sábado, 20 de fevereiro de 2010
Dinheiro que serve o homem e se transforma em serviço
Tempo de quaresma, tempo de refletir a vida, rever antigas lições, evitar os erros antigos. Tempo de preparo. Façamos da nossa existência um gesto concreto de amor ao próximo, principalmente com as pessoas de casa. Oração tem ação na sua terminologia, e não significa algo estático; é dinâmico e impulsiona a encarnação da fé em obras. Não fiquemos somente com a fé; seria alienação! Não fiquemos somente com as obras; seria mero assistencialismo! Deus caminha conosco, maravilha-se com o homem, obra de suas mãos, mais do que o homem maravilha-se com Deus. A campanha da Fraternidade de 2010 nos convida a refletir sobre a relação entre Economia e Vida. O dinheiro deveria servir o homem e não o contrário. O homem atual é refém do dinheiro, que é cultuado como se fosse uma divindade. Cristo ensinou que o verdadeiro poder e a verdadeira autoridade vem do servir e não do ser servido. Repensemos nossas relações que são extremamente capitalistas e com terceiras intenções.
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
Deu Pena, Deu Pena Branca!
Tive a graça e o privilégio de conhecer pessoalmente o querido Pena Branca. Conheci nos bastidores do Canal do Boi em 2002, na oportunidade que tive de me apresentar pelo programa Show Brasil. Típico mineiro, fala pouco, observa e escuta bastante. Tivemos tempo para conversar sobre a música sertaneja, sobre as composições e a carreira brilhante dele e de seu irmão Xavantinho. Algumas horas de conversa me levaram a concluir que o sucesso e a fama nunca fizeram a cabeça de Pena Branca e Xavantinho. É que sua simplicidade, sua ingenuidade caipira nunca permitiram. Fiel à sua raiz e tradição permaneceu até o fim. Demonstrou a todos que é possível fazer boa música, sem deixar de primar por uma mensagem que seja clara, distinta e bela. Mostrou que sucesso é bem diferente do que estar na midia. Contribuiu muito com a cultura mineira, brasileira, a música sertaneja raiz em geral. Deixou rastros luminosos de honestidade, humildade, retidão e de amor ao que fazia, pois sabia do papel social que o artista exerce na sociedade brasileira. Uma cena que nunca mais eu esquecerei foi quando ele me emprestou sua viola para tocar, para o espanto de seu empresário que me disse que ele não costumava emprestar essa viola para ninguém e que eu tinha sido o primeiro. Naquela época, ainda não tocava viola, peguei-a para apreciar mais de perto. Talvez fosse uma pequena semente que Pena Branca jogara em meu coração, sem eu ao menos saber disso. Fiquei sabendo que na ocasião de quando ganhou o Grammy, ele, na sua inocência, perguntou do que se tratava. Só se tratava do maior reconhecimento mundial na carreira de um artista. Já o tinha como um modelo de ser humano e de artista, agora ainda mais, apesar de agora olhar para o palco e ver o microfone e a viola encostada sem ninguém. Sem som da viola pontilhada, sem o som de sua voz que cantava as belezas desta terra. A vida tem dessas coisas. Muitas vezes nos perguntamos porque pessoas boas como Pena Branca se vão, sem sequer uma despedida. Mas de que adiantaria uma despedida, se meu peito arderia de dor do mesmo jeito? Talvez seja para nos ensinar a viver com intensidade, como se fosse as últimas horas da vida, para fazer o que mais gosta com competência e amor, pois isto é consequência de uma profunda realização existencial como ser humano. Convoco a todos que se interessam pela boa música buscarem mais o conhecimento sobre a vida e obra dessa dupla maravilhosa: Pena Branca & Xavantinho. A verdadeira arte nunca morre com seu artista, pode passar seu autor, pode passar quem a concebeu. Ela continua, desde aquela pessoa que canta despretensiosamente sua canção, até aqueles que fazem do cantar a sua profissão. Deus agora não somente tem anjos cantando; tem a dupla completa: Pena Branca & Xavantinho que no céu cantam as belezas desta terra. Deu Pena...Deu Pena Branca!
Mercia Viviane, estrela da terra que o céu levou
O que dizer quando a vida nos rouba uma pessoa incomum? Mercia, ou , Mel, era uma dessas pessoas raras e únicas que cativava sem fazer o menor esforço. Era Veterinária, tinha uma vocação bonita de cuidar dos animais. Realmente era uma pessoa imersa e realizada naquilo que fazia. Não tive, infelizmente, muitos momentos de amizade com a Mel, todavia, os poucos foram o suficiente para ter o exato conhecimento de que não se tratava de uma pessoa qualquer: tratava se de alguém que era especialista em deixar marcas positivas em alguém. Lembro quando participamos do festival de música com o pessoal da Santa Cecília, e na ocasião e ficamos em terceiro lugar ela junto com a Lurdinha pegando o troféu. Lembro da nossa algazarra na pizzaria. Lembro de quantos ensaios ela teimando em tocar no violão a canção que queria tocar. Sua voz suave combinava com sua personalidade, sua especialidade era ser afável com as pessoas. E porque não falar das vezes que insistia em cantar aquela mesma melodia do salmo e sempre errava. Quando acertou, a comunidade reconheceu a dedicação e aplaudiu-a. O que não foi nenhum pouco afável foi o câncer, no qual travou batalhas duríssimas. Mas Mel nunca desistiu, sempre achou que poderia sair dessa. Em 03-02 não resistiu e partiu para a casa do Pai. Na missa de sétimo dia foi homenageada, e pude perceber o quanto era querida. Pude perceber o que antes não percebia: com sua maneira afável de ser, Mel tinha deixado uma marca bonita em mim. As lágrimas banharam o meu rosto e compreendi que o efeito do verdadeiro bem não faz alarde; é silencioso, trabalha no remanso da calma que não tem pressa de chegar, pois no fundo, sabe que chegará. Diante da homenagem feita a ela pelos seus amigos, a comunidade reconheceu novamente sua dedicação e aplaudiu-a. Descobri que ela gostava uma das minhas músicas que compus que se chama Contradição que diz que devemos ser como a vela que é o que é quando ilumina, mesmo estando a chorar. Ela foi essa vela que iluminava em meio às trevas, mesmo quando a doença sugava suas forças. A vida de Mercia está pautada na tolerância e na busca incessante da unidade, ela sabia que em um mundo perdido em desencontros precisava verdadeiramente encontrar-se sob a égide da gratuidade. Quando começa a cessar as palavras, e as lágrimas rolarem, agradeço ao Criador por sua vida, sua presença, e por ensinar tantas coisas que nem eu sabia por tão pouco espaço de convivência e amizade, imagino as pessoas que realmente viveram intensamente, o misto de assombrosa dor e inebriante gratidão que tributam ao Autor da Vida. Na lembrança da missa de sétimo dia está escrito: “Deus não tirou nada de mim, apenas veio buscar o que já era dele. Muito obrigado pelo amor e carinho que eu tive dos meus familiares e amigos.” Realmente, você sabia que não eras a proprietária de sua própria vida, mas era antes um desejo divino, dom de Deus. Obrigado, amiga Mércia, deixarás saudades, não ouviremos mais nessa terra o som da tua voz quando salmodiava, quando tocavas seu violão, quando sabias ser do jeito que você era e continua sendo, só que o Criador te convocou, pois queria te ouvir pessoalmente...
Tua vida está escondida em Cristo e você a encontrou! Enquanto esperamos nesse vale de lágrimas pela irmã morte, tu já ressuscitaste. Eis que proclamavas junto com a Santa Igreja! Teu coração descansa no coração eterno de Deus! Reze por todos nós, rezaremos por você! CREMOS NA VIDA ETERNA!
sábado, 6 de fevereiro de 2010
Máscaras, identidade perdida e a afirmação da subjetividade
Estamos diante da era das máscaras. Quanto mais máscara melhor. Esconde-se o rosto e desnuda-se o corpo. O importante é segredar a verdadeira identidade e cair na folia, sem compromisso ou responsabilidade. Os povos mais primitivos da velha mãe Terra já se utilizavam deste artefato para se comunicarem com suas divindades. O que há em comum na comparação dos primórdios da humanidade e a atualidade é a ocultação da identidade. Os povos antigos escondiam sua verdadeira identidade por trás da mascara para se conformarem, de certa maneira, com a natureza. Os foliões ocultam sua verdadeira identidade para que possam se divertir sem maiores preocupações com quem seja, a não ser consigo mesmo e com o seu ego. Mas aparece um paradoxo: a identidade é amordaçada para dar vazão ao próprio ego. A ocultação da identidade passa a ser, de certa forma, uma afirmação radical da subjetividade exacerbada. Com a identidade ocultada, pode-se mostrar mais o corpo, pois passado o momento efervescente, quase ninguém mais se lembrará. Ardem-se de desejos uns pelos outros não por quererem bem ao outro, mas somente pelo corpo. Somente restarão as cinzas dos humanos que poderiam ser inteiros, plenos e realizados, mas que hoje são somente pó, são vagantes de lugar nenhum. Nietzsche dizia assim das mulheres: “Há mulheres que, por mais que as pesquisemos, não têm interior, são puras máscaras. É digno de pena o homem que se envolve com estes seres quase espectrais, inevitavelmente insatisfatórios, mas precisamente eles são capazes de despertar da maneira mais intensa o desejo do homem: ele procura a sua alma - e continua procurando para sempre.” Por isso, quando chegar à quarta-feira de cinzas, que você não chegue só o pó, chegue pessoa com um horizonte concreto de ser ainda mais gente. Tenha coragem de tirar as máscaras e olhar para você sem temer. Nesse momento, não haverá segredos entre sua identidade e você! Encontre-se!
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