terça-feira, 20 de agosto de 2019

Carta de um alguém que está no tempo ao seu amor que está no metatempo









20 de Agosto de 2019. Iríamos completar 3 anos de união conjugal. O tempo pode finalizar uma história, mas nunca finalizará as vivências e as memórias. O casamento chegou ao fim com a sua partida, pois ele é próprio desse espaço-tempo, amor que se tornou sacramento, porém esse amor perpassou esse sinal. Fomos uma só carne e continuamos a ser no mesmo sentimento e verdade. Só que ama chega à essa unidade! Do primeiro olhar ao último olhar. Quantas histórias pra contar no intervalo entre o suspiro do encontro ao suspiro da entrega! Feliz daquele que tem histórias para contar, pois não é o dono da história, não apenas passou pela vida, mas a viveu. Tínhamos a plena consciência de que eu não era sua propriedade particular e nem ela a minha propriedade particular. Único exemplar nesse mundo! Rara humana que detinha a arte de relacionar-se, arte essa que não aprendeu de artigos científicos mas a partir dos encontros que a vida lhe proporcionou. Não mais se ouvirá sua chegada de sua jornada de trabalho, ao abrir a porta por volta das 16:20. Não mais se comprará a chipa de queijo, a esfiha de calabresa que tanto apreciava e retribuiria com seu singelo sorriso. Aliás, não precisava de agrado material para sorrir! Não mais se poderá escutar suas impagáveis risadas que alegrava a quem estava triste. Não mais se sentirá seu abraço confortador que refazia os cacos de vida, mesmo que ela não percebesse isso. Olhares que diziam sem mesmo falarem. Silêncios traduzidos em vida nos recônditos da humanidade. Recortes do tempo. Retalhos de vida. Nas suturas dos acontecimentos, fatos corriqueiros, ordinários se transmudam em extraordinários quando não nos detemos no tempo cronológico. Acontecimentos forjados no tempo. Atos que repercutem e ser que não se esquece! Enquanto seu ser vibrou nessa vida, seus atos foram um eco de seu ser! Seus feitos não valem mais do que seu precioso ser! É por isso que as lembranças possuem um toque divino de reconstituição mesmo "sem" a presença de quem se ama. As lágrimas continuarão a cair, as lembranças fervilharão na mente e os passos, ainda que hesitantes, farão a caminhada, um passo de cada vez, sem apressar o passo. Os poetas mineiros já diziam na famigerada “Canção da América”: “Mesmo que o tempo e a distância digam não!” Impossível é esquecer a suave fragrância da sua vida exalada por onde passaste! Eis a data a qual tanto sonhastes e tu contemplas à Quem te chamou à vida, que te chamou ao caminho que sonhastes e que não te convidou ao convívio eterno sem antes teres percorrido o caminho que vislumbraste! Já não O conheces por espelho em enigmas, mas tal como Ele É. (cf. I Cor 13, 12). A história continua sendo a tenda de quem sabe que o caminho se faz e se fará caminhando! Sigo e seguirei até o fim no caminho onde a vida proporcionou o nosso encontro. Nessas parcas palavras, um amálgama de saudade e presença, solidão e comunhão, também vai o não verbalizado, o que não sei dizer, que se une ao seu ser que se expressou ainda mais que seus atos ... Eternamente na sua ternura, amor!

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