
O que dizer quando a vida nos rouba uma pessoa incomum? Mercia, ou , Mel, era uma dessas pessoas raras e únicas que cativava sem fazer o menor esforço. Era Veterinária, tinha uma vocação bonita de cuidar dos animais. Realmente era uma pessoa imersa e realizada naquilo que fazia. Não tive, infelizmente, muitos momentos de amizade com a Mel, todavia, os poucos foram o suficiente para ter o exato conhecimento de que não se tratava de uma pessoa qualquer: tratava se de alguém que era especialista em deixar marcas positivas em alguém. Lembro quando participamos do festival de música com o pessoal da Santa Cecília, e na ocasião e ficamos em terceiro lugar ela junto com a Lurdinha pegando o troféu. Lembro da nossa algazarra na pizzaria. Lembro de quantos ensaios ela teimando em tocar no violão a canção que queria tocar. Sua voz suave combinava com sua personalidade, sua especialidade era ser afável com as pessoas. E porque não falar das vezes que insistia em cantar aquela mesma melodia do salmo e sempre errava. Quando acertou, a comunidade reconheceu a dedicação e aplaudiu-a. O que não foi nenhum pouco afável foi o câncer, no qual travou batalhas duríssimas. Mas Mel nunca desistiu, sempre achou que poderia sair dessa. Em 03-02 não resistiu e partiu para a casa do Pai. Na missa de sétimo dia foi homenageada, e pude perceber o quanto era querida. Pude perceber o que antes não percebia: com sua maneira afável de ser, Mel tinha deixado uma marca bonita em mim. As lágrimas banharam o meu rosto e compreendi que o efeito do verdadeiro bem não faz alarde; é silencioso, trabalha no remanso da calma que não tem pressa de chegar, pois no fundo, sabe que chegará. Diante da homenagem feita a ela pelos seus amigos, a comunidade reconheceu novamente sua dedicação e aplaudiu-a. Descobri que ela gostava uma das minhas músicas que compus que se chama Contradição que diz que devemos ser como a vela que é o que é quando ilumina, mesmo estando a chorar. Ela foi essa vela que iluminava em meio às trevas, mesmo quando a doença sugava suas forças. A vida de Mercia está pautada na tolerância e na busca incessante da unidade, ela sabia que em um mundo perdido em desencontros precisava verdadeiramente encontrar-se sob a égide da gratuidade. Quando começa a cessar as palavras, e as lágrimas rolarem, agradeço ao Criador por sua vida, sua presença, e por ensinar tantas coisas que nem eu sabia por tão pouco espaço de convivência e amizade, imagino as pessoas que realmente viveram intensamente, o misto de assombrosa dor e inebriante gratidão que tributam ao Autor da Vida. Na lembrança da missa de sétimo dia está escrito: “Deus não tirou nada de mim, apenas veio buscar o que já era dele. Muito obrigado pelo amor e carinho que eu tive dos meus familiares e amigos.” Realmente, você sabia que não eras a proprietária de sua própria vida, mas era antes um desejo divino, dom de Deus. Obrigado, amiga Mércia, deixarás saudades, não ouviremos mais nessa terra o som da tua voz quando salmodiava, quando tocavas seu violão, quando sabias ser do jeito que você era e continua sendo, só que o Criador te convocou, pois queria te ouvir pessoalmente...
Tua vida está escondida em Cristo e você a encontrou! Enquanto esperamos nesse vale de lágrimas pela irmã morte, tu já ressuscitaste. Eis que proclamavas junto com a Santa Igreja! Teu coração descansa no coração eterno de Deus! Reze por todos nós, rezaremos por você! CREMOS NA VIDA ETERNA!