Especialistas dizem que estamos diante do século da solidão, do século da depressão. As pessoas ainda que aglutinadas, sofrem de profunda depressão e avassaladora solidão. Antigamente, as pessoas até tinham motivos para ficarem tristes, e hoje parece que não precisam de motivos. Parecem ser ‘naturalmentes’ tristes. O quanto essa excessiva utilização de orkut, msn, twitter, skipe e afins nos desviaram do encontro com os outros. Vejo isso no ambiente de trabalho: pessoas que estão ao lado, não se olham e não se chamam na realidade, mas somente via skipe e afins. Tudo em nome da praticidade e da modernidade. Vemos surgir a olhos vistos uma nova modalidade de viciados: os viciados digitais. Mas um extremo para mais sempre vem acompanhado de um extremo para menos: os analfabetos digitais. Viciados digitais: aqueles que já não vivem sem acessar seu email, orkut, etc… Analfabetos digitais: aqueles que foram excluídos, jogados à margem da cultura dos computadores, e quase sempre identificam-se com as classes mais pobres da sociedade. O mundo virtual também permitiu que as máscaras das pessoas ficassem bem mais refinada do que antes, pois quanto maior a fragilidade, mais simulada (ou dissimulada?) é sua ‘presença’ e máscara. Poli-personalidades para somente uma vida possível. Tentáculos para seduzir, malabarismos para aparentar uma miragem que se esvanece com uma simples brisa. Nem tudo que reluz é ouro, mais sei que quando a verdade brilha, quando a sinceridade vem à tona, rompe as trevas abissais das humanas dissimulações. Tudo em nome do Eu. Mas onde reina a subjetividade exacerbada, há o próprio estilhaçamento dessa subjetividade. A solidão que era digital, que era meras combinações de bits, passou a ser real e devoradora de humanos.
segunda-feira, 28 de junho de 2010
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Orlando Fedeli, o professor apologista da fé e crítico da modernidade
Tive algumas aulas com Orlando Fedeli, fundador e presidente da Montfort, que muito bem me recebeu em sua casa, entre os anos de 2005 e 2006. Muito me ensinou e muito ensinou a tantos. Tinha alma de educador e erudição refinadíssima. Um excelente historiador e como poucos. Tinha uma perspicácia viva e aguda, com refinado senso irônico e humorístico. Um dos últimos apologistas da fé cristã nos tempos atuais, em tempos de relativismo ético, moral e religioso. Um dos últimos criticos brasileiros da modernidade. Amante ardente da Idade Média, principalmente da Filosofia Patrística e Escolástica, época essa acusada, anacronicamente, de ser a "Idade das Trevas", o professor foi uma das minhas motivações para que iniciasse uma iniciação científica e TCC em Tomás de Aquino. Talvez, aqui no Brasil, ele era o mais contundente professor e cristão contra a ditadura do relativismo, denunciada pelo cardeal Joseph Ratzinger, hoje Bento XVI. Era um dos baluartes na defesa da missa tridentina no Brasil e deixa um legado muito considerável, na qual todos os que se dizem católicos deveriam tomar notar. Deixa um profundo ensinamento que os fiéis leigos estão convocados a se qualificarem cada vez mais na palavra de Deus, na tradição e no magistério dos papas. Mesmo não concordando com alguns de seus posicionamentos, não deixo de dizer o quanto ele foi importante para minha caminhada cristã, e a tantos jovens, almas caras, que levou ao cristianismo. Na tarde do dia 09.06.2010, recebi a noticia com profunda tristeza e perplexidade, que nos auge dos seus 77 anos, o professor Orlando voltou a casa do Pai das Luzes. Que Deus, a Suma e Eterna Verdade, seja o seu prêmio! Que o Senhor não leve em conta as suas misérias, mas o abrace em sua misericórdia infinita! Que receba a coroa imperecível daqueles que lutaram em favor de Deus, da Igreja Católica Apostólica Romana. Meu abraço fraterno a familia, aos membros e amigos da Associação Montfort. Lanço um hino de gratidão ao Criador pelo dom da tua vida, que continuará em Deus. Em suas finalizações de respostas no site Montfort, sempre escrevia "In Corde Iesu, semper". Descanse em paz, In Corde Iesu, semper, destemido professor!
terça-feira, 8 de junho de 2010
E o apartheid ainda não cessou...
Uma copa do mundo não demonstra somente aspectos relacionados ao futebol, mas revela ao mundo as peculiaridades da cultura do país-sede. No caso da África do Sul, olhando suas páginas históricas, como não se deparar com o Apartheid? O Apartheid, que na língua africâner significa "separação", representa uma história de segregação entre "brancos" e "negros". Uma política de segregação racial que foi implementada como lei. Os negros, que representavam cerca de 70% da população nativa, eram proibidos de votar, eram preteridos de inúmeros empregos. O poder estava nas mãos dos "brancos", 30% da população nativa, que detinham muitos privilégios em detrimento da maioria da população local. Dentre as diversas proibições que o Apartheid asseverava, estava a proibição de casamentos entre negros e não-negros, imposição da declaração racial como "negro", "branco" ou "mestiço", proibição de pessoas de "raças diferentes" de frequentarem as mesmas instituições públicas, retaliações na educação das crianças "negras", criação de 'pátrias' para os negros. O que está por trás dessa idéia de segregação do Apartheid é a falsa concepção da superioridade das raças, tema muito ligado à idéia de raça pura, ariana do nazi-fascismo europeu, no intervalo entre a 1º e a 2º guerra mundial. Como no nazi-fascismo, muitas vidas tombaram, muito sangue foi derramado para que enfim, se chegasse ao fim. Como de toda luta, sempre há um lider que encarna o espírito de resistência, surge Nelson Mandela, que tinha sido condenado à prisão perpétua por se posicionar contra a política de segregação racional. Em 1973, as Nações Unidas lança o texto de supressão ao crime do Apartheid, condenando toda e quaisquer políticas que fomentem a segregação racial. Em 1976 ganha força, mas somente com a eleição de Mandela em 1994 que o Apartheid oficial chega a um termo, onde a constituição foi totalmente reformulada. Mas não há como negar que essa política segregacional deixou marcas profundas na sociedade e na cultura sul-africana. Para se ter uma vaga idéia sobre a problemática, ainda é muito delicado falar abertamente sobre o tema no páis. Ainda há muitas ilhas de apartheid. Na vida prática e no sub-mundo da cultura, há ainda inúmeras situações de preconceito, discriminação e racismo, mesmo que hoje, os "negros" tenham chegado ao poder. E os conceitos de preconceito, discriminação e racismo são distintos, mas ligados ainda à infeliz raiz da raça pura. No mundo inteiro há vários apartheid's, como no Brasil, a escravidão informal anda solta pelos recônditos de nossa terra tupiniquim. Só o fato da copa ser em terra sul-africana, já é uma conquista relevante para a consolidação da abolição definitiva do apartheid. Que a copa na África do Sul, ainda que esse motivo possa ser raso e superficial, possa ser causa de verdadeira transformação social, cultural. E, na verdade, já está havendo uma transformação progressiva, pelo andar progressivo da história e a atual orientação política sul-africana. Somado a esse esporte, que já uniu tantas vezes a tantas nações diferentes, acho que podemos ter ainda mais mudanças. Mas, ainda há muito o que fazer, e informalmente, o apartheid ainda não cessou...
sexta-feira, 4 de junho de 2010
Um na África no Sul, outro em Brasília
Um país, muitos corações, uma esperança no mesmo grito de gol. O Brasil para a Copa, seja na copa, na sala, no quarto, não importa. É tempo de catarse, de esquecer a dura rotina da realidade, esquecer as diferenças para que possamos ser iguais em pelo menos uma coisa: como povo brasileiro. As ruas pintadas, as caras marcadas de verde e amarelo representam um povo, uma nação, que não foge a luta, que adora a própria morte porque enfrenta o embate do sobreviver, pois tem sede de viver. Uma pátria de chuteiras e quase 190 milhões de técnicos com infinitas combinações de escalações de seleções. Múltiplos corações que se transformam em um só coração, uma só alma e um só sentimento. O esporte, mais precisamente o futebol, tem esse condão de unir as mais diferentes cabeças, as mais diferentes raças, credos, ideologias. Desarma os homens das armas e das palavras. Torço pela seleção brasileira, mais torço mais pelo povo brasileiro. Que seja um momento de união, mas que não se esqueçam que logo haverá eleições. Todavia, enquanto torcemos, na calada da noite, sempre há um projeto aprovado que acaba favorecendo os imunes políticos em detrimento do povo. Todas as grandes revoluções sempre partiram do povo. Por isso é um olho na África do Sul e um olho em Brasília.
quarta-feira, 2 de junho de 2010
Diagnóstico de época da Filosofia
Há alguns que defendam que a Filosofia tem se transformado em uma História um pouco mais especializada e requintada. Há outros que defendem que não há nada mais a ser descoberto na Filosofia. Há outros que advogam pela tese de que a Filosofia ainda é uma mina de ouro a ser explorada. São três correntes que circundam o ambiente acadêmico-filosófico no Brasil, creio que também em âmbito mundial. É certo que fazer Filosofia, sem olhar o seu transcorrer histórico, é um anacronismo gigantesco. O filosofar se faz por uma relação de concordância, por uma relação de crítica, ou até mesmo por uma relação de indiferença. Na relação de concordancia, há a relação de conformidade, onde o individuo concorda plenamente com a tese do autor, mas sem estabelecer quaisquer ressalvas. Na mesma relação de concordância, o indivíduo também pode ir mais além do que uma mero consentimento filosófico; pode aprofundar a questão estudada, no que pode resultar em novas problemáticas a serem tratadas, que poderão emergir um novo conhecimento. Na relação de crítica, há aqueles que desferem uma crítica voraz, mas o fundamento de seu argumento é inconsistente. Daqui, somente a possibilidade de saber que a crítica foi ou mal elaborada, ou viciada, ou anacrônica, ou mal intencionada. Na mesma relação crítica, a crítica que se impõe sobre uma questão filosófica., se que preocupa em examinar a fundo todas as variáveis envolvidas, e que identifica os furos de idéias e argumentações, argumentos tautológicos e falaciosos. Se preocupa não somente com a formatação lógica da argumentação, também a consistência real da idéia que está sendo tratada e trabalhada. Na relação de indiferença, ou a pessoa ainda não entrou em contato com a obra, e ainda não pode emitir quaisquer considerações acerca da mesma, mas que ao tomar contato com a obra, se interessa, e daqui surge novos questionamentos, novas problemáticas e novas soluções, em maior ou menor abrangência, ou o indivíduo que já se debruçou sobre uma obra, é indiferente a questão, pois concebe que ela é desnecessária e então com sua indiferença pedante, dá um ‘ponto final’ . Deixemos a indiferença na indiferença, pois a Filosofia é construída por relações reais e concretas. O que consigo constatar é que, na postura de concordância e de crítica, tem se pautado muito mais por comentários do que por novas descobertas. As poucas novas descobertas que identifico na Filosofia, tem-se caracterizado mais por descobrir influências de um autor X no autor Y. Mas arrisco em dizer que das áreas que tem dado contribuições significativas para a Ciência é a Filosofia da mente. Será que todo conhecimento filósofico deve ser mesmo ‘útil’? Será que todo conhecimento filosófico deve ser ‘inútil’? Se o conhecimento filosófico deve ser estritamente ‘útil’, então, a Filosofia se reduziu à Epistemologia. Se o conhecimento filosófico deve ser estritamente ‘inútil, então, a Filosofia se reduziu à Estética. Penso que a Filosofia não pode deixar de ter a sua dimensão ‘útil’ e ‘inútil’, tampouco pode deixar seu horizonte histórico e atual. Não deve reduzir-se a História, nem esquecer seu passado. Não deve resumir-se na atualidade, nem rechaçar o que é atual. Não deve reduzir-se ao utilitarismo, mas deve ser útil a humanidade. Não deve resumir-se em conhecimento ‘inútil’, mas esse tipo de conhecimento deve ter seu espaço. É essa interdisciplinariedade filosófica, essa trama bem elaborada entre as disciplinas filosóficas, é que faz com que a Filosofia seja tão fascinante, mantendo durante o tempo seu elã sedutor.
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