sexta-feira, 9 de abril de 2010
Modernidade e Pós-modernidade: Vicissitudes do "Sujeito"
No último dia 26-03-2010, ocorreu o Café Filosófico, mais um evento relevante na vida do Anchietanum, obra mantida pelos padres e irmãos jesuítas para a formação da juventude. Este espaço de reflexão de construção tem por finalidade fornecer subsídios para o espanto e perplexidade diante das situações cotidianas, esta atitude que é, por sinal, o primeiro movimento do autêntico pensamento filosófico, no exercício constante de bem pensar, desenvolver o pensamento crítico, lançando luzes para possíveis soluções que sejam reais e ao alcance de todos. O clima deste encontro foi amistoso e familiar: tinha jovens, pessoas ligadas à Filosofia, Psicologia, e outras áreas, congregações religiosas, casais, família. O tema deste último Café Filosófico girou em torno da temática do sujeito nas linhas de pensamento da modernidade e da pós-modernidade. Os palestrantes começaram por especular como se constitui o sujeito ao longo da História da Filosofia. Na tradição greco-medieval, que tinha a noção de ser, da existência ligada a este sujeito e seu papel da subjetividade passava pela contemplação. Os principais representantes da Filosofia Grega Antiga vistos foram Heráclito, que dizia que tudo está em constante transformação, Parmênides, que dizia que o ser é a base de tudo o que existe, e que o mundo real é aparência e ilusão, Platão, que estabelece uma dicotomia entre mundo das idéias e o mundo das aparências, e Aristóteles que defendia a existência de um primeiro motor que desencadeou a ordem do cosmos e que não se mistura com aquilo que está no mundo. A base deste pensamento passa pela perspectiva da relação causa-efeito. Da Idade Média, a temática principal era Deus como garantia inabalável do conhecimento, seja partindo da Teologia para a Filosofia, seja partindo da Filosofia para a Teologia. Foram abordados os pensamentos de Santo Agostinho, influenciado por Platão, Plotino e Cícero e Santo Tomás de Aquino, influenciado pelos estóicos e pela filosofia de Aristóteles. Chegando à Idade Moderna, ocorre a substituição da arte religiosa pela arte do homem, tendo como idéia de fundo o rompimento com a passividade e a contemplação do sujeito. Há aqui uma verdadeira virada antropocêntrica: Deus deixa de ser a fonte segura do conhecimento e a subjetividade humana passa a assumir esse papel central na constituição do conhecimento. Foram vistos os pensadores como Descartes, que fundamentava o seu pensamento na questão de que o sujeito seria a única coisa na qual não poderíamos duvidar, Berkeley, que afirmava haver uma reciprocidade entre realidade e percepção, Hobbes, que inaugurava a linha de pensamento do estado de natureza, da auto-conservação e do contrato social, Luis XIV, que equipara o homem e o Estado, Kant, que preconizava que a coisa-em-si é inacessível, não podemos saber o que realmente é Deus, a liberdade e a imortalidade. Para ele, o conhecimento passa pelo fenômeno, e ele distinguia o sujeito entre Sujeito imediato (empírico) e Sujeito Transcendental (lógico). No seu texto, “O que é esclarecimento?” ele convida os homens a saírem da menoridade. Para Fitche, não é o homem que precisa de Deus, é Deus quem precisa do homem. E para esse pensamento, ele desenvolve o argumento que há três tipos de sujeito: Eu, Não-eu e o sujeito empírico. Já para Hegel, tudo girava em torno do Espírito Absoluto. Depois desta necessária digressão, os palestrantes adentraram nas questões da modernidade e da pós-modernidade, questões essas que tem como foco a racionalidade e a subjetividade humana, e o questionamento das definições prontas e estabelecidas. Há três grupos ideológicos dominantes: os modernos tardios, que levam com radicalidade o projeto moderno, com a finalidade de aperfeiçoar o pensamento, levando em consideração a autonomia da razão humana, os pós-modernos, que estabelecem uma ruptura com o projeto da modernidade, colocando o sujeito para pensar e inventar-se a si mesmo, e os anti-modernos, que não são adeptos aos modernos e nem aos pós-modernos, mas que buscam garantias seguras em circunstâncias históricas de outras épocas. Michel Foucault, um dos principais representantes do pensamento pós-moderno, via com ares de desconfiança a constituição do sujeito kantiano, e afirmava que a questão não era a desconstrução do sujeito, mas denunciar a pieguice do sujeito transcendental como o “Super-Sujeito”. Habermas, também pós-moderno, e um dos principais filósofos políticos vivo e em atividade, defendia que o princípio unificador do sujeito não é capaz de dar conta da abrangência do sujeito, propondo uma subjetividade situada e dialógica, onde o fundamento do sujeito é a linguagem, o comunicar-se. O pensamento pós-modernos deixa três grandes linhas-mestras para a contemporaneidade refletir: a inclusão, a responsabilidade e o bem comum. Promover a pessoa humana, comprometendo-se com a sua felicidade. A questão sobre a felicidade também é importante em um contexto marcado pelo consumismo exacerbado, um niilismo que “arruína” não somente Deus, mas que joga a subjetividade e dignidade humana na lama, aliado aos extremos individualismos e coletivismos que dispensam maiores apresentações.
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