terça-feira, 20 de abril de 2010

Resgate filosófico-praxiológico do amor

O universo das relações humanas tem demonstrado uma faceta negra: o ‘amor’ enquanto uma conveniência pessoal: amar o que EU quero, como EU quero, onde EU quero. Na enciclica Deus Caritas Est, Bento XVI, aprofunda o diagnóstico de época de nossa sociedade: a palavra amor foi desfigurada de sua verdadeira conotação. Usa-se e abusa-se dessa palavra. Em Platão, temos a distinção do Amor Eros, Philia e Ágape. Eros é o amor entre um homem e uma mulher, no qual não tem a sua gênese na inteligência e nem na vontade, mas sob certo aspecto se impõe ao ser humano. Ágape é o amor gratuito, desprendido, que se esvazia em prol do outro, é o amor sagrado. Philia é o amor entre amigos, o bem querer o outro, não distante de uma fidelidade mútua e recíproca. No evangelho joanino, a palavra utilizada para a relação entre Jesus e seus discípulos é o Philia. No Novo Testamento, em geral, é utilizada a palavra Ágape. Os autores sagrados quiseram dar um enlevo novo para a palavra Ágape, que é o específico novo da tradição cristã. Todavia, nos escritos bíblicos não se vê a incidência do Eros. A partir desse contexto, Nietzsche levanta a questão de que o cristianismo teria dado veneno a beber ao eros, que, embora não tivesse morrido, daí teria abraçado o impulso para degenerar em vício. Em simples palavras, na alegação nietzchiana, o cristianismo destruiu o Eros. O Eros, desde a Filosofia Antiga, era visto como comunhão com o sagrado. Todavia, desde o aparecimento do monoteísmo (fé em um único Deus), os escritos vétero-testamentários preteriram o Eros como ‘perversão da religiosidade’. Todavia, a fé em um Deus único, denuncia a falsa divinização do Eros, pois as ‘prostitutas sagradas’ que teriam a ‘incumbência’ de levar ao inebriamento divino, não são tratadas como seres humanos, não são tratadas com dignidade. Não são tratadas como ‘deusas’, mas antes como objetos. Esse inebriar não corresponde essa aparência de ligação com o divino, mas antes uma corrosão do homem, relativização do ser humano. Chegamos no ponto da semelhança entre o amor e o divino, uma proposta humilde e exigente, e não um aliciamento apologético, que nunca deve ser deixado levar pelo instinto, pelas nuances irracionais. Não se trata de preterir o Eros, mas antes passar pelo salutar deserto da purificação, do saber canalizar essa força de vida. Essa canalização fornece o devido cuidado e cura o Eros de possíveis deformações.

Um comentário:

  1. Richarr gosto muito destas definições de Platão sobre as 3 formas de amor citadas neste belo artigo, ambas tem sua importância e na minha concepção todas as formas se completam.. Na maioria das nossas relações eles são necessários, um depende do outro, basta saber identificá-los nos momentos de vivência!
    Obrigado por suas contribuições nestas reflexões, elas nos trazem conhecimento e mais interrogações..rs mas ísso não é problema!

    com estima,
    Cá!

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