quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Música comercial e conteúdo: esta química é possível?

Escute alguma rádio por aí e você vai se deparar com a chamada Música comercial: letra curta, rima na maioria das vezes pobres e vazias de significados, e melodia que gruda na cabeça da gente. Antigamente, os compositores e os trovadores da boa música popular brasileira se importaram mais com o conteúdo a ser transmitido, do que a exposição de sua imagem. Faziam músicas que nos faziam sonhar, sem sair do chão. Cito alguns exemplos das músicas seculares: O que cantam as crianças, gravadas pelo grupo infantil A Turma do Balão Mágico (Que canto mais lindo que vem pelo ar, Vem vindo de todo lugar, Que canto mais lindo que brilho que luz, Encanta me abraça seduz), Caçador de mim gravada pelo Milton Nascimento (Por tanto amor, por tanta emoção, a vida me fez assim, doce ou atroz, manso ou feroz, eu caçador de mim), Seguindo no trem azul gravada pelo Roupa Nova (Confessar, sem medo de mentir, que em você, encontrei inspiração, para escrever...). Você já deve ter escutado essas músicas. Há beleza no conteúdo e na melodia. A boa música é aquela que nunca esgota os bons significados da bela mensagem. Não preciso citar os exemplos péssimos que há por aí! Já basta a indústria da mídia que há por trás desse tipo de música, pois também há nicho de mercado para essa modalidade. A letra e os significados que se desdobram dela devem voltar a ter primazia sobre a melodia. Nunca escrevo para mim mesmo, escrevo para alguém diferente de mim. Devo escrever para que as pessoas pensem, para que reflitam e questione. Há bastante músicas para pular, para chacoalhar, poucas para fazer refletir e calar fundo no coração de alguém. A música tem um papel formativo gigantesco no mundo hodierno. Forma mentalidades, forja costumes e reconfigura perspectivas, para o bem e para o mal. A música tem um poder terapêutico enorme, a palavra trabalhada, bem vivenciada quando chega ao homem, tem o poder de educá-lo aos valores humanos. Quando é somente um jogo de palavras, ou retórica, pode ocasionar a relação de dominação e alienação. A melodia também traz em si muitos significados. A melodia nos tempos medievais, principalmente o canto polifônico e o canto gregoriano, se caracterizavam pela regularidade, havia um tempo alto e um tempo baixo, bem definidos, significando a dicotomia entre o tempo e a eternidade. A música pós-moderna é caracterizada, sobretudo, pela mistura de sons, ritmos, supõe o não-definitivo, o não-permanente, o transitório, o embate do homem com sua realidade. Minha modesta opinião, perfeitamente conciliável a música comercial e os bons conteúdos, sejam eles sobre o amor, sobre a cultura, sobre a religião, sobre o encontro humano. Mas que elevem-se os significados, que se elevem a palavra elaborada que edifica, que constrói pontes, que desate os nós e Procuram-se novos compositores dos novos tempos, que façam melodia e letra que levem o meu povo sonhar, pensar, refletir!

Um comentário:

  1. Meu grande amigo Ricardo, acho que é um grande desafio para os compositores contemporânes, os mesmos estão preocupados em vender e para vender é preciso atender a uma demanda de mercado, na minha opinão é preciso que a grande maioria das pessoas cobrem e consumam músicas com qualidade que vc esta citando. Porque o próprio chico buarque é rotulado como um artista de elite, pq uma pequena parcela das pessoas curtem o estilo, acho que a coisa esta muito ligada a cultura do povo, fazendo uma analogia a relação política x Futebol, olha a importância que o povo delega ao futebol, cobra do técnico, bate nos jogadores, vão aos estádios, nao tenho nada contra sou corinthiano, mas observamos ai uma troca muito grande de valores, não é a toa que somos conhecidos la fora como o pais do futebol e ao mesmo tempo temos uma grande fama de país corrupto ! somente uma pequena parte da população curte e da valor ao que realmente é importante, mas tb sou otimista acho estamos mudando e em futuro muito próximo (100 anos) rsrs as coisa vao ser diferentes.. abração

    Hudson Pipino
    hudson@agns.com.br

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