terça-feira, 3 de novembro de 2009
Valéria: a representação da inocência em forma de gente
Dia 23 de Outubro, I Jornada Pedagógica na UNIP। Uma das coisas que mais me chamou a atenção, diante das belas explanações sobre a Educação e a Pedagogia na Unip, foi a história de Valéria. Uma criança, uma menina, uma mulher de 30 anos com a síndrome de Down, carrega marcas profundas de discriminações, preconceitos. Ouvi atentamente o relato do seu Pai aos futuros pedagogos. Família simples, humilde e sem o conhecimento do que vinha a ser a síndrome de Down, ao serem informados pelos médicos, após o nascimento de Valéria. Por um bom tempo, os pais de Valéria esconderam o fato para seus familiares do interior, com o argumento que a criança nascera prematuramente, e requereria cuidados mais específicos. Além de não saberem o que vinha ser tal síndrome, mal poderiam saber o que viria pela frente. E era chegada a hora de colocar Valéria na escola. A primeira, a segunda, a terceira escola... a diretoria não aceita crianças especiais, a quinta, a sexta e a sétima... a diretoria não educa crianças doentes, pois são incômodas! Tentaram a oitava e a nona e mais uma descarga impiedosa da discriminação e preconceito. Na décima, a secretária estava assinando a matricula, quando a diretora entrou e sala e perguntou o que ela estava fazendo. Ela respondeu serenamente que estava matriculando a criança. Então a diretora disparou: "Já não te disse que aqui não trabalhamos com crianças doentes!" Contrariada e resignada, cumpriu a ordem manifesta. Os pais, mais uma vez desolados, estavam indo embora, quando encontraram uma professora que os abordou. Dissera que havia escutado a conversa e que gostaria de interferir no caso. Interferiu tanto que conseguiu a matrícula de Valéria, que foi a sua aluna. Passado algum tempo, Valéria não podia mais ficar naquela escola, pois a educadora teve a sensibilidade de perceber que ela estava à frente das crianças especiais que havia ali e se permanecesse, ela poderia regredir. Estudou em outros colégios. Desde pequena, sempre se encantou com a dança, e os pais investiram. Depois de tudo o que ela passou hoje Valéria é orientadora pedagógica e trabalha com a professora, ou melhor, com a Educadora com E maiúsculo que ela encontrou em sua caminhada. Lá no auditório da Unip, Valéria foi chamada para dançar, e não disse nenhuma palavra. É que por vezes, os conceitos que insistimos ou que nos obrigam a armazenar em algum lugar no porão da mente, seqüestra os verdadeiros significados. A dança de Valéria, não me demonstrou uma dançarina exímia, uma por que não precisa, outra por que não sou crítico de dança. Límpida alma de Valéria, doce inocência, candura do alto que o mundo ainda hoje não se cansa de ignorar. Criança toda na mulher inteira, juro que eu queria dar a minha racionalidade para ter uma gota da sua inocência. Penso na família e nas crianças especiais do mundo inteiro que passam por isso que Valéria passou, mas que não conseguiram transpor a arrogância e o descaso de algumas "autoridades" educacionais que fazem tudo, menos promover o homem para além-fronteiras-de-si-mesmo. Ainda que as leis estivessem à favor das crianças especiais, os educadores e pedagogos não estão preparados para lidar com as crianças especiais. E ainda que sejam muito bons naquilo que fazem, não é a técnica que será decisiva, mas o seu coração, a sua humanidade de acolher essa criança especial como se fosse seu filho único. A história de Valéria é uma dentre milhões que ocorrem diante do nosso nariz e que passam desapercebidamente por nós. Dentre as diversas lições preciosas desse ensinamento, esta é a mais bela para a educação e o ensino: que as crianças não sejam adultos precoces e que os adultos possam trazer em si uma dose de inocência e gratuidade! Obrigado, Valéria, nem sei se terei a oportunidade de te reencontrar novamente... o que sei é que sua história encontrou morada em mim e eu já não posso mais me esquecer...
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