O texto mostra o
primeiro retrato da comunidade cristã primitiva. A assiduidade era a marca
registrada daquela comunidade. Mais do que se antecipar aos compromissos, eram
disponíveis. Disponíveis em aprender com os apóstolos. Tinham sede de saber mais.
Não queriam ficar na teoria daquilo que foi absorvido no ensinamento, então,
viviam na comunhão fraterna, entendida na comum união de tudo o que tinham e de
tudo o que eram. Não se tratava de mero assistencialismo ou a um vago sentimento
de solidariedade. A vida era partilhada, nunca subtraída, mas acrescida naquela
comunidade. A comunhão fraterna era encarnada através do espírito de união dos
corações e a gratuidade. O pão era repartido aos que tinham a fome do corpo.
Jesus era o pão vivo que saciava a fome da alma. A alegria da partilha se fazia
notar e era executada da forma mais simples possível, sem nenhuma ostentação.Se
abasteciam comunitariamente no Templo e partiam em missão pelas casas. Se
devotavam à oração comunitária, como um momento especial de profunda intimidade
com Deus. Todas essas iniciativas sedimentavam a fé, a reverência para com
Deus. Os frutos cada vez mais eram abundantes, nos sinais e prodígios
realizados através dos apóstolos. Era característica comum daqueles que aderiam
à fé colocar tudo em comum. As posses eram vendidas e os valores divididos para
as reais necessidades da comunidade. Cresciam não apenas quantitativamente, mas qualitativamente!
sábado, 25 de abril de 2020
quinta-feira, 23 de abril de 2020
Análise do texto At 4, 32-37
O texto, que é um segundo retrato da primeva comunidade cristã, principia narrando que a multidão era um só coração e
uma só alma. O espírito de união, de fraternidade, de irmandade, de comunhão
era transbordante. Nada era de ninguém e tudo era comum a todos. Não haviam
maiores e nem menores. Não haviam vencedores e nem vencidos. A autoridade dos
apóstolos era a chamada para o serviço, para a partilha fraterna. A comum união
nivelava a todos por cima, no espirito da simplicidade e gratuidade. O testemunho
dos apóstolos era fascinante e igualmente poderoso, pois o mote desse testemunho
era o anúncio de Jesus vivo e ressuscitado, de que o Reino de Deus era
realidade e estava entre os homens. O testemunho dos apóstolos era convincente
e atraia a muitos e muitos aceitavam e aderiam ao anúncio. Na comunidade, não
havia alguém que passasse dificuldade. Tudo era dividido, tudo partilhado. Os
que possuíam bens, vendiam. Traziam os valores aos apóstolos, que repartiam aos
necessitados. Todos estavam no mesmo patamar de igualdade. O exemplo passa por
Barnabé, que era dono de um campo, vende e traz aos apóstolos que distribui aos
mais necessitados.
terça-feira, 21 de abril de 2020
Análise do texto de Jo 21, 1-14
Tal trecho é
precedido por dois relatos significativos. O primeiro relato encontra-se no
mesmo evangelho, capítulo 20, versículos 24 a 28, cuja narrativa central é o
encontro de Tomé com Jesus. Os discípulos testemunham que viram o Senhor, mas
Tomé resiste em acreditar. Passado 8 dias, Jesus manifesta-se, saúda a todos
com a paz, dirige-se a Tomé, e diz para que ele o toque. Tomé vê, toca e crê.
Acredita da transcendência de Jesus. Tomé foi materialista e racional até demais,
mas quem de nós também não seria? Mas, cabe o aviso do Mestre que felizes são
os que não viram, mas creram. O segundo
relato localiza-se no mesmo evangelho, capítulo 20, versículos 30 a 31, cujo
núcleo são os diversos sinais realizados por Jesus que não foram descrito nas
escrituras. O evangelista garante que todas as intervenções e fatos relatados
seriam o suficiente para o despertar da fé e a vida no nome de Jesus. Logo
após, vem o texto em questão, que trata da manifestação de Jesus ressuscitado
aos discípulos no Mar de Tiberíades. Jesus já tinha se manifestado outras vezes
para diversas pessoas. Estavam por ali Simão Pedro, Tomé Dídimo, Natanael,
filhos de Zebedeu e outros dois de seus discípulos. Em um determinado momento,
Pedro resolveu pescar, bateu a saudade da antiga profissão de pescador, fazendo
os outros irem com ele. A liderança de Pedro era algo natural, não imposta ou
fruto de técnicas retóricas, pois era simples com requintes de rudeza. Passaram
toda a noite não tiveram êxito na jornada, para a decepção de Pedro, que era um
pescador nato, profissional. Logo de manhã, Jesus aparece, estava em terra
firme, mas ninguém reparou que era ele. O mesmo pergunta se tinham algum peixe.
Mas os discípulos comentam do fracasso da tentativa da pescaria noturna. Jesus
pede para que a pescaria continue, mas que se mude o lado, jogando a rede à
direita. Talvez em um primeiro momento, desconfiassem daquele estranho pedido,
já que tinham em Pedro, um experimentado homem de ofício. Mas atenderam o
pedido. Jogaram as redes. E qual não foi a surpresa, que pegaram uma grande
quantidade de peixes, nem conseguiam puxar as redes direito. Temos aí uma
alusão as narrativas do Lucas, 5 4-10, da pesca milagrosa, de João 2, 6, das
Bodas de Caná, como também em João 6, 11. Nesse ínterim da narrativa, João
disse a Pedro que era o Senhor. O segundo estava totalmente desnudo, vestiu
prontamente a túnica e lançou-se ao mar. E vieram com ele os outros. Jesus
solicitou que trouxessem alguns peixes. E Pedro puxou a rede. O primeiro
aspecto é que eram peixes grandes. O segundo aspecto que a quantidade era 153.
Algumas análises sobre esse número. Número triangular que significa a soma de 1
a 17.17 é a soma de 10 (mandamentos / multidão) + 7 (Deus / perfeição /
totalidade). São Jerônimo, o primeiro tradutor das Sagradas Escrituras afirma
que 153 eram as espécies de peixes conhecidas naquele tempo, representando
também todos os homens de todos os tempos e lugares. O terceiro aspecto, não
menos importante, é o fato da rede não ter rompido, não obstante a grande
quantidade de peixes grandes que haviam na rede. Significa a união dos homens
em torno de Cristo Jesus, ainda que na história, não faltem as divisões. Jesus
chama a todos, vinde e comam! Ninguém tinha a coragem de perguntar se era Ele. Já
não haviam dúvidas. Estavam diante do indubitável, do fato vivo. Já tinham
reconhecido. Jesus toma o pão e o peixe e os distribuem a eles. Esse trecho também faz alusão à Lucas 24,
41-43, da refeição pós-pascal. Apresentam-se algumas diferenças. No segundo, há
a presença do vinho, que na escritura, significa a vida. No primeiro, não
aparece o vinho, mas o peixe, uma porque estão no contexto de mar, outra porque
peixe representam os seguidores de Jesus. Nas perseguições, quando os cristãos queriam
comunicar que estavam por ali, desenhavam a figura de peixe. O próprio Senhor
já havia proferido que o senhor não era mais do que os serventes. Os últimos
passariam por ocasiões parecidas em relação ao seu Mestre. Esse relato trata da
terceira manifestação de Jesus aos seus discípulos, conforme João.
segunda-feira, 20 de abril de 2020
Análise do texto de Lc 24, 13-35
O texto trata sobre o relato de dois discípulos que
partiam para Emaús, um povoado um pouco longe de Jerusalém. Enquanto
caminhavam, conversavam sobre os últimos acontecimentos, a trajetória de Jesus
e sua paixão. De repente, Jesus aparece, aproxima-se e caminha com eles. Em um
primeiro momento, não notaram a sua aproximação e mais ainda: que alguém
caminhava com eles. Estavam com os olhos vendados, não enxergaram a presença de
Jesus. Estavam entretidos na narrativa dos últimos acontecimentos da vida de
Jesus. Jesus toma a iniciativa da palavra e pergunta sobre o assunto que eles
tratavam, tendo percebido suas fisionomias sombrias e tristes. Cleófas responde se ele seria um estrangeiro
que desconheceria a sucessão de fatos ocorridos naqueles dias. Jesus paga para
ver e diz que não sabia. O viajante narra que tinha existido um profeta
poderoso em palavras e em obras diante de Deus e dos homens, que era Jesus.
Este foi entregue aos sumos sacerdotes para ser crucificado e morto. O povo
tinha uma expectativa de que Ele fosse um messias político, um salvador da
pátria que os livrassem das garras das autoridades romanas e judaicas. Passaram
três dias e nada da ressurreição anunciada por ele. As mulheres que foram ao
túmulo não encontraram seu corpo. Os homens verificaram o lugar e também não
constataram seu corpo e nem viram Ele, certificando o relato feminino. Jesus os
critica severamente, chamando-os de Insensatos e lentos de coração. Que era
nuclear essa passagem, os sofrimentos, indiferenças, escárnios, zombarias,
ultrajes, traições para chegar a glória de seu Pai. Jesus ressignifica a
escritura desde Moisés, os profetas, nos pontos que convergiam para Ele. O
Vétero Testamento tomado de forma literal, isolada, gera as maiores
deformidades e equívocos. Ele ganha um novo sentido a partir do Novo
Testamento, a partir da trajetória e vida de Jesus. Ele é a chave hermenêutica de
leitura. Jesus fez que ia passar adiante e deixar eles no caminho, mas eles o
interpela: Permanece conosco, é tarde e a noite já vem. A narrativa atesta que
Jesus ficou com eles. Atendeu o pedido. Deus tomou a primeira iniciativa de ir
ao encontro do homem. É tarefa dos homens irem ao encontro de Deus, ainda que
sejam incompletos e insuficientes. O amor não se bastou a si mesmo. O amor quis
ir ao encontro do amado. O amado, completo, refeito por esse amor, permanece
nesse amor. Jesus abençoa o pão, reparte e distribui. Ao proceder isso, Jesus
desaparece diante deles. A ficha dos viajantes cai, reconhecem Àquele que tanto
sinais fez. Até o coração deles se tornava brasa nos relatos, na memória que
fazia. Eis que levantaram e rumaram à Jerusalém para contar aos seus companheiros
que a ressurreição de Jesus é fato. Eles tiveram o contato com esse vivo
acontecimento, era prova inconteste, indubitável. Jesus que tinha se
manifestado à Simão. Creram também em seu testemunho. Muitos não creram no
testemunho daqueles que tiveram contato com esse vivo fato. O texto nos deixa
dois elementos importantes: é fundamental ser testemunha desse fato e
igualmente importante dar credito ao testemunho de muitos que tiveram acesso a
esse fato. Ser testemunha para testemunhar. Quem não foi testemunha, não pode
nada testemunhar. Quem diz ser testemunha de apenas relatos, de um “ouvir dizer”,
pode até perseverar por certo tempo, mas se cansará e jogará “tudo pro alto”.
Não teria o profundo significado para prosseguir para além dos sabores e dissabores
da existência.
sábado, 4 de abril de 2020
Análise do texto de Jo 10, 31-42
Os textos anteriores a esse, como
em Jo 10, 1-10, trata sobre Jesus como a porta das ovelhas, onde o mesmo
coloca-se como a porta, passagem onde se encontra a salvação e pastagens para
descansar. Também trata da vinda de Jesus como Àquele que fornece a vida
gratuitamente em larga escala, em abundância.
No texto seguinte, seguindo a temática do pastoreio, Jesus se apresenta
como o bom pastor, que conduz as ovelhas ao caminho da vida. No texto que se sucede ao de Jo 10, em Jo 11,
1-45, relata a Ressurreição de Lázaro, um extraordinário feito de Jesus, após o
corpo de Lázaro ter sido sepultado há 4 dias. O texto de Jo 10, 31-42 está no
estrado do testemunho das obras e se conecta com as leituras citadas a partir
da perspectiva da promoção e apologia à vida. Todos os feitos de Jesus estão
diretamente comprometidos com a vida das pessoas, principalmente àquelas que
estavam à margem da sociedade e da religião judaica. Era uma questão de honra
trazê-las à vida normal, a sadia convivência através de suas intervenções que
ao mesmo tempo que recuperava a dignidade perdida, também manifestava um novo
tempo, que o Reino de Deus já estava presente entre elas. Em todas as
narrativas dos Evangelhos, notamos uma profunda conexão entre o discurso e a
práxis de Jesus, intrinsecamente ligados e coerentes. Vivemos em tempos
pós-modernos onde a palavra há muito tempo deixou de ter valor e significado.
Há um gigantesco desgaste da palavra. Outrora, não era assim. Um acordo era
tecido a partir do consentimento e da palavra dada e todos respeitavam, todos
cumpriam. Em determinado momento da história, alguém decidiu não sustentar a
palavra dada. Alguém foi prejudicado e alguém foi beneficiado. Entraram em cena
instâncias jurídicas, a criação do cartório para dar uma resposta a esse
acontecimento. O fato é que a hipocrisia sempre esteve presente na história. E
esta assume dimensões avassaladoras, assustadoras em nosso tempo, especialmente
em nossa sociedade brasileira, pautada na lei de Gerson, de extrair o máximo de
vantagem em tudo o que puder, e o famigerado jeitinho brasileiro, o jeito de
burlar normas, procedimentos e leis. Combinação explosiva que explica com muita
precisão o perfil de nossa sociedade atual. E como não podia ser diferente,
Jesus foi um obstinado crítico da hipocrisia de seu tempo, notadamente em
relação as autoridades religiosas estabelecidas. Após essas considerações,
vamos ao texto. No versículo 31, os judeus já estavam na espreita de Jesus para
apedrejá-lo. No próximo versículo, Jesus os questiona em que outras eles querem
o apedrejá-lo. No Evangelho de João, narra-se a cura do filho do oficial, do
paralítico na piscina, a multiplicação dos pães, o caminhar sobre o mar, o
episódio da mulher adúltera, onde Jesus desarma as pedras judaicas a começar
pelos anciãos e depois os mais novos e a cura do cego de nascença. Mas os
judeus respondem que as obras não estavam em pauta, mas sim sua atribuição como
filho de Deus, se fazendo Deus. Jesus responde que na lei judaica há referência
de que “sois deuses”. Se consideram deus aquele na qual a palavra é transmitida
e que a anuncia, ainda mais para Àquele que foi enviado e consagrado pelo Pai. Notamos
um questionamento, uma constatação e um primeira tentativa de aproximação. A
próxima argumentação de Jesus vai girar em torno da relação entre fé e obras.
Se Ele não faz as obras, não seria necessário crer Nele, mas se Ele faz, a
crença Nele se faz necessária, pois as obras que realiza e as palavras que
profere indica que sua permanência em Deus o leva a guardar a sua palavra e
vice-versa. Temos aí um segundo movimento de aproximação, uma tentativa de
identifica um ponto de contato para o diálogo. Mas os judeus não estavam para o
diálogo e tentaram prender Jesus, mas não conseguiram, pois Ele passou para o
outro lado do Jordão onde João batizava. Aí Ele encontrou os discípulos de João,
onde estes diziam que o que tinha sido dito de João sobre Jesus era coerente e tinha
fundamento, mesmo que João não tivesse feito nenhum milagre. Ora, a missão de
João Batista era anunciar Àquele que era maior do que ele, que não era digno de
desatar o nó de suas sandálias, nas suas palavras.
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