Cortesia, uma palavra que já cai em desuso. Na literatura medieval, a cortesia tem grande relevância. Surgiu no contexto da côrte, aristocracia e cavaleiros. O alvo da cortesia é sempre a mulher. O cavaleiro deveria honrá-la, defendê-la, e se preciso, dar sua própria vida pela mulher. O homem seria incapaz de se desenvolver sozinho, sem estímulo e o exemplo feminino, por isso deveria ligar-se a uma mullher que o incentivasse as grandes virtudes. Contudo, podemos estender esse jeito de ser a todo e qualquer ser humano, independente de partido político, religião, ideologia. Ninguém é tão suficiente, que não possa receber um afeto. Ninguém é tão carente, que não possa agir com cortesia. A cortesia não acontece por si mesma; o seu combustível é o amor. Quem tem cortesia, tem amor, e o amor prepara a pessoa para a cortesia. Cortesia é primeiramente pensar no outro antes mesmo de pensar em si mesmo, agradar as pessoas pela simples razão de serem pessoas humanas. Está muito longe do registro utilitário, onde todas as pessoas querem sair ganhando, pisando em alguém. A diferença na cortesia, é que as duas pessoas ganham, aquela que dispensa e aquela que recebe o afeto. Martin Buber, dizia que na relação Eu e Tu surge uma terceira: o Eu-Tu, que nada mais é do que o Nós. Toda relação tem os seus dois lados, é dialógica. O homem atual é extremo; ou vive em um profundo solipsismo, ou em um profundo coletivismo. Ambas as perspectivas anulam aquilo que ele possui de mais específico e peculiar: a identidade subjetiva. A cortesia é um verdadeiro corte no utilitarismo das relações; preserva as pessoas, mas ceifa profundamente o egoísmo e inaugura a primeira pessoa do plural: o nós. Com o nós, fica mais fácil de desatar os nós!
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