terça-feira, 8 de junho de 2010

E o apartheid ainda não cessou...

Uma copa do mundo não demonstra somente aspectos relacionados ao futebol, mas revela ao mundo as peculiaridades da cultura do país-sede. No caso da África do Sul, olhando suas páginas históricas, como não se deparar com o Apartheid? O Apartheid, que na língua africâner significa "separação", representa uma história de segregação entre "brancos" e "negros". Uma política de segregação racial que foi implementada como lei. Os negros, que representavam cerca de 70% da população nativa, eram proibidos de votar, eram preteridos de inúmeros empregos. O poder estava nas mãos dos "brancos", 30% da população nativa, que detinham muitos privilégios em detrimento da maioria da população local. Dentre as diversas proibições que o Apartheid asseverava, estava a proibição de casamentos entre negros e não-negros, imposição da declaração racial como "negro", "branco" ou "mestiço", proibição de pessoas de "raças diferentes" de frequentarem as mesmas instituições públicas, retaliações na educação das crianças "negras", criação de 'pátrias' para os negros. O que está por trás dessa idéia de segregação do Apartheid é a falsa concepção da superioridade das raças, tema muito ligado à idéia de raça pura, ariana do nazi-fascismo europeu, no intervalo entre a 1º e a 2º guerra mundial. Como no nazi-fascismo, muitas vidas tombaram, muito sangue foi derramado para que enfim, se chegasse ao fim. Como de toda luta, sempre há um lider que encarna o espírito de resistência, surge Nelson Mandela, que tinha sido condenado à prisão perpétua por se posicionar contra a política de segregação racional. Em 1973, as Nações Unidas lança o texto de supressão ao crime do Apartheid, condenando toda e quaisquer políticas que fomentem a segregação racial. Em 1976 ganha força, mas somente com a eleição de Mandela em 1994 que o Apartheid oficial chega a um termo, onde a constituição foi totalmente reformulada. Mas não há como negar que essa política segregacional deixou marcas profundas na sociedade e na cultura sul-africana. Para se ter uma vaga idéia sobre a problemática, ainda é muito delicado falar abertamente sobre o tema no páis. Ainda há muitas ilhas de apartheid. Na vida prática e no sub-mundo da cultura, há ainda inúmeras situações de preconceito, discriminação e racismo, mesmo que hoje, os "negros" tenham chegado ao poder. E os conceitos de preconceito, discriminação e racismo são distintos, mas ligados ainda à infeliz raiz da raça pura. No mundo inteiro há vários apartheid's, como no Brasil, a escravidão informal anda solta pelos recônditos de nossa terra tupiniquim. Só o fato da copa ser em terra sul-africana, já é uma conquista relevante para a consolidação da abolição definitiva do apartheid. Que a copa na África do Sul, ainda que esse motivo possa ser raso e superficial, possa ser causa de verdadeira transformação social, cultural. E, na verdade, já está havendo uma transformação progressiva, pelo andar progressivo da história e a atual orientação política sul-africana. Somado a esse esporte, que já uniu tantas vezes a tantas nações diferentes, acho que podemos ter ainda mais mudanças. Mas, ainda há muito o que fazer, e informalmente, o apartheid ainda não cessou...

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