Em 1985, o então Papa João Paulo
II em seu pronunciamento aos bispos do Brasil dos regionais I e V, chama a
atenção dos prelados que não é o caso adaptar o depósito da fé, ao gosto do
tempo atual, pelo estranho argumento que hoje o homem não compreende. A fé
cristã não admite instrumentalizações!
E o que chama mais atenção quanto
à instrumentalização da fé é o crescimento vertiginoso de seitas, alternativas
imediatistas do sagrado. Então, João Paulo II questiona os prelados brasileiro
em tom de cobrança: A difusão das seitas não nos
interroga se tem sido manifestado suficientemente o senso do sagrado?”(Sínodo
Extraordinário dos Bispos, 1985, Relatório
Final II, A. 1).
Muitos são os motivos do êxodo de
pessoas freqüentavam a Igreja a passarem para essas seitas. Falta de
esclarecimento com relação à doutrina e extrema ignorância religiosa aliado a
uma atmosfera que favorece a permissividade moral e o relativismo, busca
imediata de respostas (abrange a busca utilitarista dos milagres), tibieza e
inércia episcopal, sacerdotal e laical no que tange o processo de evangelização
do povo, o aliciamento através de uma boa acolhida, coisa que deixa muito a
desejar nos nossos templos.
João Paulo II analisa que o
católico brasileiro é muito apegado aos sinais exteriores da fé. Ocorre que ele
aponta que os sinos que chamavam as pessoas para a Igreja, ou que fazia lembrar
que ali se iniciara uma celebração foram retirados. Músicas que se intitulam
litúrgicas e que estão longe de levar uma pessoa à oração, à reflexão, quase
sempre de cunhos políticos ou terrenos levam para a dispersão.
O papa expressa com todas as
letras, ao tratar acerca das celebrações litúrgicas: “O
ministério da Palavra, que está intimamente ligado à Liturgia Eucarística (cf. Sacrosanctum
Concilium, 56), contenha sempre, do início ao fim, uma mensagem
espiritual. É certo que há tanta gente que não possui o suficiente para acalmar
a própria fome, mas, ordinariamente, o povo tem mais fome de Deus que do pão
material, pois entende que “não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que
sai da boca de Deus” (MT 4, 4).” E se o povo não encontra uma boa
acolhida, uma boa palavra, e não tem um encontro pessoal (coração) e público
(comunidade) com Deus, nos modelos alternativos de fé irá encontrar uma boa
acolhida e ótimo tratamento.
Ele também menciona que a Igreja não
é como uma promotora da reforma social, apesar dela estar no mundo e continuar
formando mentalidade, consciências para o bem comum. Uma clara crítica à
Teologia da Libertação com hermenêutica marxista. É salutar esclarecer que há
outras Teologias da Libertação que não se orientam pelo marxismo, estando em
consonância com a Doutrina Social da Igreja e que são muito úteis.
O papa mais uma vez questiona em
tom de cobrança: “Não estaria havendo uma certa
acomodação deixando de ir em busca das ovelhas que estão afastadas? Ao
contrário da parábola evangélica, não é uma e outra que está tresmalhada
(perdida), mas é uma parte do rebanho.” É impressionante a apatia de muitos
clérigos e leigos.
João Paulo II alerta que é
preciso disponibilidade, alicerçada na plena liberdade da amizade com Cristo. É
preciso ir ao encontro do povo, já que ele não vem até nós. Ir como
missionários, sem medo de receber um não, sem medo de não ser recebido! Padre Dehon, fundador da Congregação dos
Padres do Sagrado Coração de Jesus dizia que os sacerdotes não podem ficar
enclausurados em suas sacristias vendo a banda passar, deviam ir ao povo,
misturando-se com eles para servi-los. Mais urgente ainda é esse recado aos
leigos, mas com a devida instrução e orientação de seus sacerdotes!
Ir ao povo pressupõe uma formação
à altura das exigências dos tempos pós-modernos, não basta entusiasmo, não bastam
conhecimentos de Filosofia, Teologia, História, Antropologia, Sociologia, mas
uma síntese entre oração e ação, fé e obras, como diria padre Dehon: “Vamos ao povo para iluminá-lo, instruí-lo, amá-lo. Vamos a
ele com um programa preciso, com obras verdadeiramente populares, com uma
atividade incessante. Vamos ao povo com uma verdadeira ciência social e com
obras. Mostremos os verdadeiros remédios para o mal social. Amemos o povo,
defendamo-lo e ele nos amará e defenderá. É preciso infundir o espírito de
justiça e amor aos pequenos, na vida social” (cf. 1ª, 4ª, 5ª e 6ª conferências
Romanas).
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