terça-feira, 29 de novembro de 2011

A fisionomia do catolicismo no Brasil

Há, pelo menos, três tendências no comportamento do católico contemporâneo que assumem sua religião: um grupo neo-tradicional optam por assistirem missas tridentinas, em latim, cantos gregorianos. A uma parte, dessas pessoas que preferem o neo-tradicionalismo, são algumas pessoas que iniciaram na Renovação Carismática Católica, mas que ficaram profundamente incomodadas com os abusos no que toca a disciplina liturgica. Viram na missa tridentina, uma celebração na qual, a Igreja celebrou pelo menos 1500 anos. Preferem um mergulho nessa missa, por estarem saturados da laicização do clero e da clericalização dos leigos. Identificam que nessa inversão de papeis, que os abusos na missa assumida pela concepção do Concílio Vaticano II chegaram ao limite. E optam por uma liturgia mais orante, silenciosa, adorante. Com menos participação do leigo, e mais participação do sacerdote. Assumem que a língua latina, mesmo que alguns participantes não entendam absolutamente nada, introduz a comunidade ao mistério divino. Entendem que a missa deve reproduzir somente a questão propiciatória e oblativa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Na questão social, alguns grupos neo-tradicionais estabelecem uma cruzada contra os erros litúrgicos, mas motivados pela rejeição ao Concílio Vaticano II. Alguns caem em um sedecantismo velado, e outros em sedevacantismo escancarado. Alguns preferem esse tipo de celebração por certa nostalgia. Mas existem muitos fiéis sinceros, maduros desse tipo de demanda católica. Na outra ponta, há pessoas que preferem uma espiritualidade pentecostal. São pessoas que já assumiram diversos serviços pastorais em paróquias, mas que hoje, preferem constituir comunidades alternativas (da Renovação Carismática Católica) às paróquias, por considerarem a estrutura eclesial pesada demais, por não se identificarem com um certa linguagem que os distanciem de suas realidades. Formaram sua espiritualidade na emoção, sob as perspectivas do louvor e da adoração, características comuns a denominações protestantes e também da RCC, que como se sabe, foi iniciada com um grupo de católicos ansiosos por experimentarem a experiência pentecostal, onde foi solicitada a presença de um pastor protestante e a leitura do livro “Entre a cruz e o punhal”. Sentem-se identificados com a concepção de missa como a ressurreição de Jesus, assumindo-a como uma festa, como pretexto de atrair os mais jovens. Ignoram o sentido sacrifical, e não poucas vezes, enlevando o carater memorial da sagrada liturgia. A comunicação, em alguns círculos pentecostais, se baseia na conversa informal, intimista e até mesmo banalizada dos temas cristãos. Tudo para aproximar o jovem da Igreja, e de Cristo. Existem também muitos fiéis conscientes e maduros nessa espiritualidade. Adelia Prado, uma vez disse que “às vezes, saio da missa para procurar um outro lugar para rezar.” De fato, faz tempo que nossos templos deixaram de ser um lugar de silêncio, de adoração. Tornou-se mais um ponto de encontro entre amigos do que um encontro com Deus. As pessoas não sabem acolher quem chega, pois estão absorvidas nos afazeres pastorais. Parece que seus serviços pastorais são mais urgentes do que acolher as pessoas. Diagnóstico simples: não acolhem as pessoas porque não acolhem verdadeiramente Deus em seus corações, pois se tornaram reféns do fazer. Uma vez refens do fazer, não conseguem ser uma presença de acolhida, de encontro fraterno. Muitos ainda possuem a concepção de serviço pastoral como status, citando somente um pequeno exemplo: alguns ministros extraordinários da Sagrada Comunhão que, mesmo ao final do mandato de suas funções, não conseguem ser simples leigos. Ainda há ‘mini-cardeais’ nas paróquias que mandam e desmandam muito mais do que os sacerdotes. Ego, vaidade e poder. Muitas de nossas comunidades se tornaram um espaço de barulho e exclusão de pessoas. Algumas pessoas que antes eram simpáticas à Teologia da Libertação, migraram para os grupos da RCC, outros deixaram de ser católicos e se tornaram marxistas. Depois das reprimendas papais (notadamente João Paulo II e Bento XVI) acerca da hermenêutica marxista, algumas linhas têm se especializado a fazer uma leitura social do Evangelho, sem a tônica marxista, pela via da ecologia, dos direitos humanos e pela opção preferencial pelos mais pobres. Ainda assim, há o risco de se centrarem somente na dignidade do homem e da natureza do que na dignidade de Deus, que anda ‘ultrajada’ por ideologias de orientações políticas, econômicas e filosóficas, que estão a fomentar o ‘eclipse de Deus’ nas sociedades. Há também grupos interessados em mesclar elementos da religião católica com elementos culturais, com a predominancia do sincretismo entre catolicismo e umbanda (predominantemente na Bahia) e crenças indígenas (predominantemente na Região Norte). Fazem uma miscelânia com a liturgia, fazendo sobressair seus elementos culturais. Há que se perceber que, nas tendências apresentadas, uma tremenda dose de exageros. Tanto a linha neo-tradicional, quanto a linha pentecostal, têm espaço na grande diversidade que se compõe a Igreja, corpo místico de Cristo. O que não pode ter espaço é o sincretismo promovido por alguns da religião com qualquer outra manifestação religiosa, como disse Bento XVI, na oportunidade da visita Ad Limina dos Bispos da Região Norte ao Vaticano. Criticável também é a postura de alguns ‘neo-tradicionalistas’ que declaram guerra ao Concílio Vaticano II, ainda que muitas das suas críticas acerca dos abusos litúrgicos estejam corretas. Criticável também é a posição de alguns carismáticos que preferem muito mais um grupo de oração, regado a orações em línguas e muito barulho, em detrimento a participarem da missa, de forma madura e consciente, ainda que estejam certos por buscarem novos meios para evangelizar e chegar ao povo. A questão começa quando se considera que sua específica espiritualidade católica é melhor do que a outra. As duas extremas posturas de alguns se distanciam do ‘sentire cum Ecclesia’, expressão de Inácio de Loyola, fundador da Ordem Jesuíta. Sentir com a Igreja, que deveria ser expressão máxima de diversidade de dons na mesma unidade de servir e de amar. Se podemos falar em critério de catolicidade, é a medida do esforço em estar em sintonia, em comunhão com a Igreja. Isso pode ser expresso na medida em que há tolerância, capacidade de escutar, aceitar críticas, aceitar correções e aprender com uma expressão católica diferente da sua, à luz da Tradição, da Escritura e do Magistério. Dizer o que precisa ser dito na verdade, na caridade. Fazer o que precisa ser feito com razão, alicerçada na fé. Nenhum carisma é mais completo que o outro, a não ser o amor. Nenhum dom é mais suficiente que o outro, a não ser o amor. Nenhuma expressão particular eclesial é a mais perfeita, a não ser o amor. Ainda há alguns quilômetros a serem percorridos neste sentido, no Caminho, Verdade e Vida que é Cristo Jesus. Os extremos deveriam aprofundar mais o que o apóstolo Paulo diz: “Examinai tudo e ficai com aquilo que é bom !” A busca da autêntica espiritualidade católica, se não se encerra nesta frase, está em grande parte contida nela.

Um comentário:

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