A palavra já teve valor muito maior no passado do que na atualidade. Não havia a necessidade de contratos, reconhecimento de firmas, o que era dito, era cumprido, era questão de honra. Palavra dada era a própria confiança encarnada. Hoje, a palavra antes de ser dita, já vem encerrada com seu respectivo prazo de validade. O que digo hoje, não cumpro amanhã. Mas também não sigo a risca, depende do momento, da pessoa, das possibilidades, das conveniências. A palavra na boca dos pós-modernos nasce agonizante. Mas não morre prontamente para demonstrar que é meia verdade. Que se junte todas as meias verdades e saberão que não completarão a verdade inteira. A verdade omitida é a gênese da mentira. Jogo com o outro batalha naval, armo estratégias, invento armadilhas, passo maquiagem na ferida para soar estético. De uma fala doce, de um rosto angelical pode ser destilada a mentira bem mais contada que os homens puderam ouvir. Hoje, a dignidade da palavra está pra lá de comprometida, está condenada. Minha palavra já se transformou em ação para salvar o nexo causa-efeito da palavra. Quem sabe, eu possa cumprir muito mais do que prometi, quem sabe possa fazer com que a minha ação seja mais significativa do que as minhas palavras, fazendo com que elas recuperem a antiga credibilidade de outras épocas. A surpresa irá se instaurar quando conseguir dizer mais com atos do que palavras o que pensei em dizer em palavras. Recupera-se o valor da atitude, devolvendo a preciosidade e limpidez da palavra proferida.
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Viver para conviver, existir para coexistir
Não tenho pressa de escrever. Não tenho pressa de doer, de passar pelas dores da palavra nascente da solidão silenciosa. O conteúdo daquilo que escrevo vem da vida, e o material que ela me fornece é infinito. Mas sempre quero o fim e não o processo. Chego ao fim, mas nem um pouco parecido com aquilo que idealizei. Chego a conclusão de que fui mais feliz no desenvolvimento da rota do que propriamente em sua finalidade e chegada. Ignoro, então, a finalidade da estrada? Tolice. Digo que há um sentimento próprio no preparativo, que não há na chegada, e vice-versa. Trago romantismos que merecem serem expurgados com o impacto da vida real, outros levo para que essa vida não seja tão pesada quanto parece ser. Palavra nasce na dor, nasce no parto, vicejante de silêncio. Meu argumento é a vida e é isso que o torna imbatível e irrefutável. Nada mais urgente do que viver para poder conviver, existir para poder coexistir. Preciso de você para conviver e preciso de você para coexistir, mesmo na diferença. A única pressa que urge é a de não ter pressa, para vivenciar, saborear a boa compania, o bom livro, a boa música, a boa arte. O silêncio gesta palavras e canções, inebria corações sedentos de amor. Que eu nunca me omita de falar sobre o humano e suas contradições, seus amores e suas dores, seus dilemas e certezas, sua fé e sua descrença.
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