quinta-feira, 13 de maio de 2010

Passo inteiro, olhar agudo

Caminho. Faço a tarefa de dar cada passo. A estrada é longa, eu bem sei. Mas em cada passo há um mini caminho a ser percorrido. Em cada passo, o horizonte parece que fica mais próximo, mas revela outros horizontes. Resposta para minha pergunta traz outras perguntas, cujas respostas trarão mais perguntas. Entre pergunta e resposta, somente um coração e a angústia de sobreviver. Viver é belo, o sobreviver que é angustiante. Dilacera, corta a carne mais profunda da alma. A lágrima que escorre dos meus olhos é o sangue dessa carne da alma. A estrada é feita por passos que são micro- caminhos. Quem insiste em desconhecer os riscos de um passo, tampouco será digno dos riscos e da glória da estrada toda, conjunto dos pequenos passos. Em cada passo eu me fio e me afio, me penso e repenso. Em cada passo, misturo o caminhar e o repouso, a vida e a morte. Melhor ser o passo inteiro do que a estrada percorrida pela metade. Em cada passo, passo e me repasso. Que há de bom nisso? O meu auto-conhecer, o conhecer o mundo. Já que terei que me suportar pela vida inteira, nada mais justo do que me conhecer, conhecer como lidar melhor comigo mesmo. Para isso, é preciso saber olhar. Quantos lançam os seus olhares e não veem. Quantos lançam os seus olhares e não enxergam. Não é preciso mais tempo, pois o tempo está aí, é uma correnteza atemporal que é oferecida a todos. Que sofisma mais mediocre é esse de não ter tempo! É preciso vagar, é preciso disponibilidade. Ter um momento para sentir-se gente, ser humano, é tão salutar quanto ter um momento para a alimentação. Um olhar adentra a intimidade mais íntima de alguém. Porque ter medo de se olhar? Será o medo de se encontrar ou será o medo de se perder? O relacionar-se consigo é desdobramento do relacionar-se com as demais pessoas. Tente olhar para alguém sem maiores pretensões; verás um olhar se desviará do seu. Pode ser medo, pode ser indiferença. Se for medo, ainda sim é um tipo de relação que se estabelece que tem jeito de reversão. Se for indiferença, bem... a pessoa indiferente estabelece ao ser real a sua mais completa negação de ser alguém. Simula a não-existência de um ser real. Talvez também simule consigo mesma essa relação. Talvez negue a si próprio a possibilidade de refletir sobre si mesmo, sendo indiferente a essa possibilidade e, por efeito cascata, se alastra no lidar humano com as pessoas. O que falta é passo inteiro, olhar agudo!

Nenhum comentário:

Postar um comentário