20 de Agosto de
2019. Iríamos completar 3 anos de união conjugal. O tempo pode finalizar uma
história, mas nunca finalizará as vivências e as memórias. O casamento chegou
ao fim com a sua partida, pois ele é próprio desse espaço-tempo, amor que se
tornou sacramento, porém esse amor perpassou esse sinal. Fomos uma só carne e
continuamos a ser no mesmo sentimento e verdade. Só que ama chega à essa
unidade! Do primeiro olhar ao último olhar. Quantas histórias pra contar no
intervalo entre o suspiro do encontro ao suspiro da entrega! Feliz daquele que
tem histórias para contar, pois não é o dono da história, não apenas passou
pela vida, mas a viveu. Tínhamos a plena consciência de que eu não era sua
propriedade particular e nem ela a minha propriedade particular. Único exemplar
nesse mundo! Rara humana que detinha a arte de relacionar-se, arte essa que não
aprendeu de artigos científicos mas a partir dos encontros que a vida lhe
proporcionou. Não mais se ouvirá sua chegada de sua jornada de trabalho, ao
abrir a porta por volta das 16:20. Não mais se comprará a chipa de queijo, a
esfiha de calabresa que tanto apreciava e retribuiria com seu singelo sorriso.
Aliás, não precisava de agrado material para sorrir! Não mais se poderá escutar
suas impagáveis risadas que alegrava a quem estava triste. Não mais se sentirá
seu abraço confortador que refazia os cacos de vida, mesmo que ela não
percebesse isso. Olhares que diziam sem mesmo falarem. Silêncios traduzidos em
vida nos recônditos da humanidade. Recortes do tempo. Retalhos de vida. Nas
suturas dos acontecimentos, fatos corriqueiros, ordinários se transmudam em
extraordinários quando não nos detemos no tempo cronológico. Acontecimentos
forjados no tempo. Atos que repercutem e ser que não se esquece! Enquanto seu
ser vibrou nessa vida, seus atos foram um eco de seu ser! Seus feitos não valem
mais do que seu precioso ser! É por isso que as lembranças possuem um toque divino
de reconstituição mesmo "sem" a presença de quem se ama. As lágrimas
continuarão a cair, as lembranças fervilharão na mente e os passos, ainda que
hesitantes, farão a caminhada, um passo de cada vez, sem apressar o passo. Os
poetas mineiros já diziam na famigerada “Canção da América”: “Mesmo que o tempo
e a distância digam não!” Impossível é esquecer a suave fragrância da sua vida
exalada por onde passaste! Eis a data a qual tanto sonhastes e tu contemplas à
Quem te chamou à vida, que te chamou ao caminho que sonhastes e que não te
convidou ao convívio eterno sem antes teres percorrido o caminho que
vislumbraste! Já não O conheces por espelho em enigmas, mas tal como Ele É.
(cf. I Cor 13, 12). A história continua sendo a tenda de quem sabe que o caminho
se faz e se fará caminhando! Sigo e seguirei até o fim no caminho onde a vida
proporcionou o nosso encontro. Nessas parcas palavras, um amálgama de saudade e
presença, solidão e comunhão, também vai o não verbalizado, o que não sei
dizer, que se une ao seu ser que se expressou ainda mais que seus atos ... Eternamente
na sua ternura, amor!