quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Por que Horkheimer e Adorno querem esclarecer radicalmente o esclarecimento sobre si mesmo?
Horkheimer e Adorno querem esclarecer radicalmente o esclarecimento sobre si mesmo, pois percebem que a realidade perdeu sua verdade e transformou-se em perversão e que a verdadeira face do ser não está meramente no simples ordenamento da realidade, ao constatar que esta “dominação não é meramente a alienação dos homens com relação aos objetos dominados; com a coisificação do espírito, as próprias relações dos homens foram enfeitiçadas, inclusive as relações de cada indivíduo consigo mesmo” (Horkheimer e Adorno 1985, p.40). O esclarecimento tem que tomar consciência de si mesmo e não ser passível de manipulação, operando “uma crítica de si mesmo a fim de libertar-se do emaranhado que o prende a uma dominação cega” Horkheimer e Adorno, 1985, p.15).
Habermas (1990, P.166) apresenta o cenário trágico do esclarecimento: “O drama do esclarecimento só atinge sua peripécia quando a própria crítica da ideologia é suspeita de não produzir (mais) verdades – e o esclarecimento se torna reflexivo pela segunda vez. A dúvida estende-se então também à razão, cujos critérios a crítica da ideologia encontrara nos ideais burgueses, tomando-os ao pé da letra.” A concepção de ideologia como uma manipulação de massa, em que se engana o indivíduo, tem origem iluminista é denúncia da superstição. Na concepção hegeliana, a ideologia anuncia uma verdade sobre si que até então misteriosa, e, ao expor essa verdade, faz analogia com a sua experiência dessa mesma verdade e, desse juízo passado sobre si mesma vem à tona algo como um sentimento dramático de seu descompasso, de sua divisão. Refere-se a uma negação interna que procura resolver por uma nova atividade crítica comandada pelo seu próprio padrão de medida. A função da crítica da ideologia é questionar a verdade de um conhecimento suspeito, ao revelar sua falta de autenticidade e veracidade, conforme Habermas (1990, P.165-166): “A crítica torna-se crítica da ideologia quando pretende mostrar que a validade da teoria não se separou suficientemente do contexto de origem, que às coisas da teoria, se oculta uma ilícita mescla de poder e validade e cuja reputação se deve justamente a essa mescla.”
Adorno e Horkheimer, segundo Habermas, recordam a imagem da crítica marxista da ideologia, que, partindo do princípio de que potencial racional expresso nos “ideais burgueses” e posto no “sentido objetivo das instituições”, mostra uma dialética: de um lado, empresta as ideologias da classe dominante, a aparência ilusória de teorias convincentes, de outro, oferece o ponto de partida para uma crítica, empreendida de maneira imanente, dessas construções, que elevam universal o que de fato serve apenas á parte dominante da sociedade. A crítica da ideologia interpretava na má utilização das idéias um fragmento da razão existente, oculto a si mesmo, e interpretava-se como uma regra que poderia ser cumprida por movimentos sociais, conforme o desenvolvimento de forças produtivas excedentes.
Dessa forma, Adorno e Horkheimer almejam acertar as contas com o entendimento calculador que tomou o lugar da razão, que está relacionada com a totalidade, com pequena diferença entre a pretensão de validade (verdade ou falsidade) e a utilidade para a autoconservação (contém elementos de autodestruição). A razão instrumental, associou-se ao poder e abdicou da crítica, que segundo Habermas (1990, P.170) “é o último desvelamento de uma crítica da ideologia aplicada a si mesma. Esta descreve, contudo, a autodestruição da capacidade crítica de forma paradoxal, visto que no instante da descrição ainda tem de fazer uso da crítica que declarou estar morta. Ela denuncia o esclarecimento que se tornou totalitário com os meios do próprio esclarecimento.” A universalização da razão instrumental levada às últimas conseqüências implica a dinâmica de reificação elevada ao seu ápice.
Livros para consulta
Dialética do Esclarecimento – Adorno & Horkheimer, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 2006.
Discurso Filosófico sobre a modernidade – Jürgen Habermas, Martins Fontes, 2º edição
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