A questão que perpassa o pensamento de Sêneca é seguir a natureza. Há duas escolas que duelam nesta questão, a saber: o epicurismo e o estoicismo. A vertente epicurista prega que o seguir a natureza, corresponde a dar asas aos instintos e as paixões humanas. A vertente estóica versa por preconizar que o seguir a natureza é, antes de tudo, desenvolver e aperfeiçoar a parte mais nobre do homem: a razão. As duas teses são diametralmente opostas: uma enfatiza que se deve dar vazão aos instintos, e a outra, anuncia que a razão é o principal elemento do seguir a natureza. Vejamos. O homem ocupado tem as características de se apegar ao amanhã, e se esquecer do hoje, como também de se encher de diversas atividades e passatempos que o impeçam o se debruçar sobre a sua própria existência e refletir. Por não viver o presente, ele cria inúmeras expectativas e projeções irreais e falsas acerca do futuro. Neste aspecto, sua vida se torna breve, não em sentido cronológico, mas no sentido da intensidade de viver. E por estar enclausurado nas efemeridades do tempo, cada vez mais se aproxima do particular, distanciando-se do universal. Ao contrário, o homem livre possui as características de estar absorvido inteiramente pelo seu presente. No homem livre, não há carência e nem excesso de tempo: cada momento é uma oportunidade de se aperfeiçoar e ser melhor. Horácio, poeta grego e contemporâneo de Sêneca I a.C, em seu poema Ode (I, XI) afirma: “Tu não procures, conhecer não deves, o fim que a mim, A ti concederam os deuses, ó Leucone, nem experimentes os números babilônicos. Melhor sofrer o que quer que seja! Seja muitos invernos, seja o último que Júpiter te concedeu, e que agora o mar Tirreno quebra contra os rochedos, sejas sabia, filtre os vinhos, e pelo curto espaço de tempo suprimas qualquer longa esperança. Enquanto falamos, o tempo invejoso foge: aproveita o dia, (carpem diem) muito pouco crédula no que virá.” Eis aqui o trecho do famoso trecho do carpem diem, cuja tradução mais aproximada é a do colher o dia. A preocupação horaciana é no sentido de que o hoje tem a necessidade de ser vivido intensamente, sem maiores apegos no que virá no dia de amanhã e de que os homens possuem a estranha tendência de informarem sobre o que virá e sobre qual seja o seu fim. Assim se encontram fazendo planejamentos minuciosos e calculistas, debruçando-se somente sobre o que virá, e, portanto, dando as costas ao seu tempo presente. Já que o passado é conhecido do homem, o já foi, e o presente, de certa forma, já ser conhecido, o amanhã causa medo e pavor, pois é uma fronteira desconhecida para o homem. E para se precaver e cercar-se de cuidados, às vezes de perigos imaginários e até ilusórios, ele apega-se às coisas materiais, bem como a acumulação de riquezas e esquece-se de colher o dia, que generoso a eles se oferece. Há uma inversão de finalidades: o indivíduo lembra que é preciso se atentar ao que virá, dando às costas para o seu presente, fazendo com que a memória daquilo que será passado seja a pior possível. Com isso, a sua verdade não é a de viver a vida de maneira significativa, mas tão somente de passar o tempo, e de simplesmente existir. O grande êxito do homem livre é que ele utiliza a meditação em seu próprio benefício, refletindo sobre as boas e más coisas que ocorreram, para fazer com que o bem que fez continue e que o mal que causou ele não mais cometa. Neste sentido, o homem livre afasta-se do particular, das efemeridades do tempo, e se aproxima cada vez mais da estrada da eternidade. terça-feira, 30 de novembro de 2010
Seguir a natureza: um café com Epicuro, Sêneca e Horácio
A questão que perpassa o pensamento de Sêneca é seguir a natureza. Há duas escolas que duelam nesta questão, a saber: o epicurismo e o estoicismo. A vertente epicurista prega que o seguir a natureza, corresponde a dar asas aos instintos e as paixões humanas. A vertente estóica versa por preconizar que o seguir a natureza é, antes de tudo, desenvolver e aperfeiçoar a parte mais nobre do homem: a razão. As duas teses são diametralmente opostas: uma enfatiza que se deve dar vazão aos instintos, e a outra, anuncia que a razão é o principal elemento do seguir a natureza. Vejamos. O homem ocupado tem as características de se apegar ao amanhã, e se esquecer do hoje, como também de se encher de diversas atividades e passatempos que o impeçam o se debruçar sobre a sua própria existência e refletir. Por não viver o presente, ele cria inúmeras expectativas e projeções irreais e falsas acerca do futuro. Neste aspecto, sua vida se torna breve, não em sentido cronológico, mas no sentido da intensidade de viver. E por estar enclausurado nas efemeridades do tempo, cada vez mais se aproxima do particular, distanciando-se do universal. Ao contrário, o homem livre possui as características de estar absorvido inteiramente pelo seu presente. No homem livre, não há carência e nem excesso de tempo: cada momento é uma oportunidade de se aperfeiçoar e ser melhor. Horácio, poeta grego e contemporâneo de Sêneca I a.C, em seu poema Ode (I, XI) afirma: “Tu não procures, conhecer não deves, o fim que a mim, A ti concederam os deuses, ó Leucone, nem experimentes os números babilônicos. Melhor sofrer o que quer que seja! Seja muitos invernos, seja o último que Júpiter te concedeu, e que agora o mar Tirreno quebra contra os rochedos, sejas sabia, filtre os vinhos, e pelo curto espaço de tempo suprimas qualquer longa esperança. Enquanto falamos, o tempo invejoso foge: aproveita o dia, (carpem diem) muito pouco crédula no que virá.” Eis aqui o trecho do famoso trecho do carpem diem, cuja tradução mais aproximada é a do colher o dia. A preocupação horaciana é no sentido de que o hoje tem a necessidade de ser vivido intensamente, sem maiores apegos no que virá no dia de amanhã e de que os homens possuem a estranha tendência de informarem sobre o que virá e sobre qual seja o seu fim. Assim se encontram fazendo planejamentos minuciosos e calculistas, debruçando-se somente sobre o que virá, e, portanto, dando as costas ao seu tempo presente. Já que o passado é conhecido do homem, o já foi, e o presente, de certa forma, já ser conhecido, o amanhã causa medo e pavor, pois é uma fronteira desconhecida para o homem. E para se precaver e cercar-se de cuidados, às vezes de perigos imaginários e até ilusórios, ele apega-se às coisas materiais, bem como a acumulação de riquezas e esquece-se de colher o dia, que generoso a eles se oferece. Há uma inversão de finalidades: o indivíduo lembra que é preciso se atentar ao que virá, dando às costas para o seu presente, fazendo com que a memória daquilo que será passado seja a pior possível. Com isso, a sua verdade não é a de viver a vida de maneira significativa, mas tão somente de passar o tempo, e de simplesmente existir. O grande êxito do homem livre é que ele utiliza a meditação em seu próprio benefício, refletindo sobre as boas e más coisas que ocorreram, para fazer com que o bem que fez continue e que o mal que causou ele não mais cometa. Neste sentido, o homem livre afasta-se do particular, das efemeridades do tempo, e se aproxima cada vez mais da estrada da eternidade. terça-feira, 16 de novembro de 2010
Debulhando "A lista" de Oswaldo Montenegro
Se você fizer uma lista dos seus melhores amigos, esta lista consegue chegar à 10 pessoas? 5 pessoas? Lembre-se de quantas pessoas já passaram na tua vida, na tua existência e quantas que ficaram. Amigos de infância, amigos do bairro, amigos do colégio, amigos da faculdade, quantos restaram? Quanto ainda restará? O duro é ter que constatar o prazo de validade das relações, da amizade. A composição “A lista” de Oswaldo Montenegro tocou o meu coração. Nesta canção se desvela uma amarga verdade: nem todos os que nos prometeram amizade e amor são os que realmente ficam. Que por mais que queiramos nos cercar de verdadeiras relações e amizades, às vezes, fazemos muito pouco para preservar, cultivar uma relação. É que pessoas e relações também são sementes, flores e frutos: precisam ser cultivadas, precisam serem cuidadas. Há tantas formas de dizer que amo alguém, sem recair no calabouço do conceito. Há infinitas formas de dizer que te quero bem, sem que com isso eu possa banalizar tal ato. A intensidade de querer bem não se esgota a palavra; antes, a palavra é uma seta que aponta para esse bem. Palavra que é palavra não se encerra em si mesma; tem o dom de tocar o coração, de trazer leveza, e de transformar a terra seca
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Ou vai 'dilmavez' ou racha 'dilmavez'
