O Eros na mitologia grega correspondia a um deus cego. Seria uma relação universal que se daria pela diferança (Heteros). O conhecimento como uma relação erótica passa pela relação com estranho, com o diferente (Thaumazein). O banquete é a própria representação da luxúria, emblema do exagero da comida da bebida e do sexo. O amor é tratado como uma entidade, um elogio do amor enquanto um deus. Não se trata de um amor histórico, marcado pelo espaço e tempo, mas sim, um amor divino, trancendente. O amor está relacionado com ato (Energéia) e potência (Dynamis). O amor é uma inteiração entre ato e potência, e não pode haver amor na falta de um desses elementos. Energéia sem Dynamis é pura virtualidade, não-consolidação. Dynamis sem Energéia é pura imitação, que recai em um automatismo que está diametralmente oposto ao princípio da natureza. A Dynamis do amor não garante a renovação do homem.A definição de amor gira em torno da Natureza (Physis) e da essência (Ousia). A Physis para os gregos está relacionado com o movimento cíclico. O amor precisa ter um objeto a ser amado. Se não há um objeto de espanto, de perplexidade, de admiração (Thaumazein), que consiste no reconhecimento do diferente, do estranho, não há sobre o que filosofar. Aqui há o germe da concepção de graça, mais tarde explanada por Agostinho de Hipona. Amar para os gregos é Eromai e corresponde a dialogar. No banquete, há a aproximação de desejo (Epithymia) e Eros (Amor), quando o desejo é satisfeito, o amor finda. Seria preciso reconhecer a falta (Kakos) do bem (Agathós) externo, pois o reconhecimento da carência é a condição necessária para o amor.Entra em cena a perspectiva da salvação (Sotero), no sentido de conservar a vida, de eternidade. O amor possui duas vertentes da carência: a de não possuir aquilo que se deseja, e a de possuir e ter a possibilidade de perdê-lo. Schelling, em seu livro A essência da liberdade, afirma que; “Só conhecemos o uno a partir da mudança.” Plotino faz a aproximação de beleza (Kalós) e bem (Agathos). Para Kierkergaard, o movimento que nos leva a amar passa pela perspectiva da angústia, que traria uma aporia, traduzida como sem saída. A aporia seria uma dádiva divina, pois seria uma ruptura de um caminho para reorganização, possibilidade de recriação humana. A razão nos levaria a uma aporia, a uma contradição. Para o indivíduo resta duas possibilidades: sucumbir perante à contrariedade ou a sua renovação completa. Nietzsche afirmava que o que não nos mata, pode nos tornar mais fortes. A prudência (Phronesis) como virtude (Aretê) aqui entraria como a intervenção do divino no humano. O divino seria a medida da ação prudente. Retomando a ligação com a pobreza (Penia), que pode ser tanto ter a conotação material quanto espiritual, é movida pela necessidade (Ananké). A condição humana, seria nada mais do que o fruto entre Poros e Penia. Poros seria um deus, uma entidade transcendente que se relacionou com Penia, a Pobreza, uma mortal miserável. Se a miséria fosse extinguida da terra, o homem seria muito pior, pois a pobreza traz a moderação (Phronesis) e a riqueza (Ploutos) a insolência. Assim, o amor não é natural, seria preciso concebê-lo para a intermediação entre o eterno e o passageiro. O amor oscila entre imortalidade e mortalidade. Então, a possibilidade temporal da vida seria essa relação com o amor, relação de ser peregrino, estrangeiro. Aqui estaria a gênese do homem novo, da renovação (Ananeusis), da ressurreição (Anabiôskomai). Seria preciso uma relação constante com o divino, e em um determinado instante (Kairos – Num), poderia haver a renovação do homem. O eterno entra nos limites da razão humana.
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