quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O movimento para o imutável

É possível conceber um divórcio entre Física e Metafísica, ou não é possível essa distinção? É possível um acordo entre o imutável e o mutável? Kierkegaard concebe o movimento (kinesis) como uma transição. Transportando seu raciocínio para a filosofia do Estagirita, o movimento seria a transição entre potência e ato. A causa do movimento somente tem razão de ser se o objeto modificado não atingiu a sua plenitude. Quando não houver mais potência, não há mais a razão de haver movimento. A Física trata de fenômenos observáveis, na vertente do ato, enquanto a Metafísica concebe os fundamentos das coisas, a arkhé, cujo o horizonte é a dynamis, a potência. Tanto para Aristóteles, quanto para Heidegger a Física e a Metafísica não são antagônicas, mas são complementares. A orientação filosófica moderna, com o giro epistemológico do sujeito-objeto para objeto-sujeito, realizou o divórcio entre a perspectiva física e metafísica. Isso pode representar que a a potência perde a capacidade de mudança, de renovação. Aristóteles consegue enxergar uma relação entre o movimento (kinesis) e a eternidade (aion), pois o princípio de tudo para o Estagirita é a aitia, ou seja, a causa. O aion é aquilo que está fora da linha temporal, longe da descontinuidade. O tempo pressupõe o tempo todo o movimento, a descontinuidade. A razão seria a ruptura entre o antes e o depois. Para o Estagirita, o tempo não é meramente movimento; a racionalização temporal sugere o número (arithmos), onde a pausa é o intervalo descontínuo entre presente, passado e o futuro. O eterno representa a não distinção entre presente, passado e futuro, como se fosse um eterno hoje. Haveria uma articulação entre o discurso platônico do amor (eros) com o discurso aristotélico do eterno (aion)? O amor (eros) é filho de Pobreza (penia) com Recurso (poros) e a lembrança que o amor tem de Recurso é a busca da beleza (kalós), enquanto, que a lembrança que o amor tem da Pobreza é a necessidade. Quando o caminho se mistura ao caminhar, estamos diante da serenidade. Todavia, para que haja caminho (hodos) é salutar que haja o fundamento das coisas (arkhé) e a finalidade das coisas (telos). È nessa relação entre pobreza e recurso que está a perspectiva de renovação (ananeusis) humana e criação permanente. Para os pré-socráticos, a concepção de aitia está instrinsecamente relacionada com a responsabilidade humana. É preciso o movimento (kinesis) para chegar a ausência do movimento (akinesis), plenitude e efetivação daquilo que se é, a superação da necessidade do movimento. Seria possível pensar o desejo como causa do movimento? E a relação entre fé (fides) e razão (ratio)? E como a confiança (pistis) e o movimento (kinesis) pode se relacionar com o amor (eros)? É preciso analisar que há coisas que causam sem serem causadas, isto é, movem sem serem movidas, alteram sem serem alteradas. O desejo seria a marca divina no homem, tanto pela vida do racional, quanto pela via do inteligível. Aquilo que é objeto da fé é o ininteligível, o estranho. Aquilo que é objeto da razão é tudo o que for intelectível. Assim seria possível ter confiança (pistis) em Deus, sem que Ele seja objeto de intelecção. E o desejo como causa, pode remeter o tempo todo para Deus. Deus pode ser conhecido pela via do amor (eros) e do desejo (epithymós) ou pela via do inteligível (noethos). A via do amor e do desejo é o plano do ininteligível, e nem sempre conseguimos conhecer o que vem a ser o objeto do nosso amor e desejo. A plenitude intelectiva é a superação da dimensão temporal do antes e do depois, e isto pode ser feito pelo número (arithmos) e pela razão (logos). A aproximação entre número e razão é a própria aproximação da matemática com a razão.

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