domingo, 16 de janeiro de 2011

A condição humana da efemeridade

"Em pouco tempo o prazer dos mortais cresce e cai por terra,

Tendo sido abalado por um pensamento adverso.

Efêmeros: o que é alguém? O que não é?

O homem é o sonho de uma sombra.

Mas quando o brilho dado por Zeus retorna,

Uma luz brilhante repousa sobre os homens

E a eternidade é suave.”

A tônica do poema de Pindaro é a condição humana da efemeridade. O que seria ser efêmero? Do grego, efêmero (epi + hemera) significa literalmente por um dia, o que não possui uma longa duração, passageiro, volúvel, não consistente. E como se daria essa condição humana de ser efêmero? Nos versos do poeta grego, há uma clara referência de um embate entre a condição humana de ser efêmero e a eternidade (aion), um duelo entre a tempo (khronós) e a eternidade (aion), O tempo caracterizado por fluxo constante de movimento, que abarca o passado (o já não), o futuro (o ainda não) e o presente (reconcilia o já não e o ainda não na duração do agora. A eternidade (aion) é caracterizada pela ausência da temporalidade, carência da finitude, não está demarcada pelos limites espaço-temporais.Para a reflexão das próprias fragilidades, é preciso colocar-se à margem das próprias fragilidades. Em outras palavras, é preciso sair do território da finitude para lançar um olhar mais apurado sobre a condição humana da efemeridade. É somente na distância das coisas circundantes, que conseguimos repensar com serenidade o que se passou conosco mesmo.Pindaro compara o homem a um sonho de uma sombra, uma nuvem passageira. Essa sombra em Platão nos remete ao mito da caverna, onde em uma caverna subterrânea, os seres humanos estão prisioneiros de geração a geração. Não podem sair do lugar que estão, pois estão acorrentados, somente podem olhar para uma única direção, e alguma luz viria de fora por meio de uma espécie de feixe da caverna. Essa luz que se descortina do exterior é uma fogueira. Entre os acorrentados e a fogueira, há um caminho que se localiza uma mureta, espaço das marionetes, onde indivíduos transportam uma infinidade de estátuas. O que os prisioneiros conseguem enxergar são as sombras das estatuas transportadas, não conseguindo identificar nem os indivíduos, nem as estátuas transportadas. Os prisioneiros, de imediato inferem que suas visualizações correspondem às coisas reais, todavia, estão incertos se essas visualizações equivalem à sombras, não fazem idéia da razão de haver a fogueira e a luz. Para eles, a única luz é a que ilumina a caverna. Platão questiona qual seria a atitude do prisioneiro se soubesse da verdade, se alguém o libertasse de suas amarras. O individuo libertado, no primeiro momento, iria titubear, devido ao grande tempo que ficou cárcere e privado da luz, essa luz da fogueira, que representa a luz solar, o cegaria. Mas em seguida, caminharia à entrada da caverna, e uma vez acostumado com a luz solar, contemplaria as próprias coisas e chegaria a conclusão de que a maior parte da sua existência foi pautada na crença de que as sombras que visualizava correspondiam às próprias coisas. Uma vez reconciliado com a realidade circundante, o indivíduo libertado regressaria novamente à caverna para transmitir a boa notícia aos demais prisioneiros e esboçaria a ação de libertá-los. Mas os prisioneiros da caverna não dão crédito as palavras do individuo libertado e o juram de morte se ele tentar libertar os prisioneiros.

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