Edson Arantes do Nascimento, simplesmente Pelé! Um menino humilde, só mesmo um mineiro para ter três corações. Nesse coração brasileiro, habita a alma do maior esportista de todos os tempos. Seu talento e divino dom de jogar bola, ainda será tema de muitos livros, revistas, reportagens. Toda a homenagem ainda será pouca para aquele que trazia ao povo brasileiro tanta alegria, com sua molecagem atrevida com a bola. Pelé é rei, pois fez de todas as gerações, adoradores de suas jogadas geniais, até mesmo dos gols que perdia. Pelé é rei, porque além de ter sido o esportista número 1 da história da humanidade, manteve os pés no chão, não perdeu a humildade. Quantos no auto da fama, se perdem, acham que são alguma coisa. Pelé é exemplo de competência e humildade, prova que essas duas habilidades podem dialogar e andar juntas. Pelé é rei, pois não ignora nenhuma pessoa que encontra.Todo o corintiano que se preze, deveria beijar os pés daquele que foi o maior carrasco do Corinthians de todos os tempos. É um privilégio para poucos ter tido o Pelé como adversário e carrasco! Todo o brasileiro autêntico deveria se curvar ao jogador Pelé, bem como a pessoa do Edson Arantes do Nascimento. Todo o mundo deveria elevar as mãos para o céu para agradecer ao Grande Poeta por nos ter ofertado tal insigne poeta da bola. Vida longa ao rei Pelé! Parabéns pelos seus 70 anos, continue sendo referência em um mundo carente de referências. Pelé maximizou em si o dom de ser brasileiro.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Amor gasoso

Baumann, notório sociólogo polonês, que trabalhou muito o tema do Holocausto, escreveu muito sobre a fragilidade das relações humanas. Escreveu um livro "Amor líquido", que por sinal ostenta um título muito sugestivo para o tempo atual. Quando o sociólogo fala sobre o amor líquido, está querendo dizer que as relações estão mais frágeis do que eram antes. Antigamente, o amor era sólido, tinha fundamento e alicerce. O fundamento era a valorização do outro enquanto pessoa, a responsabilidade e zelo pela felicidade e bem-estar do outro. A passagem do amor sólido para o amor líquido caracteriza-se pela falta de comprometimento pelo outro, a utilização do outro em benefício próprio. Para ser justo com o sinal dos tempos e com o diagnóstico proferido por Baumann, permito-me dizer que já passamos do amor líquido para o amor gasoso. É apenas o processo de intensificação e massificação do amor líquido, que era sólido. Seria preciso fazer uma analogia com os estados sólido, líquido e gasoso para compreendermos a profundidade e a magnitude de tal problemática. Entender o amor gasoso somente é possível através da compreensão do amor líquido, bem como a passagem do amor sólido ao líquido, tal qual o derretimento de uma geleira inteira, que se transforma em um imenso oceano sob o sol escaldante do deserto. Só que o mesmo sol escaldante que derrete a geleira em água, transforma a água em vapor. O gelo dificilmente se mistura com qualquer outra coisa, ou seja, nada pode penetrá-lo enquanto está no estado em que está. A água já se mistura com a maior parte das coisas, mas não com todas, como por exemplo o óleo. Quando se transforma em vapor, pode se misturar com todos os gases possíveis e imagináveis que possam existir. Percebemos que entre os estados o grau de volatividade tende a aumentar, ou seja, a consistência da matéria é decomposta até a sua forma primeira e indivísivel. Acontece que o amor, a amizade, a relação são elementos que vão sendo constrúidos, de acordo com a caminhada humana na história. Antes, um bom casamento era precedido de uma boa amizade e um excelente namoro. Hoje um péssimo casamento acontece com uma tortuosa amizade e um vicioso namoro. Quando em uma relação, seja ela de amizade, de namoro, etc, não se mantém a chama da cortesia, da generosidade, da alteridade, a tendência é extrair o máximo de vantagem enquanto puder, e quando não tiver mais o que precisar, o descarte vem a tona. É aqui que o humano se encarna como irracional, tal qual um animal precindido da razão. (Apesar que há animais mais racionais e mais humanos do que muitos humanos que eu conheço!). Tudo o que era frágil, tornou-se hiper frágil, tudo o que era utilitarista, foi a vertentes jamais vistas anteriormente. Como toda a revolução que se preze, este processo aconteceu na surdina, no sono pesado da humanidade pós-moderna, que ainda não se deu conta, e se vê sufocadas pelos hipers, pelos megas, pelos supers. A questão é que antes bebíamos o ser egoísta e o ser utilitário, agora respiramos o egoísmo e o utilitarismo. Respiramos esse ar que também entra pelos poros da pele. Espero que dos hiper textos , hiper links e etc, possa vir a emergir os hipers humanos e que sejam mais leves e mais envolventes do que o amor que se transforma em vapor em poucos milésimos de segundo.

Mártir subjetivo

Mártir de mim eu sou
Sou luz e encontro trevas onde vou
Vou por passo, mas sem compasso
Compasso, busco o do coração
Coração vagueia entre som e silêncio
Silêncio de uma alma que grita muda
Muda cenários, atores, mantém-se o roteiro
Roteiro de não ter roteiros, remédio sem bula
Bula que burla a ferida e perpetua a marca
Marca a ferro e fogo o tecido da alma
Alma que perde a calma, perde o encanto
O encanto da busca e de toda a procura
Procura, procura-te que você se acha...
O que acha?
Existe salvação para quem
É mártir de si ?

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Um abraço

Um abraço pode dizer que a mensagem não cabe nos versos
Pode fazer o triste por um instante sorrir, pode fazer o distante ficar perto!
Um abraço pode significar que não sou quem sou sem ter você aqui,
Que você me afirma mesmo nas sinuosidades que existem em mim.
Uma das lições que guardo na memória, que você ensinou
Que posso defender o acerto sem condenar a quem errou!
Um abraço pode me ensinar que mesmo em nossas diferenças
Podemos nos assentar sem grande medo, à mesma mesa!
Um abraço me transmite o afeto que eu pedi por muito tempo
Mas que nem me lembro da espera, neste ato sem segredos!
Neste abraço eu me perco, me repenso e me encontro
Porque vês o belo e o amor em torno do que me é torto!
Neste abraço, eu aguço meu afeto, a minh'alma à solfejar
Pode tranquilamente despedir-se desse solo e voar...

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Sombras nos tempos novos do cenário político

Assistindo ao primeiro debate do segundo turno, em 10-10-10, pude perceber que teremos quatro anos tenebrosos, se qualquer um dos candidatos alcançar a vitória. A verdade e que a maior parte da nação não se atentou que ambos os partidos, PSDB e PT, já ficaram no poder durante oito anos. Não há renovação de propostas para novos tempos que estamos vivendo. Exemplo de propostas que não poderiam ter ficado de fora na plataforma de governo dos partidos: Infraestrutura para o capital humano, Ampliação do ensino superior e da produção de ciência, Economia sustentável, Reduzir o nível de endividamento do setor público, Gestão estratégica dos recursos naturais não renováveis. Uma mesmice que faz beirar à perplexidade. Somente há ataques estratégicos e orquestrados de ambos os lados, explorando as vulnerabilidades. Para além de saber que isso “faz parte” do debate político, o que ganhamos com isso? Uma tremenda dor de cabeça. O que perdemos? A paciência e até mesmo um pouco da esperança, de que tudo poderia ser diferente. Parando para me questionar sobre a mediocridade dos candidatos, questionei a minha cidadania, questionei a nossa atitude de achar que a nossa participação se encerra nas urnas. A questão política não se resume apenas em um assunto isolado, como se ele fosse a salvação de todos os outros. Há cidadãos que defendam com unhas e dentes a não descriminalização do aborto, mas esquece que a vida deve ser defendida em todas as frentes e vertentes, desde a concepção, e toda a integralidade do desenvolvimento humano. Não adianta defender a vida, se não me atento aos desdobramentos da mesma, que exigem o seu cuidado: educação, transporte, saúde, etc... A questão política é muito complexa e abrangente do que nós pensamos. Abarca todas as dimensões humanas. Está na hora de pensar além-limites das estruturas partidárias vigentes. Há muita visão provinciana e romântica com relação ao PSDB e ao PT, tanto para o que deixaram de bom, quanto para aquilo que não foi tão proveitoso para a população brasileira. Os próprios políticos não possuem uma visão desenvolvimentista do legado que encontra: precisa desfazer e destruir tudo o que foi construído na gestão anterior, com justificação sofística de que não é útil para a população brasileira. Sua afirmação e segurança parece residir no apagar rastros da administração anterior. Urge uma formação política, tanto para candidatos, quanto para eleitores, que privilegie o desenvolvimento humano, em sua totalidade, a todo homem e ao homem todo. Não vou te apontar nenhum candidato, mas espero que a sua consciência e reflexão crítica, bem como sua memória, estejam bem apuradas para fazer uma boa escolha. Que não tenhamos visões infantis de que partido A ou B será o salvador da pátria, ou que candidato X ou Y erradique todos os problemas.

A minha infância

Minha infância, velha infância, os Tribalistas, já havia me avisado. Nem sempre é preciso levar a vida a sério, mas brincar é uma coisa séria. Quanto mais perto do lúdico, do inocente, daquilo que se faz sem cálculos, mas perto está do ser criança. Mas, saudade eu tenho do colo do meu pai, do colo da minha mãe. Das vezes que voltava machucado para casa e o olhar do meu pai me recebia curando-me. Das vezes que ia à escola e contava as horas de ver a minha mãe. Tramas da vida, dom de Deus e revelação da eternidade para uma criança aprisionada em minha forma adulta. Voltar aos bons tempos de não ver a hora passar com os amiguinhos, dar aquele beijo sem culpa na menina mais bonita do bairro. Empinar pipa vendo o teatro do céu mostrar que a tarde já se mistura com a noite. Dançar sem medo de se achar ridículo ou que me achem ridículo. Voar sem pressa de regressar ao meu solo, estar absorvido pela aventura da viagem que me retira do alvo da temporalidade. Queria estar submerso no universo humano, tanto quanto estive inundado ao brincar com aquele carrinho. Ah, saudade dos meus amiguinhos. A lágrima que agora caí vale toda a intensidade daquele momento que se passou e nunca mais regressará... O tempo que vivi está eternizado no coração, e esse mesmo tempo já não toca minhas íntimas lembranças. A criança sonha o tempo todo para ser adulto, para quando chegar, sonhar para voltar à mística de ser criança de novo. Entre a alma de adulto e o ser criança, há um longo caminho a se percorrer.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Aos [des] compositores

Compor é um parto, dor sem nome, sem lugar, que não sangra, arde. Compor é um prato de comida bem quente, daqueles teus favoritos, quanto à aqueles a quem não tem o que comer. O primeiro ato de composição é uma decomposição; tirar do abstrato e colocar em palavras a divina inspiração. O segundo ato de composição também é uma decomposição, no momento em que as palavras se desprendem do autor para ser realidade. O terceiro ato de composição, novamente é uma decomposição, a intenção de quem disse não vale tanto quanto a recepção de quem significa. O processo de composição é idêntico ao do viver: entre o silêncio e a palavra, a inspiração, entre a palavra e a ação, a razão. Sou partitura viva, uma parte de mim é som, outra parte de mim é silêncio, uma parte de mim é presença, outra parte de mim é ausência. Deus é o nosso primeiro compositor! Cria e continua criando, por isso continuaremos a criar, pois Ele nos criou e continua nos criando.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Cortesia em perigo

Cortesia, uma palavra que já cai em desuso. Na literatura medieval, a cortesia tem grande relevância. Surgiu no contexto da côrte, aristocracia e cavaleiros. O alvo da cortesia é sempre a mulher. O cavaleiro deveria honrá-la, defendê-la, e se preciso, dar sua própria vida pela mulher. O homem seria incapaz de se desenvolver sozinho, sem estímulo e o exemplo feminino, por isso deveria ligar-se a uma mullher que o incentivasse as grandes virtudes. Contudo, podemos estender esse jeito de ser a todo e qualquer ser humano, independente de partido político, religião, ideologia. Ninguém é tão suficiente, que não possa receber um afeto. Ninguém é tão carente, que não possa agir com cortesia. A cortesia não acontece por si mesma; o seu combustível é o amor. Quem tem cortesia, tem amor, e o amor prepara a pessoa para a cortesia. Cortesia é primeiramente pensar no outro antes mesmo de pensar em si mesmo, agradar as pessoas pela simples razão de serem pessoas humanas. Está muito longe do registro utilitário, onde todas as pessoas querem sair ganhando, pisando em alguém. A diferença na cortesia, é que as duas pessoas ganham, aquela que dispensa e aquela que recebe o afeto. Martin Buber, dizia que na relação Eu e Tu surge uma terceira: o Eu-Tu, que nada mais é do que o Nós. Toda relação tem os seus dois lados, é dialógica. O homem atual é extremo; ou vive em um profundo solipsismo, ou em um profundo coletivismo. Ambas as perspectivas anulam aquilo que ele possui de mais específico e peculiar: a identidade subjetiva. A cortesia é um verdadeiro corte no utilitarismo das relações; preserva as pessoas, mas ceifa profundamente o egoísmo e inaugura a primeira pessoa do plural: o nós. Com o nós, fica mais fácil de desatar os nós!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Credo quia absurdum!

Creio porque é absurdo! Esse era o mote dos pensadores no medievo, na Idade Média. A frase Credo quia absurdum é atribuída à Tertuliano, mas há sérias controvérsias. Há fontes que garantem que a frase não é de autoria de Tertuliano, mas de um de seus seguidores, mas até essa tese é questionável. O importante é ter em mente que nesse período entre séc. II e III, não havia nenhuma compatibilidade entre a fé, a razão e a cultura vigente. Ou o discurso se dirigia pela via da fé, do absurdo, ou o discurso se dirigia pela via da razão, sem maiores possibilidades de conciliação entre ambas. Em Fragmentos Filosóficos, Kiekegaard afirma que:" O escândalo está, pois, fora do paradoxo e por que causa? Quia absurdum. No entanto, a descoberta não é por causa da inteligência, já que, ao contrário, devemo-la ao paradoxo, que, apesar disso, recebe testemunho do escândalo. A inteligência diz que o paradoxo é o absurdo, porém ele não é senão um paradoxo, porque o paradoxo é sempre um paradoxo, um quia absurdum. O escândalo se encontra fora do paradoxo e conserva para si o verossímil, enquanto o paradoxo é o cume do inverossímil." Tirando o absurdo e o paradoxo, pouca coisa resta da fé e também da religião cristã. Tirando o absurdo e o paradoxo, iguala-se Deus e o homem, a mensagem se torna trivial e sem sal. Um exemplo? Abraão. Deus o convocou a sacrificar seu filho Isaac. No momento de desferir o golpe mortal, o anjo o impediu. O sacrifício já não era mais necessário e sim a prova de amor, o mergulho no tsunami da fé. Quem é capaz do martírio, do despojamento daquilo que considera de mais precioso nesse mundo, esse prova e justifica a fé e o amor ao Sagrado. Maria, que concebeu Cristo Deus em seu ventre. Diante da ousada proposta do arcanjo, sua fé inteligente questionou como se daria isso sem a intervenção humana? O arcanjo responde tranquilamente que a intervenção humana é o seu próprio sim, para que Deus realizasse, talvez, o maior de todos os absurdos possíveis: a encarnação de Deus no tempo. Em decorrência disso, surge outro gigantesco absurdo: O Deus humano se entregar aos homens por seus próprios pecados. Eleva os olhos ao Pai e grita que se possível que afaste o cálice de amargura e de fel que haveria de beber. Não foi impunemente: derramou seu sangue na cruz. O outro absurdo, um dos maiores, é que ressuscitou e vive entre nós, e que sua ressureição dura há mais de 2000 anos, bem mais do que todo o sofrimento que Ele passou. A vida seria sem graça sem os absurdos e paradoxos. Credo quia absurdum, amém!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A natureza, o vão e o amor

Para Aristóteles, há 4 causas (Aitia): Natural (Physis), Espontânea (Automaton), Fortuna (Thykhê) e a Arte (Tekhné). O estagirita não está tão preocupado com a física das coisas, mas com a gênese das coisas, um princípio, uma Arkhé, assim como os filósofos pré-socráticos. A palavra Physis sugere dinâmica do movimento, entre manifestação e ocultamento. Possui uma operação muito parecida com a Zoe, um movimento contínuo entre morte (thanatos) e vida (bios). A natureza tem um princípio[1] nela mesma, da mesma maneira que a semente é uma árvore em potêncial. A fortuna, o espontâneo e a arte não possuem princípio em si mesmos, como na Physis: “(...) quando algo vem a ser contra a natureza (para phusin), não dizemos que veio a ser por acaso (apo tukhês), mas pelo espontâneo (apo tautomatou)” (Física, 197b). Não há qualquer sinal de intencionalidade no espontâneo, que é diametralmente oposta à Physis. Não há também quaisquer traços de deliberação. Nos três itens, sempre há uma causa externa provocando uma operação de movimento. A arte tem a função de imitar a natureza e a fortuna pode ocasionar erro na intenção do indivíduo. Uma questão importante se impõe: Porque explicar causas exteriores à natureza?Porque é preciso reconhecer o que está imperando na natureza para que haja um entendimento da realidade. Se analisarmos a sociedade hodierna, notaremos que ela está altamente mecânica, robotizada, ausente de pensamento crítico. Essa mecanização, automação faz com que o homem se desvie de sua verdadeira natureza. É isso que abre espaço para o mal involuntário, já que seria anacronismo considerar a existência de um mal absoluto, quando consideramos o mal metafísico como uma privação, carência de ser. Pelo distanciamento de sua verdadeira natureza, gênese de todos os males, o homem vai se tornado vão. O vão simula a natureza, é anti-natural e não possui finalidade estabelecida, é arbitrário. Se há um destino (moira) no homem, não é a infelicidade, mas o contrário: a felicidade. A finalidade da ação humana é o bem: “ (...) são (por natureza) todas as coisas que, movidas continuamente (sunekhôs) por um princípio nelas mesmas (en autois arkhês), chegam a um acabamento (telos)” (Física, 199b). O contrário de vão, é aquilo que é necessário, portanto, possui o princípio de movimento em si, e tende a um fim determinado, como podemos constatar as coisas naturais e a matemática, como afirma o Estagirita: “O necessário (anankaion) é de certo modo similar nas matemáticas e nas coisas que vêm a ser pela natureza (kata phusin)” (Física, 200a). O que é vão, pode impedir aquilo que é necessário, o que é arbitrário e sem finalidade pode impedir aquilo que pode ter uma finalidade. Uma pessoa marcada pelo vão[2] não sabe discernir o que realmente é necessário. Então, o que faria o homem regressar à sua verdadeira natureza? O vão interrompe o movimento, pois não tem finalidade própria. A justiça (diké) não interrompe o movimento, pois está diretamente ligada à natureza (physis). A justiça é a manutenção do movimento da natureza. De certa maneira, o amor e a pobreza retomam a necessidade da verdadeira natureza humana. No Banquete[3] de Platão, promovido por Agaton, Socrates afirma que o amor está inscrito na natureza (physis), e longe dele, o indivíduo se distancia da sua natureza, distanciando-se também se sua felicidade. E aquilo que distancia da natureza é o apego desordenado à riqueza, que é oposta à felicidade. O amor[4] está intimamente relacionado com o desejo (epithymia), pois o amor é mantido na medida em que se reconhece as carências do desejo. Quanto mais distante do objeto desejado, maior é o desejo e as suas carências. Aqui está uma profunda relação entre o conhece-te a ti mesmo socrático e o amor: é preciso desvelar-se o tempo todo para não se distanciar da verdadeira natureza humana. Referências bibliográficas ARISTÓTELES. Física I-II. Tradução, introdução e comentários de Lucas Angioni. São Paulo: Editora UNICAMP, 2009. PLATÃO. Banquete, in: Coleção Os Pensadores, São Paulo, Abril Cultural: 1979 Ramalho. A.C Aristófanes. Pluto (A Riqueza), Brasília, Ed. UnB, 1999. [1] “Esse fazer o princípio da mudança (METRÓPOLE) e do movimento (KINESIS) o fazer causa a geração (GENESIS) ao mesmo tempo que provoca a corrupção / sedução ” (Geração – Corrupção, 336ª) [2] Se um ato está impossibilitado por algum motivo, a paixão (PATHÓS) fica presa no corpo e trava-se o movimento. Esse é o mal / pecado (KAKOS) [3] Banquete: Incomium (latim), Symposium (grego) [4] Em Pluto, Aristófanes define o amor como complemento e no Banquete, Socrates define o amor como suplemento, pois para o filósofo, o amar gera carências, em decorrência daquilo que se deseja.

Entre a crítica e o elogio

Você sabe aceitar uma crítica? E um elogio? Há quem encare a crítica como uma oportunidade de crescimento. Há quem encare como uma grande ameaça. Há quem considere que sempre precisa melhor, há quem considere que atingiu a plenitude daquilo que se pode ser e fazer. O fato é que as pessoas ainda não sabem lidar com a crítica, muito menos com o elogio. Quando criticadas, podem chegar ao máximo do complexo de inferioridade, quando elogiadas, podem chegar ao cume do complexo de superioridade. Bestas ou bestiais? Ignorantes ou gênios? Não há ninguém que seja totalmente bom, nem ninguém que seja totalmente mau. A crítica não é boa, nem ruim em si mesma, como o elogio também não é bom ou ruim em si mesmo. Depende do emissor e muito mais do receptor. Crítica e elogio trazem ensinamentos: na crítica, sempre há o que melhorar e não caia nas armadilhas da imaginação achando que você é a pior pessoa do universo, no elogio, continue progredindo, mas não se considere muito além da conta. Não há ninguém que seja tão triste, não há ninguém que seja tão feliz. Estamos na intersecção entre virtude e vicio, plenitude e ausência. Que estranha tendência temos de se apegar aos extremos! Excessos e carências, abundãncia e miséria, serenidade e inquietação: a virtude está na justa medida.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Palavra agonizante

A palavra já teve valor muito maior no passado do que na atualidade. Não havia a necessidade de contratos, reconhecimento de firmas, o que era dito, era cumprido, era questão de honra. Palavra dada era a própria confiança encarnada. Hoje, a palavra antes de ser dita, já vem encerrada com seu respectivo prazo de validade. O que digo hoje, não cumpro amanhã. Mas também não sigo a risca, depende do momento, da pessoa, das possibilidades, das conveniências. A palavra na boca dos pós-modernos nasce agonizante. Mas não morre prontamente para demonstrar que é meia verdade. Que se junte todas as meias verdades e saberão que não completarão a verdade inteira. A verdade omitida é a gênese da mentira. Jogo com o outro batalha naval, armo estratégias, invento armadilhas, passo maquiagem na ferida para soar estético. De uma fala doce, de um rosto angelical pode ser destilada a mentira bem mais contada que os homens puderam ouvir. Hoje, a dignidade da palavra está pra lá de comprometida, está condenada. Minha palavra já se transformou em ação para salvar o nexo causa-efeito da palavra. Quem sabe, eu possa cumprir muito mais do que prometi, quem sabe possa fazer com que a minha ação seja mais significativa do que as minhas palavras, fazendo com que elas recuperem a antiga credibilidade de outras épocas. A surpresa irá se instaurar quando conseguir dizer mais com atos do que palavras o que pensei em dizer em palavras. Recupera-se o valor da atitude, devolvendo a preciosidade e limpidez da palavra proferida.

Viver para conviver, existir para coexistir

Não tenho pressa de escrever. Não tenho pressa de doer, de passar pelas dores da palavra nascente da solidão silenciosa. O conteúdo daquilo que escrevo vem da vida, e o material que ela me fornece é infinito. Mas sempre quero o fim e não o processo. Chego ao fim, mas nem um pouco parecido com aquilo que idealizei. Chego a conclusão de que fui mais feliz no desenvolvimento da rota do que propriamente em sua finalidade e chegada. Ignoro, então, a finalidade da estrada? Tolice. Digo que há um sentimento próprio no preparativo, que não há na chegada, e vice-versa. Trago romantismos que merecem serem expurgados com o impacto da vida real, outros levo para que essa vida não seja tão pesada quanto parece ser. Palavra nasce na dor, nasce no parto, vicejante de silêncio. Meu argumento é a vida e é isso que o torna imbatível e irrefutável. Nada mais urgente do que viver para poder conviver, existir para poder coexistir. Preciso de você para conviver e preciso de você para coexistir, mesmo na diferença. A única pressa que urge é a de não ter pressa, para vivenciar, saborear a boa compania, o bom livro, a boa música, a boa arte. O silêncio gesta palavras e canções, inebria corações sedentos de amor. Que eu nunca me omita de falar sobre o humano e suas contradições, seus amores e suas dores, seus dilemas e certezas, sua fé e sua descrença.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Amizade em Cícero

No universo grego, amizade equivalia mais a uma solidariedade política do que relação afetuosa entre pessoas. Para Cícero, a amizade reúne em si mesma uma abundância de bens; para onde for, você a encontra; em parte nenhuma ela é excluída, jamais é inoportuna, nunca é incômoda, de maneira que não nos servimos tanto da água, nem do fogo, quanto da amizade. Cícero enumera 12 regras básicas para a amizade, que foram concebidas no contexto de desavenças civis que impunham opções existências. São elas:

1-) A amizade é um fato natural

2-) A amizade pode existir somente entre sábios-virtuosos

3-) A amizade é superior ao parentesco

4-) A amizade é gerada (e preservada) pela virtude

5-) A amizade ilumina e alegra o futuro

6-) A amizade não é fundada nem no prazer nem na utilidade, mas no amor

7-) Aos amigos não é permitido pedir favores contra a moral

8-) Com os amigos deve haver “comunhão de cada coisa, de pensamentos e de vontades, sem qualquer restrição”

9-) Ao fazer amizade é preciso prestar muita atenção de modo que “não comecemos a amar alguém que um dia talvez cheguemos a odiar”

10-) Mas, se por qualquer infeliz e inevitável motivo, fosse preciso desfazer as amizades, então devem ser dissolvidas “soltando pouco a pouco as relações.”

11-) A amizade se funda na verdade, por isso, entre amigos são de dever admoestações e repreensões

12-) A força da amizade “consiste nisso, fazer com que muitas almas se tornem quase uma alma”.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O prazo de validade das relações contratuais humanas

Sou um ser em constante busca. Na busca me encontro, me conheço, me reconheço, na busca também me perco e desisto. Insisto com coisas, circunstâncias, pessoas, amigos, desisto de coisas, momentos e pessoas. Ora insisto comigo, outrora me demito. Contrato-me novamente. Assim também faço com as pessoas: busco, encontro, conheço, aprofundo, amo, odeio, fico perto, fico longe, sinto saudade, sinto sufoco, sinto alegria, sinto tristeza, choro não sei de quê e nem por que. Demito pessoas, contrato indivíduos. Minhas relações mais parecem contratos com prazo de validade a vencer. Renovo se me convém, descarto se não posso tirar mais nada dali. Vivo avaliando quem me interessa, até mesmo quem não me convém. Estabeleço tábuas de valores para coisas e pessoas a partir daquilo que elas podem me oferecer e acrescentar. Até digo que isso é ter princípios, que é ter berço, que é ter educação. Digo até mesmo que as religiões ensinaram isso. É a famosa lei de Gerson que preconiza que de tudo é preciso tirar vantagem. O prazo de validade das relações perdura de acordo com as possibilidades de cada qual. Todos nós somos culpados, até mesmo quem vos escreve. Em tempo de Brunos, de Macarrões, Bolas, Elizas, é tempo de repensar as relações que queremos para nós. Amigos gratuitos ou úteis... Namoros de fins estéticos ou de corpo, alma e coração... Casamentos fabricados com pensões já previamente determinadas ou daqueles que uma vida ainda é pouco para serem felizes e viverem tudo o que é intenso nessa vida. Relações como estas estão na ponta da caneta, mas longe do coração!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Angústia: um passo para o suicídio, um passo para a realização

Angustia-me querer ser alguém. Angustia-me o fato de que não sou aquilo que gostaria. Entre o que fui, o que sou e o que serei há uma linha coerente que interliga passado, presente e futuro. Estou inteiramente tecido nesta costura existencial. Mas essa linha coerente da existência é descontínua, muito semelhante a dinâmica da respiração e das batidas do coração. Intervalos fortes e brandos que vão se sucedendo e que se renovam sem deixar de se enternecer. Sou tecido de possibilidades reais e possibilidades potenciais, consolidação daquilo que foi possível, que ainda não passa se uma mera possibilidade. Entre a presença e a ausência do ser, emerge a angústia. Escolhas, hesitações e indecisões fizeram com que eu fosse o que fosse para ser o que posso ser. Que escolhas são escolhas, isso é evidente. Mas que hesitações e indecisões também são maneiras de escolher, isso já não é tão claro. Kierkegaard dizia que a angústia surge das possibilidades. A escolha é escolher uma coisa e negar a outra. Traz uma dialética do que se escolheu e daquilo que se rejeitou. Na indecisão, de certa, maneira, opto pela paralisia no processo de escolher. Sou a escolha que faço, que traz em seu contrário aquilo que rechaço. Escolho da mesma maneira de como sou escolhido. Angustio-me ao escolher, angustio-me ao ser escolhido. Não se escapa da existência sem passar pela angústia. Por isso é que muitos chegam ao suicídio, pois não souberam lidar com a angústia. Quando muitos optaram pelo suicídio, fizeram por escolha e também por fuga de outras escolhas, dilemas sempre presentes. Isso é angústia ao quadrado. O deserto da angústia é um evento universalizante. É seguir escolhendo, passando por angústias, mas escolhendo autenticamente o que vale a pena na vida. Talvez, uma brecha para pensar a realização humana esteja diante de nós.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Solidão digital

Especialistas dizem que estamos diante do século da solidão, do século da depressão. As pessoas ainda que aglutinadas, sofrem de profunda depressão e avassaladora solidão. Antigamente, as pessoas até tinham motivos para ficarem tristes, e hoje parece que não precisam de motivos. Parecem ser ‘naturalmentes’ tristes. O quanto essa excessiva utilização de orkut, msn, twitter, skipe e afins nos desviaram do encontro com os outros. Vejo isso no ambiente de trabalho: pessoas que estão ao lado, não se olham e não se chamam na realidade, mas somente via skipe e afins. Tudo em nome da praticidade e da modernidade. Vemos surgir a olhos vistos uma nova modalidade de viciados: os viciados digitais. Mas um extremo para mais sempre vem acompanhado de um extremo para menos: os analfabetos digitais. Viciados digitais: aqueles que já não vivem sem acessar seu email, orkut, etc… Analfabetos digitais: aqueles que foram excluídos, jogados à margem da cultura dos computadores, e quase sempre identificam-se com as classes mais pobres da sociedade. O mundo virtual também permitiu que as máscaras das pessoas ficassem bem mais refinada do que antes, pois quanto maior a fragilidade, mais simulada (ou dissimulada?) é sua ‘presença’ e máscara. Poli-personalidades para somente uma vida possível. Tentáculos para seduzir, malabarismos para aparentar uma miragem que se esvanece com uma simples brisa. Nem tudo que reluz é ouro, mais sei que quando a verdade brilha, quando a sinceridade vem à tona, rompe as trevas abissais das humanas dissimulações. Tudo em nome do Eu. Mas onde reina a subjetividade exacerbada, há o próprio estilhaçamento dessa subjetividade. A solidão que era digital, que era meras combinações de bits, passou a ser real e devoradora de humanos.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Orlando Fedeli, o professor apologista da fé e crítico da modernidade

Tive algumas aulas com Orlando Fedeli, fundador e presidente da Montfort, que muito bem me recebeu em sua casa, entre os anos de 2005 e 2006. Muito me ensinou e muito ensinou a tantos. Tinha alma de educador e erudição refinadíssima. Um excelente historiador e como poucos. Tinha uma perspicácia viva e aguda, com refinado senso irônico e humorístico. Um dos últimos apologistas da fé cristã nos tempos atuais, em tempos de relativismo ético, moral e religioso. Um dos últimos criticos brasileiros da modernidade. Amante ardente da Idade Média, principalmente da Filosofia Patrística e Escolástica, época essa acusada, anacronicamente, de ser a "Idade das Trevas", o professor foi uma das minhas motivações para que iniciasse uma iniciação científica e TCC em Tomás de Aquino. Talvez, aqui no Brasil, ele era o mais contundente professor e cristão contra a ditadura do relativismo, denunciada pelo cardeal Joseph Ratzinger, hoje Bento XVI. Era um dos baluartes na defesa da missa tridentina no Brasil e deixa um legado muito considerável, na qual todos os que se dizem católicos deveriam tomar notar. Deixa um profundo ensinamento que os fiéis leigos estão convocados a se qualificarem cada vez mais na palavra de Deus, na tradição e no magistério dos papas. Mesmo não concordando com alguns de seus posicionamentos, não deixo de dizer o quanto ele foi importante para minha caminhada cristã, e a tantos jovens, almas caras, que levou ao cristianismo. Na tarde do dia 09.06.2010, recebi a noticia com profunda tristeza e perplexidade, que nos auge dos seus 77 anos, o professor Orlando voltou a casa do Pai das Luzes. Que Deus, a Suma e Eterna Verdade, seja o seu prêmio! Que o Senhor não leve em conta as suas misérias, mas o abrace em sua misericórdia infinita! Que receba a coroa imperecível daqueles que lutaram em favor de Deus, da Igreja Católica Apostólica Romana. Meu abraço fraterno a familia, aos membros e amigos da Associação Montfort. Lanço um hino de gratidão ao Criador pelo dom da tua vida, que continuará em Deus. Em suas finalizações de respostas no site Montfort, sempre escrevia "In Corde Iesu, semper". Descanse em paz, In Corde Iesu, semper, destemido professor!

terça-feira, 8 de junho de 2010

E o apartheid ainda não cessou...

Uma copa do mundo não demonstra somente aspectos relacionados ao futebol, mas revela ao mundo as peculiaridades da cultura do país-sede. No caso da África do Sul, olhando suas páginas históricas, como não se deparar com o Apartheid? O Apartheid, que na língua africâner significa "separação", representa uma história de segregação entre "brancos" e "negros". Uma política de segregação racial que foi implementada como lei. Os negros, que representavam cerca de 70% da população nativa, eram proibidos de votar, eram preteridos de inúmeros empregos. O poder estava nas mãos dos "brancos", 30% da população nativa, que detinham muitos privilégios em detrimento da maioria da população local. Dentre as diversas proibições que o Apartheid asseverava, estava a proibição de casamentos entre negros e não-negros, imposição da declaração racial como "negro", "branco" ou "mestiço", proibição de pessoas de "raças diferentes" de frequentarem as mesmas instituições públicas, retaliações na educação das crianças "negras", criação de 'pátrias' para os negros. O que está por trás dessa idéia de segregação do Apartheid é a falsa concepção da superioridade das raças, tema muito ligado à idéia de raça pura, ariana do nazi-fascismo europeu, no intervalo entre a 1º e a 2º guerra mundial. Como no nazi-fascismo, muitas vidas tombaram, muito sangue foi derramado para que enfim, se chegasse ao fim. Como de toda luta, sempre há um lider que encarna o espírito de resistência, surge Nelson Mandela, que tinha sido condenado à prisão perpétua por se posicionar contra a política de segregação racional. Em 1973, as Nações Unidas lança o texto de supressão ao crime do Apartheid, condenando toda e quaisquer políticas que fomentem a segregação racial. Em 1976 ganha força, mas somente com a eleição de Mandela em 1994 que o Apartheid oficial chega a um termo, onde a constituição foi totalmente reformulada. Mas não há como negar que essa política segregacional deixou marcas profundas na sociedade e na cultura sul-africana. Para se ter uma vaga idéia sobre a problemática, ainda é muito delicado falar abertamente sobre o tema no páis. Ainda há muitas ilhas de apartheid. Na vida prática e no sub-mundo da cultura, há ainda inúmeras situações de preconceito, discriminação e racismo, mesmo que hoje, os "negros" tenham chegado ao poder. E os conceitos de preconceito, discriminação e racismo são distintos, mas ligados ainda à infeliz raiz da raça pura. No mundo inteiro há vários apartheid's, como no Brasil, a escravidão informal anda solta pelos recônditos de nossa terra tupiniquim. Só o fato da copa ser em terra sul-africana, já é uma conquista relevante para a consolidação da abolição definitiva do apartheid. Que a copa na África do Sul, ainda que esse motivo possa ser raso e superficial, possa ser causa de verdadeira transformação social, cultural. E, na verdade, já está havendo uma transformação progressiva, pelo andar progressivo da história e a atual orientação política sul-africana. Somado a esse esporte, que já uniu tantas vezes a tantas nações diferentes, acho que podemos ter ainda mais mudanças. Mas, ainda há muito o que fazer, e informalmente, o apartheid ainda não cessou...

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Um na África no Sul, outro em Brasília

Um país, muitos corações, uma esperança no mesmo grito de gol. O Brasil para a Copa, seja na copa, na sala, no quarto, não importa. É tempo de catarse, de esquecer a dura rotina da realidade, esquecer as diferenças para que possamos ser iguais em pelo menos uma coisa: como povo brasileiro. As ruas pintadas, as caras marcadas de verde e amarelo representam um povo, uma nação, que não foge a luta, que adora a própria morte porque enfrenta o embate do sobreviver, pois tem sede de viver. Uma pátria de chuteiras e quase 190 milhões de técnicos com infinitas combinações de escalações de seleções. Múltiplos corações que se transformam em um só coração, uma só alma e um só sentimento. O esporte, mais precisamente o futebol, tem esse condão de unir as mais diferentes cabeças, as mais diferentes raças, credos, ideologias. Desarma os homens das armas e das palavras. Torço pela seleção brasileira, mais torço mais pelo povo brasileiro. Que seja um momento de união, mas que não se esqueçam que logo haverá eleições. Todavia, enquanto torcemos, na calada da noite, sempre há um projeto aprovado que acaba favorecendo os imunes políticos em detrimento do povo. Todas as grandes revoluções sempre partiram do povo. Por isso é um olho na África do Sul e um olho em Brasília.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Diagnóstico de época da Filosofia

Há alguns que defendam que a Filosofia tem se transformado em uma História um pouco mais especializada e requintada. Há outros que defendem que não há nada mais a ser descoberto na Filosofia. Há outros que advogam pela tese de que a Filosofia ainda é uma mina de ouro a ser explorada. São três correntes que circundam o ambiente acadêmico-filosófico no Brasil, creio que também em âmbito mundial. É certo que fazer Filosofia, sem olhar o seu transcorrer histórico, é um anacronismo gigantesco. O filosofar se faz por uma relação de concordância, por uma relação de crítica, ou até mesmo por uma relação de indiferença. Na relação de concordancia, há a relação de conformidade, onde o individuo concorda plenamente com a tese do autor, mas sem estabelecer quaisquer ressalvas. Na mesma relação de concordância, o indivíduo também pode ir mais além do que uma mero consentimento filosófico; pode aprofundar a questão estudada, no que pode resultar em novas problemáticas a serem tratadas, que poderão emergir um novo conhecimento. Na relação de crítica, há aqueles que desferem uma crítica voraz, mas o fundamento de seu argumento é inconsistente. Daqui, somente a possibilidade de saber que a crítica foi ou mal elaborada, ou viciada, ou anacrônica, ou mal intencionada. Na mesma relação crítica, a crítica que se impõe sobre uma questão filosófica., se que preocupa em examinar a fundo todas as variáveis envolvidas, e que identifica os furos de idéias e argumentações, argumentos tautológicos e falaciosos. Se preocupa não somente com a formatação lógica da argumentação, também a consistência real da idéia que está sendo tratada e trabalhada. Na relação de indiferença, ou a pessoa ainda não entrou em contato com a obra, e ainda não pode emitir quaisquer considerações acerca da mesma, mas que ao tomar contato com a obra, se interessa, e daqui surge novos questionamentos, novas problemáticas e novas soluções, em maior ou menor abrangência, ou o indivíduo que já se debruçou sobre uma obra, é indiferente a questão, pois concebe que ela é desnecessária e então com sua indiferença pedante, dá um ‘ponto final’ . Deixemos a indiferença na indiferença, pois a Filosofia é construída por relações reais e concretas. O que consigo constatar é que, na postura de concordância e de crítica, tem se pautado muito mais por comentários do que por novas descobertas. As poucas novas descobertas que identifico na Filosofia, tem-se caracterizado mais por descobrir influências de um autor X no autor Y. Mas arrisco em dizer que das áreas que tem dado contribuições significativas para a Ciência é a Filosofia da mente. Será que todo conhecimento filósofico deve ser mesmo ‘útil’? Será que todo conhecimento filosófico deve ser ‘inútil’? Se o conhecimento filosófico deve ser estritamente ‘útil’, então, a Filosofia se reduziu à Epistemologia. Se o conhecimento filosófico deve ser estritamente ‘inútil, então, a Filosofia se reduziu à Estética. Penso que a Filosofia não pode deixar de ter a sua dimensão ‘útil’ e ‘inútil’, tampouco pode deixar seu horizonte histórico e atual. Não deve reduzir-se a História, nem esquecer seu passado. Não deve resumir-se na atualidade, nem rechaçar o que é atual. Não deve reduzir-se ao utilitarismo, mas deve ser útil a humanidade. Não deve resumir-se em conhecimento ‘inútil’, mas esse tipo de conhecimento deve ter seu espaço. É essa interdisciplinariedade filosófica, essa trama bem elaborada entre as disciplinas filosóficas, é que faz com que a Filosofia seja tão fascinante, mantendo durante o tempo seu elã sedutor.

domingo, 16 de maio de 2010

Meu primeiro violão

Meu primeiro violão, a ti dirijo essa especial saudação! Tu que me encontraste quando eu nem mesmo sabia te manusear, tu que me aturaste com os meus titubeares, tu que presenciaste o brilho do meu olhar ao te ver pela primeira vez! Sonho de um menino, sorriso de um adolescente, o céu desceu a terra quando eu pude te tocar, mas acontece que tu me tocaste primeiro do que eu. Dedilhaste as cordas de minh’alma antes mesmo que eu te dedilhasse, teceste uma canção em meu coração, antes que qualquer melodia surgisse das entranhas do meu ser. O quanto da minha canção ainda está presa em ti para que o meu canto torne leve o caminhar. Levei-te para restaurares, mas reformaste a minha vida muito antes e só agora eu vim saber. O que seria de mim, triste vida, se não tivesse você ao meu lado para espantar a solidão, para aquecer a lareira do meu coração nos dias frios? Quando te toco, tenho a suave sensação de que tocas em mim, assim, tu ganhas um coração e eu me transformo na sua mais viva canção. Sei que minhas parcas palavras não compreendem a imensidão de tua grandeza. A tua arte me mostrou a face mais preciosa da vida, o teu horizonte me fez desbravar caminhos que trilho hoje que nem podia imaginar que um dia eu viesse a trilhar. Eu ainda sigo sem te compreender, mas o quanto que o teu compreender de mim, ainda me lança ao infinito da verdade da canção, da beleza da poesia e no altar da arte. Nasci para reverenciar esse mistério, estou imerso nesse abismo. Meu irmão violão, eu ainda não te possuo, tu é que possuis a mim!

sexta-feira, 14 de maio de 2010

As imbricações entre consciência e linguagem em Nietzsche

Tomando o aforismo 354, do “gênio da espécie” que pertence ao livro “A gaia ciência”, para Nietzsche, poderíamos viver muito bem sem a consciência, pois para o filósofo, para pensar, sentir, querer, recordar, bastaria a ação. O homem pré-histórico pôde muito bem viver sem precisar da consciência. O questionamento fundante é esse: Para que então consciência, quando no essencial é supérflua? Resposta: a consciência está atrelada à questão da necessidade de comunicação, da linguagem. Mais especificamente, a consciência tomou o estatuto que tomou, devido a essa pressão da necessidade de comunicação. Os animais não necessitam de uma consciência. Ela teria se desenvolvido no relacionamento entre as pessoas, não seria realmente fruto de uma verdadeira necessidade natural, teria sido forjada, seria uma necessidade ilusória e artificial. Nietzsche vai criticar duramente a Gramática, denominando-a de ‘metafísica do povo’. A relação entre consciência e linguagem, de certa forma, se desenvolveu a partir da dialética senhor-escravo. A moral dos senhores tem como ponto de partida o sentimento de distância, de superioridade. A moral dos escravos tem o seu fundamento na perspectiva da igualdade e da fraqueza. Os senhores criam as suas próprias tábuas de valores e os escravos como auto-defesa, oferecem sua ‘obediência irrestrita’. Os valores do senhor são confirmados a medida em que o escravo se deixa maltratar. Para Nietzsche, qualquer ato humano que passa pela consciência é uma ‘terrível obrigação’ que por muito tempo comandou os homens. O pensar consciente é a fatia mais rasa do homem, pois encarna-se em palavras, desvelando a sua gênese e relação com a linguagem humana. A consciência é uma tentativa do conhecimento de si mesmo, que no fundo é uma crítica de Nietzsche a Sócrates e a toda tradição filosófica ocidental. Para o filósofo em questão, a consciência tem uma faceta despersonalizante do individual, fazendo com que as peculiaridades do indivíduo se dissolvam. A percepção do mundo como um todo é rasa e superficial. O que conta é a perspectiva única e individual de cada homem. Neste registro, não há verdades absolutas, mas infinitas interpretações sobre infinitos universos. Cada perspectiva pode ser mais ou menos abrangente, mas, em geral, são imperfeitas, não-absolutas e complementares. Se pudermos falar em uma ‘objetividade do conhecimento’ em Nietzsche, essa tem como mote o alargamento das perspectivas e interpretações. Não se trata de um conhecimento linear, tampouco um conhecimento acumulativo. A consciência é uma doença contagiosa para Nietzsche, que também acusa a compaixão de ser uma doença da civilização européia que levaria a um novo budismo e ao niilismo, na primeira dissertação da Genealogia da Moral. Nietzsche não trata sobre a dialética entre sujeito e objeto, fenômeno e coisa em si, já que está mais interessado em implodir todas as dicotomias, como a verdade-falsidade, o bem-mal, o sujeito-objeto, a aparência-realidade. O conhecimento passa a ser utilitário, já que, segundo Nietzsche, não temos nenhum órgão que nos permita o conhecer, de certa forma. A validade do conhecimento será medido pela perspectiva de que se ele é realmente útil para os homens.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Passo inteiro, olhar agudo

Caminho. Faço a tarefa de dar cada passo. A estrada é longa, eu bem sei. Mas em cada passo há um mini caminho a ser percorrido. Em cada passo, o horizonte parece que fica mais próximo, mas revela outros horizontes. Resposta para minha pergunta traz outras perguntas, cujas respostas trarão mais perguntas. Entre pergunta e resposta, somente um coração e a angústia de sobreviver. Viver é belo, o sobreviver que é angustiante. Dilacera, corta a carne mais profunda da alma. A lágrima que escorre dos meus olhos é o sangue dessa carne da alma. A estrada é feita por passos que são micro- caminhos. Quem insiste em desconhecer os riscos de um passo, tampouco será digno dos riscos e da glória da estrada toda, conjunto dos pequenos passos. Em cada passo eu me fio e me afio, me penso e repenso. Em cada passo, misturo o caminhar e o repouso, a vida e a morte. Melhor ser o passo inteiro do que a estrada percorrida pela metade. Em cada passo, passo e me repasso. Que há de bom nisso? O meu auto-conhecer, o conhecer o mundo. Já que terei que me suportar pela vida inteira, nada mais justo do que me conhecer, conhecer como lidar melhor comigo mesmo. Para isso, é preciso saber olhar. Quantos lançam os seus olhares e não veem. Quantos lançam os seus olhares e não enxergam. Não é preciso mais tempo, pois o tempo está aí, é uma correnteza atemporal que é oferecida a todos. Que sofisma mais mediocre é esse de não ter tempo! É preciso vagar, é preciso disponibilidade. Ter um momento para sentir-se gente, ser humano, é tão salutar quanto ter um momento para a alimentação. Um olhar adentra a intimidade mais íntima de alguém. Porque ter medo de se olhar? Será o medo de se encontrar ou será o medo de se perder? O relacionar-se consigo é desdobramento do relacionar-se com as demais pessoas. Tente olhar para alguém sem maiores pretensões; verás um olhar se desviará do seu. Pode ser medo, pode ser indiferença. Se for medo, ainda sim é um tipo de relação que se estabelece que tem jeito de reversão. Se for indiferença, bem... a pessoa indiferente estabelece ao ser real a sua mais completa negação de ser alguém. Simula a não-existência de um ser real. Talvez também simule consigo mesma essa relação. Talvez negue a si próprio a possibilidade de refletir sobre si mesmo, sendo indiferente a essa possibilidade e, por efeito cascata, se alastra no lidar humano com as pessoas. O que falta é passo inteiro, olhar agudo!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Confissões pós-modernas em versos de melancolia

Inadequado, sou inadequado
Nesse mundo pós-moderno
Vivo para me adequar.
Saudade do que? Eu não sei...
Sou a perda do que se foi
E a ausência do que não é.
Meus caminhos descontínuos
São vertigens na madrugada
Estou entre as intermitências
E as reticências da vida.
Puro fluxo, carne inteira
Afio minha humanidade
Na navalha da realidade
Sangra todo sentido e dor.
Esses caminhos sem volta
São labirintos obscuros
Espaços tão inexplorados
Quando o espaço sideral.
Navego em mares virtuais
Enormes tsunamis digitais
O mouse vira minha prancha
e a tela meu horizonte.
Sempre com alguém vou
Mas quase sempre tão distante
Estou presente e sou ausente
Já nem sei mais quem sou.

Da competição à leveza nas relações

Quando se trata de relações humanas, não se pode muitas coisas objetivar, pois o relacionamento humano não é uma ciência exata. Contudo, se podemos falar em universais na filosofia do relacionamento humano, esses universais, ou seja, características presente em todos os homens e em todas as suas relações, são os seus acertos e seus erros. Penso que é um discurso vazio falar sobre ‘se colocar no lugar do outro’, ou falar sobre compaixão, ou até mesmo sobre amor, se não levarmos em consideração essas duas importantes características. O fato é que ninguém está isento de acertar e de errar em uma relação. Mas se você acertou uma vez e errou uma vez, o que fica mais marcado é a vez que você errou. Isso é uma das consequências da produção em série, mecanizada, que também afeta as relações. Mas até mesmo quando se acerta, parece que não fazemos mais que a obrigação. Igualmente um desdobramento da mecanização que se estende nas relações humanas. O que nos motiva a acertar, apurar e melhorar em uma relação humana? O que nos motiva a errar, a romper, a ficarmos indiferentes em uma relação humana? Se foi sem querer, se não foi por intenção, quando dizemos ou fazemos algo que alguém não assimila bem, é bom que fique claro que a intenção acaba perdendo a sua força, diante do que ocorreu. A ação traiu a intenção. Que atitude tomar? Uma boa conversa, olho no olho, colocando todas as cartas na mesa. Eu disse todas as cartas. Uma coisa fundamental é que não se ignore as diferenças. Que não se coloque panos quentes pensando que se apaga uma situação conflituosa que ainda borbulha. As diferenças existem e são reais. Ao mesmo tempo, que não se absolutize as diferenças, com a pretensão de que só a sua diferença faz a diferença, e o outro tem que engoli-la guela a baixo. A pedra de toque é que as diferenças são que nem quebra-cabeças: com paciência e persistência, achamos o encaixe da nossa diferença com o outro. E que aquilo que é comum, que não seja superficial; foi feito para ser aprofundado, cada vez mais. Usar de transparência, falar o que sente sem que isso fira alguém, e ao mesmo tempo, nos alivie interiormente é um enorme desafio. Falar o que sentimos é mais fácil do que escutar o que os outros sentem. Quem será o primeiro a pedir truco? Alguém dirá: 6, o outro: 9 e o outro: 12. Chegaram ao 12, mas ainda estão no 1 a 1 e todos querendo ganhar. Mas não terão consciência de que é preciso desarmar-se, despir-se do espírito de competição e embriagar-se do espírito de colaboração, de entendimento mútuo, colocando na mesa os acertos e erros e pensar por onde recomeçar e evitar que esses erros aconteçam novamente. O conceito de felicidade anda mesmo deturpado... . Parece que a felicidade deve ser alcançada, mesmo se for preciso pisar nos outros, mesmo que seja apesar dos outros. Olhos nos olhos, e sobre a mesa, conjugamos os verbos acertar e errar, em todos os tempos e modos verbais, descobrimos que isso é mais comum do que imaginamos, para que assim, as relações humanas nos tragam mais leveza, alívio. Assim, é possível falar sobre amor, gratuidade, compaixão, sem ingenuidade ou ilusão, mas com maturidade irrefutável. Alguém ainda vai querer trucar?

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Malandragens, resistências e sabotagens no ambiente empresarial

Na implantação de sistemas ERP (Enterprise Resource Planning), Sistemas Integrados de Gestão Empresarial é uma integração das áreas de finanças, contabilidade, recursos humanos, fabricação, marketing, vendas, compras com ênfase sistêmica: sistema de processamento de transações, sistemas de informações gerenciais, sistemas de apoio a decisão, há questões de diversas naturezas que precisam ser pensadas para que o ERP atinja a máxima performance e eficácia, como por exemplo, infra-estrutura tecnológica, metodologia de desenvolvimento dos trabalhos, ferramentas de suporte ao projeto, estratégia de implantação, entre outros. Porém, um ponto que pode fazer uma grande diferença neste processo são as pessoas que compõem a equipe do projeto. A equipe deve ter em comum o gosto pelo desafio que o projeto representa, a capacidade de dedicação que o trabalho exige, a habilidade de aprender rapidamente coisas novas e complexas que um software de gestão acaba de revelar e a flexibilidade para pensar em soluções diferentes das existentes atualmente na empresa. Mas quem deve participar do projeto? Se fosse possível, todos deveriam participar diretamente, afinal, o sistema em questão é um sistema integrado, portanto de alguma forma, todos serão afetados por essa nova solução. Porém, não é possível que a organização pare suas atividades para poder implementar um novo pacote de gestão empresarial. Além de ter os funcionários envolvidos no processo de implantação ERP, deve-se também trabalhar os medos e receios dessas pessoas, pois grande parte dos mesmos vem da ignorância. Na falta de informações claras sobre as mudanças que estão sendo planejadas, as pessoas criam informações e, em geral, geram as correntes pessimistas. Os esclarecimentos que se fazem necessários devem responder as questões a seguir: • O que vou ter que mudar em mim mesmo? • O que se supõe que eu e minha equipe passemos a fazer de modo diferente após a implantação do sistema? • Como vai ser nosso processo de adaptação? É verdade que algumas pessoas não se adaptam? O que devo fazer para não ser uma delas? • Considerando tudo o que me ensinaram até hoje em termos de como gerenciar, o que controlar, como me relacionar com as pessoas? O que continua válido e o que deve ser diferente? • Se o meu trabalho desaparecer, seja porque vai passar a ser feito por pessoas espalhadas pela organização, seja pelo sistema, o que vai ser de mim? De forma negativa haverá um impacto muito grande sobre os recursos humanos com a implantação do sistema, pois as pessoas terão de se preocupar com o processo como um todo e não apenas com a sua atividade específica. Devido a essa integração, o problema de uma área poderá ficar mais complexo rapidamente em relação aos outros departamentos, afetando assim toda a empresa. Existem casos em que o estereotipo dos funcionários será alterado, uma vez que o funcionário deverá se adaptar as mudanças e ter conhecimentos que nem sempre os atuais funcionários possuem, conhecimentos esses adquiridos através do treinamento e da cultura da multidisciplinar da organização. A empresa deverá escolher por treinar seus profissionais, ou muitas vezes demiti-los. Esta última opção ganha força pelo fato que a partir da automação, da integração entre os processos, muitas atividades que eram realizadas manualmente ou no sistema anterior não serão mais necessárias. Muitas vezes, pode ocorrer resistência interna à adoção do ERP, originado pela desconfiança de perda de emprego ou até mesmo de poder, já que haverá maior acesso da informação. Porém, como uma das fortes características do ERP é distribuir a informação, a produtividade pessoal cresce de forma considerável, uma vez que através de poucos clique no mouse pode-se ter acesso às informações de qualquer área da empresa, mesmo que seja de uma filial do outro lado do mundo. Como conseqüência, isto traz mais independência em relação à necessidade de informações vindas de outras partes da organização. Ainda há uma questão muito importante a ser tratada no que se refere à resistência das próprias lideranças no projeto de implantação do ERP. Segundo Herman F. Hehn (1999), “Cada pessoa tem em seu repertório de atuações muitas formas de resistir e impedir aquilo que ela não quer que ocorra”. Após pesquisa realizada desse mesmo autor com várias lideranças de projetos do ERP, têm-se os seguintes argumentos de repulsa: • Quando eles determinam que seja feito algo com que não concordo, eu cumpro os rituais, faço o que determinam ser minha obrigação, mas não repasso o entusiasmo para minha equipe. • Não exerço minha liderança, não me manifesto; no fundo, deixo claro para minha equipe que não estou engajado naquele esforço; • Centralizo a tomada de decisões de forma que nada ande sem a minha presença. E eu sempre que possível, não estou presente. • Uso a técnica do jogador de Poker: escondo as coisas boas que eu tenho (informações e dados de que eles precisam) e blefo em relação aquilo que não tenho (informações que provam que, o que eles estão tentando implantar falhou em outros lugares). • Atenho –me às dificuldades; não existe projeto em que você não possa encontrar dificuldades com as quais as pessoas ainda não sabem como lidar. Isso vai gerando insegurança ou, no mínimo, toma tempo e adia a implantação. • Falto aos os compromissos, não estudo, não me preparo, não me interesso em conhecer o assunto. • Quando explicam, finjo que não entendi, que o assunto não está claro, que não estão nos dando todas as informações. • Omito a verdade. Se não me perguntam, não falo nada. Procuro agir sempre de maneira dissimulada pra ninguém perceber que estou escondendo informações. • Priorizo o que não é prioridade e digo aos outros que, lamentavelmente não deu, mas a culpa não foi minha. • Arranjo formas de faltar aos compromissos: viagens, chamados inesperados dos clientes, problemas no campo, vale tudo. • Não considero as propostas impostas. Estabeleço meus próprios objetivos e trabalho neles em silencio. • Esqueço, “fecho a cara”, mostro–me irritado. Dessa forma as pessoas ficam com medo de falar comigo. • Articulo nos bastidores, influencio negativamente as pessoas, gero desmotivação e descrença. As malandragens, resistências e sabotagens ao processo de implantação como se viu não tem limites e acabam por minar os esforços das pessoas determinadas em levar adiante o projeto de reorganização tecnológica da empresa. É preciso identificar as atitudes que demonstre contrariedade ao projeto e combate – las o mais antes possível, senão o processo caminhará para um possível fracasso. É como disse Herman F. Hehn (1999) no livro Peopleware: Como trabalhar o fator humano nas implementações de sistemas integrados (ERP): “Se as lideranças da implantação de um programa de transformação não souberem perceber e trabalhar as causas desses comportamentos, as probabilidades de sucesso serão significativamente reduzidas”.