Angustia-me querer ser alguém. Angustia-me o fato de que não sou aquilo que gostaria. Entre o que fui, o que sou e o que serei há uma linha coerente que interliga passado, presente e futuro. Estou inteiramente tecido nesta costura existencial. Mas essa linha coerente da existência é descontínua, muito semelhante a dinâmica da respiração e das batidas do coração. Intervalos fortes e brandos que vão se sucedendo e que se renovam sem deixar de se enternecer. Sou tecido de possibilidades reais e possibilidades potenciais, consolidação daquilo que foi possível, que ainda não passa se uma mera possibilidade. Entre a presença e a ausência do ser, emerge a angústia. Escolhas, hesitações e indecisões fizeram com que eu fosse o que fosse para ser o que posso ser. Que escolhas são escolhas, isso é evidente. Mas que hesitações e indecisões também são maneiras de escolher, isso já não é tão claro. Kierkegaard dizia que a angústia surge das possibilidades. A escolha é escolher uma coisa e negar a outra. Traz uma dialética do que se escolheu e daquilo que se rejeitou. Na indecisão, de certa, maneira, opto pela paralisia no processo de escolher. Sou a escolha que faço, que traz em seu contrário aquilo que rechaço. Escolho da mesma maneira de como sou escolhido. Angustio-me ao escolher, angustio-me ao ser escolhido. Não se escapa da existência sem passar pela angústia. Por isso é que muitos chegam ao suicídio, pois não souberam lidar com a angústia. Quando muitos optaram pelo suicídio, fizeram por escolha e também por fuga de outras escolhas, dilemas sempre presentes. Isso é angústia ao quadrado. O deserto da angústia é um evento universalizante. É seguir escolhendo, passando por angústias, mas escolhendo autenticamente o que vale a pena na vida. Talvez, uma brecha para pensar a realização humana esteja diante de nós.
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