sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Análise da situação da Igreja no Brasil por João Paulo II



Em 1985, o então Papa João Paulo II em seu pronunciamento aos bispos do Brasil dos regionais I e V, chama a atenção dos prelados que não é o caso adaptar o depósito da fé, ao gosto do tempo atual, pelo estranho argumento que hoje o homem não compreende. A fé cristã não admite instrumentalizações!

E o que chama mais atenção quanto à instrumentalização da fé é o crescimento vertiginoso de seitas, alternativas imediatistas do sagrado. Então, João Paulo II questiona os prelados brasileiro em tom de cobrança: A difusão das seitas não nos interroga se tem sido manifestado suficientemente o senso do sagrado?”(Sínodo Extraordinário dos Bispos, 1985, Relatório Final II, A. 1).

Muitos são os motivos do êxodo de pessoas freqüentavam a Igreja a passarem para essas seitas. Falta de esclarecimento com relação à doutrina e extrema ignorância religiosa aliado a uma atmosfera que favorece a permissividade moral e o relativismo, busca imediata de respostas (abrange a busca utilitarista dos milagres), tibieza e inércia episcopal, sacerdotal e laical no que tange o processo de evangelização do povo, o aliciamento através de uma boa acolhida, coisa que deixa muito a desejar nos nossos templos.

João Paulo II analisa que o católico brasileiro é muito apegado aos sinais exteriores da fé. Ocorre que ele aponta que os sinos que chamavam as pessoas para a Igreja, ou que fazia lembrar que ali se iniciara uma celebração foram retirados. Músicas que se intitulam litúrgicas e que estão longe de levar uma pessoa à oração, à reflexão, quase sempre de cunhos políticos ou terrenos levam para a dispersão.

O papa expressa com todas as letras, ao tratar acerca das celebrações litúrgicas: “O ministério da Palavra, que está intimamente ligado à Liturgia Eucarística (cf. Sacrosanctum Concilium, 56), contenha sempre, do início ao fim, uma mensagem espiritual. É certo que há tanta gente que não possui o suficiente para acalmar a própria fome, mas, ordinariamente, o povo tem mais fome de Deus que do pão material, pois entende que “não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (MT 4, 4).” E se o povo não encontra uma boa acolhida, uma boa palavra, e não tem um encontro pessoal (coração) e público (comunidade) com Deus, nos modelos alternativos de fé irá encontrar uma boa acolhida e ótimo tratamento.

Ele também menciona que a Igreja não é como uma promotora da reforma social, apesar dela estar no mundo e continuar formando mentalidade, consciências para o bem comum. Uma clara crítica à Teologia da Libertação com hermenêutica marxista. É salutar esclarecer que há outras Teologias da Libertação que não se orientam pelo marxismo, estando em consonância com a Doutrina Social da Igreja e que são muito úteis.

O papa mais uma vez questiona em tom de cobrança: “Não estaria havendo uma certa acomodação deixando de ir em busca das ovelhas que estão afastadas? Ao contrário da parábola evangélica, não é uma e outra que está tresmalhada (perdida), mas é uma parte do rebanho.” É impressionante a apatia de muitos clérigos e leigos.

João Paulo II alerta que é preciso disponibilidade, alicerçada na plena liberdade da amizade com Cristo. É preciso ir ao encontro do povo, já que ele não vem até nós. Ir como missionários, sem medo de receber um não, sem medo de não ser recebido!  Padre Dehon, fundador da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus dizia que os sacerdotes não podem ficar enclausurados em suas sacristias vendo a banda passar, deviam ir ao povo, misturando-se com eles para servi-los. Mais urgente ainda é esse recado aos leigos, mas com a devida instrução e orientação de seus sacerdotes!   

Ir ao povo pressupõe uma formação à altura das exigências dos tempos pós-modernos, não basta entusiasmo, não bastam conhecimentos de Filosofia, Teologia, História, Antropologia, Sociologia, mas uma síntese entre oração e ação, fé e obras, como diria padre Dehon: “Vamos ao povo para iluminá-lo, instruí-lo, amá-lo. Vamos a ele com um programa preciso, com obras verdadeiramente populares, com uma atividade incessante. Vamos ao povo com uma verdadeira ciência social e com obras. Mostremos os verdadeiros remédios para o mal social. Amemos o povo, defendamo-lo e ele nos amará e defenderá. É preciso infundir o espírito de justiça e amor aos pequenos, na vida social” (cf. 1ª, 4ª, 5ª e 6ª conferências Romanas).


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