sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Da não-palavra à palavra: a labuta do caminho de volta

Necessária solidão, a solidão da leitura. A dificuldade de sair da maratona do dia-a-dia. O sacrifício de fazer silêncio. O martírio de ficar só. O heroismo de me encarar de frente. A coragem de se notar no espelho da palavra. A aventura de mergulhar em um mar inexplorado. Solidão de pessoas, comunhão com as palavras. Autores de tempos imemóriais e autores de hoje adentram à minha casa, sentam à minha mesa e eu só escuto. Despejam seus palavreados em minh'alma. Logo, busco a não-palavra, o não-conceito, o que não é delimitado. O limitado quando entra no domínio do que não é delimitado, admira-se, fica perplexo, pasmo. Começa a pensar em fazer extraordinariamente as coisas ordinárias do cotidiano. Solidão de pessoas, comunhão com as palavras. E palavras também são pessoas. Possuem vida ou morte próprias. Tão reais que algumas fazem viver como outras fazem morrer. Desde o começo, a palavra não é minha. Não é minha a não-palavra, pois é antes de mim. A palavra não é minha, quando a formulei em pensamento e a escrevei em um pedaço de papel, renunciei minha autoria e está em quem a recebe. A capacidade de transformar a não-palavra em palavra também não me pertence. Ora, o que me pertence afinal ? Acho que o que me pertence é o não-pertencer. Ser no não-ser. Criar no não-criar. Eis meu sentimento ao escrever, ao viver.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Esses inexperientes: pai e filho

Pai, tantas lembranças eu tenho de ti, se eu começar a contar, não haverá mais espaço nas folhas de todos os livros que possa haver no mundo. Me lembro das suas brincadeiras, das suas histórias, do sei jeito de me fazer feliz. Me lembro daquele dia, caminhando na rua da praia, eu dizia que queria desistir de tudo, desistir da vida, e você me disse, não, não desista, eu estou com você, vamos juntos procurar uma saída. Me lembro de todas as vezes que me orientava, e como um erudito da vida, me dava aulas sobre a arte de viver, coisas que não aprendi nos livros acadêmicos, mas de você. Me lembro que todas as noites me levava para dormir e rezava junto comigo a oração do Anjo da guarda e um pai nosso. Diante de ti, não sou nada mais do que um menino que hoje quer deitar em seu colo e sentir-se amado. Diante de ti, não sei esconder nada. Somos eternos inexperientes na lida de ser pai e ser filho. Cada momento é um novo aprendizado, uma escola com portas abertas para aprender. Quero viver ainda muito tempo ao teu lado, bebendo da tua sabedoria, tua história de vida, como nos velhos tempos. Renovo o meu amor que tantas vezes eu te jurei. Te amo, te amarei, sei que nessa vida, não terei melhor amigo que você. Deus o abençoe e o conserve. Do seu menino, Ricardo.