terça-feira, 30 de novembro de 2010

Seguir a natureza: um café com Epicuro, Sêneca e Horácio

A questão que perpassa o pensamento de Sêneca é seguir a natureza. Há duas escolas que duelam nesta questão, a saber: o epicurismo e o estoicismo. A vertente epicurista prega que o seguir a natureza, corresponde a dar asas aos instintos e as paixões humanas. A vertente estóica versa por preconizar que o seguir a natureza é, antes de tudo, desenvolver e aperfeiçoar a parte mais nobre do homem: a razão. As duas teses são diametralmente opostas: uma enfatiza que se deve dar vazão aos instintos, e a outra, anuncia que a razão é o principal elemento do seguir a natureza. Vejamos. O homem ocupado tem as características de se apegar ao amanhã, e se esquecer do hoje, como também de se encher de diversas atividades e passatempos que o impeçam o se debruçar sobre a sua própria existência e refletir. Por não viver o presente, ele cria inúmeras expectativas e projeções irreais e falsas acerca do futuro. Neste aspecto, sua vida se torna breve, não em sentido cronológico, mas no sentido da intensidade de viver. E por estar enclausurado nas efemeridades do tempo, cada vez mais se aproxima do particular, distanciando-se do universal. Ao contrário, o homem livre possui as características de estar absorvido inteiramente pelo seu presente. No homem livre, não há carência e nem excesso de tempo: cada momento é uma oportunidade de se aperfeiçoar e ser melhor. Horácio, poeta grego e contemporâneo de Sêneca I a.C, em seu poema Ode (I, XI) afirma: “Tu não procures, conhecer não deves, o fim que a mim, A ti concederam os deuses, ó Leucone, nem experimentes os números babilônicos. Melhor sofrer o que quer que seja! Seja muitos invernos, seja o último que Júpiter te concedeu, e que agora o mar Tirreno quebra contra os rochedos, sejas sabia, filtre os vinhos, e pelo curto espaço de tempo suprimas qualquer longa esperança. Enquanto falamos, o tempo invejoso foge: aproveita o dia, (carpem diem) muito pouco crédula no que virá.” Eis aqui o trecho do famoso trecho do carpem diem, cuja tradução mais aproximada é a do colher o dia. A preocupação horaciana é no sentido de que o hoje tem a necessidade de ser vivido intensamente, sem maiores apegos no que virá no dia de amanhã e de que os homens possuem a estranha tendência de informarem sobre o que virá e sobre qual seja o seu fim. Assim se encontram fazendo planejamentos minuciosos e calculistas, debruçando-se somente sobre o que virá, e, portanto, dando as costas ao seu tempo presente. Já que o passado é conhecido do homem, o já foi, e o presente, de certa forma, já ser conhecido, o amanhã causa medo e pavor, pois é uma fronteira desconhecida para o homem. E para se precaver e cercar-se de cuidados, às vezes de perigos imaginários e até ilusórios, ele apega-se às coisas materiais, bem como a acumulação de riquezas e esquece-se de colher o dia, que generoso a eles se oferece. Há uma inversão de finalidades: o indivíduo lembra que é preciso se atentar ao que virá, dando às costas para o seu presente, fazendo com que a memória daquilo que será passado seja a pior possível. Com isso, a sua verdade não é a de viver a vida de maneira significativa, mas tão somente de passar o tempo, e de simplesmente existir. O grande êxito do homem livre é que ele utiliza a meditação em seu próprio benefício, refletindo sobre as boas e más coisas que ocorreram, para fazer com que o bem que fez continue e que o mal que causou ele não mais cometa. Neste sentido, o homem livre afasta-se do particular, das efemeridades do tempo, e se aproxima cada vez mais da estrada da eternidade.

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