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segunda-feira, 28 de junho de 2010

Solidão digital

Especialistas dizem que estamos diante do século da solidão, do século da depressão. As pessoas ainda que aglutinadas, sofrem de profunda depressão e avassaladora solidão. Antigamente, as pessoas até tinham motivos para ficarem tristes, e hoje parece que não precisam de motivos. Parecem ser ‘naturalmentes’ tristes. O quanto essa excessiva utilização de orkut, msn, twitter, skipe e afins nos desviaram do encontro com os outros. Vejo isso no ambiente de trabalho: pessoas que estão ao lado, não se olham e não se chamam na realidade, mas somente via skipe e afins. Tudo em nome da praticidade e da modernidade. Vemos surgir a olhos vistos uma nova modalidade de viciados: os viciados digitais. Mas um extremo para mais sempre vem acompanhado de um extremo para menos: os analfabetos digitais. Viciados digitais: aqueles que já não vivem sem acessar seu email, orkut, etc… Analfabetos digitais: aqueles que foram excluídos, jogados à margem da cultura dos computadores, e quase sempre identificam-se com as classes mais pobres da sociedade. O mundo virtual também permitiu que as máscaras das pessoas ficassem bem mais refinada do que antes, pois quanto maior a fragilidade, mais simulada (ou dissimulada?) é sua ‘presença’ e máscara. Poli-personalidades para somente uma vida possível. Tentáculos para seduzir, malabarismos para aparentar uma miragem que se esvanece com uma simples brisa. Nem tudo que reluz é ouro, mais sei que quando a verdade brilha, quando a sinceridade vem à tona, rompe as trevas abissais das humanas dissimulações. Tudo em nome do Eu. Mas onde reina a subjetividade exacerbada, há o próprio estilhaçamento dessa subjetividade. A solidão que era digital, que era meras combinações de bits, passou a ser real e devoradora de humanos.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Modernidade e Pós-modernidade: Vicissitudes do "Sujeito"

No último dia 26-03-2010, ocorreu o Café Filosófico, mais um evento relevante na vida do Anchietanum, obra mantida pelos padres e irmãos jesuítas para a formação da juventude. Este espaço de reflexão de construção tem por finalidade fornecer subsídios para o espanto e perplexidade diante das situações cotidianas, esta atitude que é, por sinal, o primeiro movimento do autêntico pensamento filosófico, no exercício constante de bem pensar, desenvolver o pensamento crítico, lançando luzes para possíveis soluções que sejam reais e ao alcance de todos. O clima deste encontro foi amistoso e familiar: tinha jovens, pessoas ligadas à Filosofia, Psicologia, e outras áreas, congregações religiosas, casais, família. O tema deste último Café Filosófico girou em torno da temática do sujeito nas linhas de pensamento da modernidade e da pós-modernidade. Os palestrantes começaram por especular como se constitui o sujeito ao longo da História da Filosofia. Na tradição greco-medieval, que tinha a noção de ser, da existência ligada a este sujeito e seu papel da subjetividade passava pela contemplação. Os principais representantes da Filosofia Grega Antiga vistos foram Heráclito, que dizia que tudo está em constante transformação, Parmênides, que dizia que o ser é a base de tudo o que existe, e que o mundo real é aparência e ilusão, Platão, que estabelece uma dicotomia entre mundo das idéias e o mundo das aparências, e Aristóteles que defendia a existência de um primeiro motor que desencadeou a ordem do cosmos e que não se mistura com aquilo que está no mundo. A base deste pensamento passa pela perspectiva da relação causa-efeito. Da Idade Média, a temática principal era Deus como garantia inabalável do conhecimento, seja partindo da Teologia para a Filosofia, seja partindo da Filosofia para a Teologia. Foram abordados os pensamentos de Santo Agostinho, influenciado por Platão, Plotino e Cícero e Santo Tomás de Aquino, influenciado pelos estóicos e pela filosofia de Aristóteles. Chegando à Idade Moderna, ocorre a substituição da arte religiosa pela arte do homem, tendo como idéia de fundo o rompimento com a passividade e a contemplação do sujeito. Há aqui uma verdadeira virada antropocêntrica: Deus deixa de ser a fonte segura do conhecimento e a subjetividade humana passa a assumir esse papel central na constituição do conhecimento. Foram vistos os pensadores como Descartes, que fundamentava o seu pensamento na questão de que o sujeito seria a única coisa na qual não poderíamos duvidar, Berkeley, que afirmava haver uma reciprocidade entre realidade e percepção, Hobbes, que inaugurava a linha de pensamento do estado de natureza, da auto-conservação e do contrato social, Luis XIV, que equipara o homem e o Estado, Kant, que preconizava que a coisa-em-si é inacessível, não podemos saber o que realmente é Deus, a liberdade e a imortalidade. Para ele, o conhecimento passa pelo fenômeno, e ele distinguia o sujeito entre Sujeito imediato (empírico) e Sujeito Transcendental (lógico). No seu texto, “O que é esclarecimento?” ele convida os homens a saírem da menoridade. Para Fitche, não é o homem que precisa de Deus, é Deus quem precisa do homem. E para esse pensamento, ele desenvolve o argumento que há três tipos de sujeito: Eu, Não-eu e o sujeito empírico. Já para Hegel, tudo girava em torno do Espírito Absoluto. Depois desta necessária digressão, os palestrantes adentraram nas questões da modernidade e da pós-modernidade, questões essas que tem como foco a racionalidade e a subjetividade humana, e o questionamento das definições prontas e estabelecidas. Há três grupos ideológicos dominantes: os modernos tardios, que levam com radicalidade o projeto moderno, com a finalidade de aperfeiçoar o pensamento, levando em consideração a autonomia da razão humana, os pós-modernos, que estabelecem uma ruptura com o projeto da modernidade, colocando o sujeito para pensar e inventar-se a si mesmo, e os anti-modernos, que não são adeptos aos modernos e nem aos pós-modernos, mas que buscam garantias seguras em circunstâncias históricas de outras épocas. Michel Foucault, um dos principais representantes do pensamento pós-moderno, via com ares de desconfiança a constituição do sujeito kantiano, e afirmava que a questão não era a desconstrução do sujeito, mas denunciar a pieguice do sujeito transcendental como o “Super-Sujeito”. Habermas, também pós-moderno, e um dos principais filósofos políticos vivo e em atividade, defendia que o princípio unificador do sujeito não é capaz de dar conta da abrangência do sujeito, propondo uma subjetividade situada e dialógica, onde o fundamento do sujeito é a linguagem, o comunicar-se. O pensamento pós-modernos deixa três grandes linhas-mestras para a contemporaneidade refletir: a inclusão, a responsabilidade e o bem comum. Promover a pessoa humana, comprometendo-se com a sua felicidade. A questão sobre a felicidade também é importante em um contexto marcado pelo consumismo exacerbado, um niilismo que “arruína” não somente Deus, mas que joga a subjetividade e dignidade humana na lama, aliado aos extremos individualismos e coletivismos que dispensam maiores apresentações.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Máscaras, identidade perdida e a afirmação da subjetividade

Estamos diante da era das máscaras. Quanto mais máscara melhor. Esconde-se o rosto e desnuda-se o corpo. O importante é segredar a verdadeira identidade e cair na folia, sem compromisso ou responsabilidade. Os povos mais primitivos da velha mãe Terra já se utilizavam deste artefato para se comunicarem com suas divindades. O que há em comum na comparação dos primórdios da humanidade e a atualidade é a ocultação da identidade. Os povos antigos escondiam sua verdadeira identidade por trás da mascara para se conformarem, de certa maneira, com a natureza. Os foliões ocultam sua verdadeira identidade para que possam se divertir sem maiores preocupações com quem seja, a não ser consigo mesmo e com o seu ego. Mas aparece um paradoxo: a identidade é amordaçada para dar vazão ao próprio ego. A ocultação da identidade passa a ser, de certa forma, uma afirmação radical da subjetividade exacerbada. Com a identidade ocultada, pode-se mostrar mais o corpo, pois passado o momento efervescente, quase ninguém mais se lembrará. Ardem-se de desejos uns pelos outros não por quererem bem ao outro, mas somente pelo corpo. Somente restarão as cinzas dos humanos que poderiam ser inteiros, plenos e realizados, mas que hoje são somente pó, são vagantes de lugar nenhum. Nietzsche dizia assim das mulheres: “Há mulheres que, por mais que as pesquisemos, não têm interior, são puras máscaras. É digno de pena o homem que se envolve com estes seres quase espectrais, inevitavelmente insatisfatórios, mas precisamente eles são capazes de despertar da maneira mais intensa o desejo do homem: ele procura a sua alma - e continua procurando para sempre.” Por isso, quando chegar à quarta-feira de cinzas, que você não chegue só o pó, chegue pessoa com um horizonte concreto de ser ainda mais gente. Tenha coragem de tirar as máscaras e olhar para você sem temer. Nesse momento, não haverá segredos entre sua identidade e você! Encontre-se!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Embate educacional entre Estado e Família: uma Utopia para a contemporaneidade

Cada vez mais tenho percebido que a educação das pessoas tem desaparecido. Você que pega ônibus ou metrô todo o dia, sente na pele isso que estou relatando. Se a disputa para ficar sentado é grande, nem se fala então a disputa por espaços mínimos para poder ficar de pé, ou então para se segurar. Já vi de tudo: empurrões, pontapés, cotoveladas, grandes guerras por espaços curtíssimos. Fica latente perceber a subjetividade exarcebada. A pressa tomou de súbito a gentileza e a subjetividade exarcebada raptou o encontro dos olhares. Não há espaços nem para quem poderia ter a primazia sobre ele, como idosos, gestantes e pessoas especiais. Tudo em nome do Eu, tudo em nome de mim, e tudo vai ficando assim. O que vale é o bem-estar privado em detrimento do bem-estar coletivo. Cada qual olhando para o seu próprio umbigo. Esquecemos a nossa humanidade em um universo muito distante, a bilhões de anos-luz daqui. Lançando um olhar sobre a psicologia contemporânea, constataremos que nenhum ser humano é incoerente, ele é fruto histórico, rede bem encadeada de acontecimentos marcantes. Age de acordo com sua história tecida em sua existência. Fico pensando a trama que há entre o processo educativo em que fomos formados e a realidade em que vivemos. Me questiono sobre as possíveis falhas educacionais da família. É absurdo atribuir ao estado a função de educar, uma vez que a educação é primazia da família. Leve-se em consideração que a célula-mater da sociedade está se decompondo, homens e mulheres que possuem filhos, mas renunciaram a vocação da paternidade e da maternidade. A subjetividade levada até suas últimas consequências, tão em voga, massacra o indivíduo e a própria família. Se o estado não dá conta (seja por vias do inviável, seja por desinteresse) de dar cobertura à aquilo que é de sua competência, como por exemplo, transporte público quallitativo e quantitativo, muito menos devemos esperar milagres no plano educacional do ser humano. Estamos diante de um fenômeno que tomou proporções avassaladoras no nosso tempo. Não sou homem de respostas rápidas e prontas, quero entender, quero aprender, para me posicionar e agir, sem ilusões. Mas isso não me impede de pensar que devemos procurar novos areópagos da educação, da gentileza e da gratuidade. Uma dose de utopia, que em grego, quer dizer um não-lugar, um ideal, um lugar que não possua a condição empírica, não faz mal para um mundo puramente instrumental.