Os textos anteriores a esse, como
em Jo 10, 1-10, trata sobre Jesus como a porta das ovelhas, onde o mesmo
coloca-se como a porta, passagem onde se encontra a salvação e pastagens para
descansar. Também trata da vinda de Jesus como Àquele que fornece a vida
gratuitamente em larga escala, em abundância.
No texto seguinte, seguindo a temática do pastoreio, Jesus se apresenta
como o bom pastor, que conduz as ovelhas ao caminho da vida. No texto que se sucede ao de Jo 10, em Jo 11,
1-45, relata a Ressurreição de Lázaro, um extraordinário feito de Jesus, após o
corpo de Lázaro ter sido sepultado há 4 dias. O texto de Jo 10, 31-42 está no
estrado do testemunho das obras e se conecta com as leituras citadas a partir
da perspectiva da promoção e apologia à vida. Todos os feitos de Jesus estão
diretamente comprometidos com a vida das pessoas, principalmente àquelas que
estavam à margem da sociedade e da religião judaica. Era uma questão de honra
trazê-las à vida normal, a sadia convivência através de suas intervenções que
ao mesmo tempo que recuperava a dignidade perdida, também manifestava um novo
tempo, que o Reino de Deus já estava presente entre elas. Em todas as
narrativas dos Evangelhos, notamos uma profunda conexão entre o discurso e a
práxis de Jesus, intrinsecamente ligados e coerentes. Vivemos em tempos
pós-modernos onde a palavra há muito tempo deixou de ter valor e significado.
Há um gigantesco desgaste da palavra. Outrora, não era assim. Um acordo era
tecido a partir do consentimento e da palavra dada e todos respeitavam, todos
cumpriam. Em determinado momento da história, alguém decidiu não sustentar a
palavra dada. Alguém foi prejudicado e alguém foi beneficiado. Entraram em cena
instâncias jurídicas, a criação do cartório para dar uma resposta a esse
acontecimento. O fato é que a hipocrisia sempre esteve presente na história. E
esta assume dimensões avassaladoras, assustadoras em nosso tempo, especialmente
em nossa sociedade brasileira, pautada na lei de Gerson, de extrair o máximo de
vantagem em tudo o que puder, e o famigerado jeitinho brasileiro, o jeito de
burlar normas, procedimentos e leis. Combinação explosiva que explica com muita
precisão o perfil de nossa sociedade atual. E como não podia ser diferente,
Jesus foi um obstinado crítico da hipocrisia de seu tempo, notadamente em
relação as autoridades religiosas estabelecidas. Após essas considerações,
vamos ao texto. No versículo 31, os judeus já estavam na espreita de Jesus para
apedrejá-lo. No próximo versículo, Jesus os questiona em que outras eles querem
o apedrejá-lo. No Evangelho de João, narra-se a cura do filho do oficial, do
paralítico na piscina, a multiplicação dos pães, o caminhar sobre o mar, o
episódio da mulher adúltera, onde Jesus desarma as pedras judaicas a começar
pelos anciãos e depois os mais novos e a cura do cego de nascença. Mas os
judeus respondem que as obras não estavam em pauta, mas sim sua atribuição como
filho de Deus, se fazendo Deus. Jesus responde que na lei judaica há referência
de que “sois deuses”. Se consideram deus aquele na qual a palavra é transmitida
e que a anuncia, ainda mais para Àquele que foi enviado e consagrado pelo Pai. Notamos
um questionamento, uma constatação e um primeira tentativa de aproximação. A
próxima argumentação de Jesus vai girar em torno da relação entre fé e obras.
Se Ele não faz as obras, não seria necessário crer Nele, mas se Ele faz, a
crença Nele se faz necessária, pois as obras que realiza e as palavras que
profere indica que sua permanência em Deus o leva a guardar a sua palavra e
vice-versa. Temos aí um segundo movimento de aproximação, uma tentativa de
identifica um ponto de contato para o diálogo. Mas os judeus não estavam para o
diálogo e tentaram prender Jesus, mas não conseguiram, pois Ele passou para o
outro lado do Jordão onde João batizava. Aí Ele encontrou os discípulos de João,
onde estes diziam que o que tinha sido dito de João sobre Jesus era coerente e tinha
fundamento, mesmo que João não tivesse feito nenhum milagre. Ora, a missão de
João Batista era anunciar Àquele que era maior do que ele, que não era digno de
desatar o nó de suas sandálias, nas suas palavras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário