Necessária solidão, a solidão da leitura. A dificuldade de sair da maratona do dia-a-dia. O sacrifício de fazer silêncio. O martírio de ficar só. O heroismo de me encarar de frente. A coragem de se notar no espelho da palavra. A aventura de mergulhar em um mar inexplorado. Solidão de pessoas, comunhão com as palavras. Autores de tempos imemóriais e autores de hoje adentram à minha casa, sentam à minha mesa e eu só escuto. Despejam seus palavreados em minh'alma. Logo, busco a não-palavra, o não-conceito, o que não é delimitado. O limitado quando entra no domínio do que não é delimitado, admira-se, fica perplexo, pasmo. Começa a pensar em fazer extraordinariamente as coisas ordinárias do cotidiano. Solidão de pessoas, comunhão com as palavras. E palavras também são pessoas. Possuem vida ou morte próprias. Tão reais que algumas fazem viver como outras fazem morrer. Desde o começo, a palavra não é minha. Não é minha a não-palavra, pois é antes de mim. A palavra não é minha, quando a formulei em pensamento e a escrevei em um pedaço de papel, renunciei minha autoria e está em quem a recebe. A capacidade de transformar a não-palavra em palavra também não me pertence. Ora, o que me pertence afinal ? Acho que o que me pertence é o não-pertencer. Ser no não-ser. Criar no não-criar. Eis meu sentimento ao escrever, ao viver.
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