Dizem que política e religião não se discutem, pois cada qual tem sua verdade e o seu ponto de vista. É por cada qual ter seu ponto de vista e achar a sua verdade mais verídica do que a do outro que sinto dizer que ainda somos medíocres, presos à uma mordaça que parece ser verdadeira e libertadora, mas é falaciosa. Para começar: quando digo que política e religião não se discute, isso já é uma forma de discussão. Veja o leitor que é um argumento-bomba, que afirma negando, que nega afirmando. Não precisa muito para se auto esfacelar. Mas estranho como essa falácia está entranhada em nossa cultura. Aprofundemos a perspectiva da perspectiva. Muito tem a ver com Nietzsche: "Contra o positivismo, que permanece junto ao fenômeno afirmando "só há fatos", eu diria: não, justamente fatos não há, há apenas interpretações. Nós não podemos fixar nenhum fato "em si": talvez seja mesmo um disparate querer algo assim. "Tudo é subjetivo", vós afirmais: mas já isto é interpretação. O sujeito não é nada dado, mas algo anexado, colocado por detrás da interpretação? Já isto é poetização, hipótese. Conquanto a palavra ele é passível de receber outras explicitações, ele não possui nenhum sentido por detrás de si, mas infindos sentidos, "Perspectivismo" ". (KSA 12, 7 [60]).A percepção do mundo como um todo é rasa e superficial. O que conta é a perspectiva única e individual de cada homem. Neste registro, não há verdades absolutas, mas infinitas interpretações sobre infinitos universos. Cada perspectiva pode ser mais ou menos abrangente, mas em geral, são imperfeitas, não-absolutas e complementares. O mote esse trecho é a crítica de que não existiria um fato absoluto que condicionasse uma posição única e absoluta ante a realidade e o mundo. Não somente isso: Nietzsche critica a concepção de que haveria um sujeito por trás da perspectiva ou da interpretação. Ainda que Nietzsche critique o sujeito e o subjetivismo, não há como negar que, na pós-modernidade, o subjetivismo exacerbado está maquiado pelas perspectivas, pelos pontos de vistas. Retire o sujeito e verá o que restará das perspectivas. Por isso é mais cômodo dizer que problemáticas tão relevantes quanto religião e política não se discutem, pois pelo ponto de vista, afirma-se o sujeito do ponto de vista. E quando há eu demais, não há espaço para a gente nem sequer sentar e conversar. Que o leitor reflita e tire suas próprias conclusões! Quando há subjetivismo demais, há profundidade de menos!
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