Reflexões do espírito
A vida tem fome e sede de viver!
segunda-feira, 5 de setembro de 2022
O que a Idade Média nos deixou? - Umberto Eco
sábado, 9 de janeiro de 2021
Sobre ser família. Sobre ser amigo.
Você,
talvez, saiba muito ou tudo sobre família. Você, talvez, saiba muito ou tudo
sobre amizade. Será que esse muito é suficiente para conviver de maneira plena
e sadia com os seus? Será que esse tudo é o bastante para uma agradável
presença e companhia? São perguntas fundamentais a serem feitas por alguém que
se preocupa com família e amizade. Muitas vezes, o problema passa pelo muito
saber ou conhecimento, principalmente dos pontos mais vulneráveis das pessoas
que convivemos ou que estabelecemos uma relação amistosa. Sabemos tanto que
enquadramos as pessoas nas nossas definições e preconceitos forjados e nem
sempre damos oportunidade para que elas desvelem sua essência para nós.
Conhecemos muito que arrolamos uma série de postulados e batemos nessa tecla
sem pestanejar, nos pensamentos e atitudes. Em ambas vertentes, o que salta aos
olhos é uma postura automática, desprovida de misericórdia e razão, com um
verniz racional e realista. É preciso coragem para olhar para os nossos e
detectar que eles são muito mais do que pensamos sobre eles. É preciso saber
olhar para além das distorcidas projeções pessoais, desconstruindo-as. Fingir
ser estrangeiro em terras familiares e amistosas. Fingir desconhecer o que tão
profundamente se conhece das pessoas. Um novo olhar naturalmente surgirá
rompendo a visão altiva falseada. Um novo olhar misericordioso te devolverá a
si mesmo quando conseguires devolver aos outros o que lhes pertencem: o direito
de ser pessoa.
terça-feira, 29 de dezembro de 2020
Pandemia 2020: Aprenderemos?
Quantas perdas nesse ano. Gente famosa, pessoas anônimas. Pelo vírus corrente ou por outros fatores. Famosos ou anônimos, abastados ou vulneráveis, todos possuem a mesma dignidade, o mesmo valor, o mesmo fim em si.
Não são números! Não são contabilizações! São vidas humanas! Quantas familias envolvidas que choram as perdas de seus entes queridos. Quantas histórias que viraram recordações na mente de quem o coração falta um pedaço.
Os humanos assimilarão o aprendizado? Os homens contemporâneos se tornarão melhores no ocaso pandêmico? Cada qual responda por si. Sou um realista otimista. Projeto sem inocência e sem ilusões, conhecendo a humana natureza.
Inumeráveis (Bráulio Bessa)
Andre Cavalcante era professor
amigo de todos e pai do Pedrinho.
O Bruno Campelo seguiu seu caminho
Tornou-se enfermeiro por puro amor.
Já Carlos Antônio, era cobrador
Estava ansioso pra se aposentar.
A Diva Thereza amava tocar
Seu belo piano de forma eloquente
Se números frios não tocam a gente
Espero que nomes consigam tocar.
Elaine Cristina, grande paratleta
fez três faculdades e ganhou medalhas
Felipe Pedrosa vencia as batalhas
Dirigindo Uber em busca da meta.
Gastão Dias Junior, pessoa discreta
na pediatria escolheu se doar
Horácia Coutinho e seu dom de cuidar
De cada amigo e de cada parente.
Se números frios não tocam a gente
Espero que nomes consigam tocar.
Iramar Carneiro, heroi da estrada
foi caminhoneiro, ajudou o Brasil.
Joana Maria, bisavó gentil.
E Katia Cilene uma mãe dedicada.
Lenita Maria, era muito animada
baiana de escola de samba a sambar
Margarida Veras amava ensinar
era professora bondosa e presente.
Se números frios não tocam a gente
Espero que nomes consigam tocar.
Norberto Eugênio era jogador
piloto, artista, multifuncional.
Olinda Menezes amava o natal.
Pasqual Stefano dentista, pintor
Curtia cinema, mais um sonhador
Que na pandemia parou de sonhar.
A vó da Camily não vai lhe abraçar
com Quitéria Melo não foi diferente.
Se números frios não tocam a gente
Espero que nomes consigam tocar.
Raimundo dos Santos, um homem guerreiro
O senhor dos rios, dos peixes também
Salvador José, baiano do bem
Bebia cerveja e era roqueiro.
Terezinha Maia sorria ligeiro
cuidava das plantas, cuidava do lar
Vanessa dos Santos era luz solar
mulher colorida e irreverente.
Se números frios não tocam a gente
Espero que nomes consigam tocar.
Wilma Bassetti vó especial
pra netos e filhos fazia banquete.
Yvonne Martins fazia um sorvete
Das mangas tiradas do pé no quintal
Zulmira de Sousa, esposa leal
falava com Deus, vivia a rezar.
O X da questão talvez seja amar
por isso não seja tão indiferente
Se números frios não tocam a gente
Espero que nomes consigam tocar.
segunda-feira, 12 de outubro de 2020
Doce infância
Deus e os meus pais. Criador e cocriadores. Deus me quis por meio dos meus pais, Rogério e Gina.
Da rua Waldemar Martins, das bolinhas de gudes, das pipas, dos piões, dos esconde-escondes, do futebol, das brigas, das irmandades, das calçadas cheias de gente conversando e que não tinha tempo e nem hora pra acabar. Minha infância teve cheiro de bairro, do Parque Peruche.
Do alto de um muro da minha casa eu aprendi a contemplar o pôr-do-sol, depois de ter empinado uma pipa. Pôr-do-sol, de uma linda tarde do Parque Peruche, como um espaço da epifania divina e das possibilidades humanas.
Dos primeiros ritmos, da Aquarela de Toquinho que logo cedo me ensinou que o futuro é uma astronave que tentamos pilotar, que não tem tempo e nem piedade, nem tem hora de chegar. De Maria, Maria, de Milton Nascimento, essa criança ouviu que quem traz na pele essa marca, possui a estranha mania de ter fé na vida.
Dos primeiros amores, das primeiras dores, dos primeiros sins, dos primeiros nãos, da alegria de andar de bicicleta depois de alguns bons tombos, dos primeiros acordes que me colocaram no processo humanizante.
Dos amigos com quem vivi e convivi. Muitos casaram, tiveram filhos, outros não, outros solteiros, outros viúvos e de outros não se sabe o paradeiro.
De outras mães, vós, pais, vôs , irmãos que tive. De Dona Irene, Seu Sérgio, Seu Jader, Dona Ana, Priscila, Ronald, Pamela e Tânia.
Se findou ao chegar a adolescência, e eu, apressado na chegada da vida adulta. E do alto da vida adulta, forjo esses versos nas lágrimas e memórias, fruto das vivências de outrora, da minha infância, com saudade de regressar. Cheiros, afetos, pessoas, risos, cores, doces, chuva, terra, aniversários.
Dissolvida na adolescência, amalgamada na juventude e que por alheiamento emerge na vida adulta, persistirá na minha velhice e me fará ser criança ao entardecer da vida que amanhecerá!
Eis um texto eternamente inacabado, no qual nunca terei a competência de fechá-lo! As vivências são mais fortes do que as memórias. As memórias mais fortes do que as palavras.
terça-feira, 29 de setembro de 2020
O primeiro e o derradeiro olhar - 27-09-98
Do primeiro ao derradeiro olhar. A têmpera foi forjada nas pequenas alegrias e tristezas artesanais. Havia um brilho no seu olhar. Quis a circunstância da vida que esse brilho não ficasse apenas no fundo do seu olhar. Você se transmudou naquele brilho luminoso. É por isso que sua vida vence a morte: "E quando amanhecer, o dia eterno a plena visão, ressurgiremos por crer, nessa vida escondida no pão."
sábado, 12 de setembro de 2020
O Primeiro Amor e o amor primeiro
O tempo já não passa mais para ti. Não estás sujeita às transitoriedades dessa terra. Venceste o espaco-tempo em que viveste. 12-09-79, Deus te quis humana e mulher. Mulher que se tornava humana e humana que se tornava mulher. No alto da saudade, há uma espera que não se deixa desesperar, um silêncio que transmite sem dizer, um compasso que não se deixa descompassar. Celebra tua vida continuada com o Eterno Amor. O Primeiro Amor e o amor primeiro. Nem da fé e esperança necessitas mais. Eu ainda sim, imerso na incompletude. Tenho saudade Dele e de você. Dê um beijo Nele por mim. Minha oração é o jeito de te abraçar e de dizer, uma vez mais, um eu te amo, que liga a terra ao infinito, na lágrima que cai e no sorriso agradecido.
quarta-feira, 19 de agosto de 2020
A fé reconfigura a saudade
O tempo que separa da última vez em que nos vimos é o mesmo tempo que fez nossas vidas se encontrarem.
Do primeiro ao derradeiro olhar, histórias trançadas, temperadas nas intempéries e nos sabores da existência.
Como não lembrar daquela moça que aliava tão bem a espiritualidade carismática e a espiritualidade vicentina, dos mais pobres dentre os pobres ?
Também quis se formar no entendimento da psiquê humana, fez da sua vida uma oferta gratuita aos que tinham machucados na alma!
Cássia muito se aproximou da não-palavra do que à palavra.
Por isso que a tarefa de te descrever não é trivial.
A complexidade da sua simplicidade se coloca naturalmente.
Os porquês quantitativos e qualitativos não te trarão de volta.
Os "para quês" também não te trarão de volta, mas poderão fornecer subsídios na caminhada.
Descobri o que é ser um com você!
Quando se descobre o significado de ser um, não importa viver aqui,
nesse tempo e espaço ou no supra-físico, afinal fomos, somos e seremos um.
Não foi o contrato de casamento que nos fez um. Mas a benção sacramental, ao pé do altar, selou essa unidade que ninguém pode destruir.
Cada momento vivenciado juntos. Os sorrisos. As lágrimas. As idas. As vindas. O reencontro.
As confissões ao pé do ouvido. O que os olhares revelavam sem nada dizer. Não cabiam nas palavras.
A aliança temporal foi quebrada sem sequer arranhar a aliança da alma.
Não há abismo nessa ausência, pois o mesmo amor que tornou a nossa vida uma unidade, ainda que incompleta e imperfeita,
fez a mim como eu sou e fez você como foste e sempre serás!
A vida partilhada nas minúcias.
Construímos a nossa eternidade na fugacidade do tempo.
Nem a morte impede um amor que se foi, se ele continua sempre aqui!
A luz do seu olhar que tanto encontrou aos outros.
Seu coração aberto onde tantos encontraram abrigo.
Seu sorriso pertence para sempre a cada coração que te encontrou!
Uma lágrima no sorriso.
Um pôr-de sol no amanhecer.
Uma incurável saudade no processo humano de ser.
Seu terno olhar sempre será um estímulo para prosseguir na vida.
Seu coração aberto continua a ser minha inspiração.
Mil vezes com você me casaria, ainda que soubesse do dia de sua partida.
Viver como se fosse o primeiro e o último dia da vida.
Na passagem entre a sala e o quarto se agudiza o menino que carece do seu abraço.
Como um cruzado nominalista, sigo pela existência acreditando que a tal felicidade, cantada e decantada nas publicidades e canções, não tem razão de ser no tempo.
Apenas momentos felizes ao longo do caminho que se forja caminhando.
Momentos felizes alinhavados sob a ternura gratuita do Senhor.
E se pude ser feliz, é porque pude partilhar e compartilhar a minha vida por você, com você e em você.
A recíproca também é verídica.
Em tudo o que eu fizer sendo, também serás comigo!
O preço do infinito da tua ausência é a saudade, exposta à carne viva, saberá esperar!
A fé reconfigura a saudade!
Já conheces o lado verdadeiro da Vida!
Já conheces, sem imagens e sinais, Àquele que te amou e te chamou à vida!
Bendito seja o Senhor que te amou e te chamou à vida!
Essa vida que se fez partilha e comunhão com tantos e com Deus.
Sua vida é um maravilhoso hino de louvor ao Criador que sempre repercutirá entre nós!
Eu daqui, dessas paragens transitórias.
Você daí, dessas margens sem margens!
"Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo." (Pablo Neruda)
No dia de São Bernardo de Claraval, o cantor das maravilhas de Deus na vida de Maria,
seu no Senhor!