sábado, 4 de abril de 2020

Análise do texto de Jo 10, 31-42



Os textos anteriores a esse, como em Jo 10, 1-10, trata sobre Jesus como a porta das ovelhas, onde o mesmo coloca-se como a porta, passagem onde se encontra a salvação e pastagens para descansar. Também trata da vinda de Jesus como Àquele que fornece a vida gratuitamente em larga escala, em abundância.  No texto seguinte, seguindo a temática do pastoreio, Jesus se apresenta como o bom pastor, que conduz as ovelhas ao caminho da vida.  No texto que se sucede ao de Jo 10, em Jo 11, 1-45, relata a Ressurreição de Lázaro, um extraordinário feito de Jesus, após o corpo de Lázaro ter sido sepultado há 4 dias. O texto de Jo 10, 31-42 está no estrado do testemunho das obras e se conecta com as leituras citadas a partir da perspectiva da promoção e apologia à vida. Todos os feitos de Jesus estão diretamente comprometidos com a vida das pessoas, principalmente àquelas que estavam à margem da sociedade e da religião judaica. Era uma questão de honra trazê-las à vida normal, a sadia convivência através de suas intervenções que ao mesmo tempo que recuperava a dignidade perdida, também manifestava um novo tempo, que o Reino de Deus já estava presente entre elas. Em todas as narrativas dos Evangelhos, notamos uma profunda conexão entre o discurso e a práxis de Jesus, intrinsecamente ligados e coerentes. Vivemos em tempos pós-modernos onde a palavra há muito tempo deixou de ter valor e significado. Há um gigantesco desgaste da palavra. Outrora, não era assim. Um acordo era tecido a partir do consentimento e da palavra dada e todos respeitavam, todos cumpriam. Em determinado momento da história, alguém decidiu não sustentar a palavra dada. Alguém foi prejudicado e alguém foi beneficiado. Entraram em cena instâncias jurídicas, a criação do cartório para dar uma resposta a esse acontecimento. O fato é que a hipocrisia sempre esteve presente na história. E esta assume dimensões avassaladoras, assustadoras em nosso tempo, especialmente em nossa sociedade brasileira, pautada na lei de Gerson, de extrair o máximo de vantagem em tudo o que puder, e o famigerado jeitinho brasileiro, o jeito de burlar normas, procedimentos e leis. Combinação explosiva que explica com muita precisão o perfil de nossa sociedade atual. E como não podia ser diferente, Jesus foi um obstinado crítico da hipocrisia de seu tempo, notadamente em relação as autoridades religiosas estabelecidas. Após essas considerações, vamos ao texto. No versículo 31, os judeus já estavam na espreita de Jesus para apedrejá-lo. No próximo versículo, Jesus os questiona em que outras eles querem o apedrejá-lo. No Evangelho de João, narra-se a cura do filho do oficial, do paralítico na piscina, a multiplicação dos pães, o caminhar sobre o mar, o episódio da mulher adúltera, onde Jesus desarma as pedras judaicas a começar pelos anciãos e depois os mais novos e a cura do cego de nascença. Mas os judeus respondem que as obras não estavam em pauta, mas sim sua atribuição como filho de Deus, se fazendo Deus. Jesus responde que na lei judaica há referência de que “sois deuses”. Se consideram deus aquele na qual a palavra é transmitida e que a anuncia, ainda mais para Àquele que foi enviado e consagrado pelo Pai. Notamos um questionamento, uma constatação e um primeira tentativa de aproximação. A próxima argumentação de Jesus vai girar em torno da relação entre fé e obras. Se Ele não faz as obras, não seria necessário crer Nele, mas se Ele faz, a crença Nele se faz necessária, pois as obras que realiza e as palavras que profere indica que sua permanência em Deus o leva a guardar a sua palavra e vice-versa. Temos aí um segundo movimento de aproximação, uma tentativa de identifica um ponto de contato para o diálogo. Mas os judeus não estavam para o diálogo e tentaram prender Jesus, mas não conseguiram, pois Ele passou para o outro lado do Jordão onde João batizava. Aí Ele encontrou os discípulos de João, onde estes diziam que o que tinha sido dito de João sobre Jesus era coerente e tinha fundamento, mesmo que João não tivesse feito nenhum milagre. Ora, a missão de João Batista era anunciar Àquele que era maior do que ele, que não era digno de desatar o nó de suas sandálias, nas suas palavras.

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