Ano que se vai. Ano que se vem. Tantas coisas que nos absorveram. Tantas coisas perdidas. Por um lado, encanto perdido, pelo outro, surpresa inesperada. Quantas lágrimas com motivos e sem motivos derramadas. Briguei, reconciliei, guerreei, construi pontes de amizade e esperança. Fui humano como sempre e na busca do eterno como nunca. Sinto que morro aos poucos quando passo pelo tempo. Mas faço parar o tempo, quando estou com meus amigos, quando componho uma canção, quando escrevo alguns versos para aliviar minha existência. Estou no tempo e pela contemplação saio dele para contemplá-lo e vejo que o que não muda é o seu eterno gesto de mudar. Dias nascem, dias morrem, tardes se desvelam e se escondem com grande sedução. Queria ter a sabedoria do tempo de saber mudar de saber morrer para depois viver. Mas me prendo a um medo comum que todos os mortais possuem: o de passar pela experiência da morte. Morte é esvaziar as gavetas com coisas e papeladas inúteis e sem sentido que por muito tempo você carregou em sua mochila de viagem. Morte é ter o conhecimento que o inimigo número 1 de você é você mesmo. Vida é deslumbrar o horizonte de superar-se para além da superação, para além daquilo que te dizem ou até mesmo sobre o que pensas de ti mesmo. O tempo desliza sobre minhas mãos. Já não posso interferir no que passou. O amanhã ainda é um mistério. Tenho somente o hoje. Hoje pode ser o dia que a eternidade resolveu habitar ao seu lado. É só viver e não somente ensaiar de viver ou apenas existir. Ano novo só é novo se tenho a capacidade de ser novo tanto quanto ele é. Acompanho o tempo, mas não deixo de pensar um só instante na eternidade. Sou peregrino do tempo, a história é a minha tenda que me abrigo quando penso além do tempo.
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