terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Pandemia 2020: Aprenderemos?








Quantas perdas nesse ano. Gente famosa, pessoas anônimas. Pelo vírus corrente ou por outros fatores. Famosos ou anônimos, abastados ou vulneráveis, todos possuem a mesma dignidade, o mesmo valor, o mesmo fim em si.

Não são números! Não são contabilizações! São vidas humanas! Quantas familias envolvidas que choram as perdas de seus entes queridos. Quantas histórias que viraram recordações na mente de quem o coração falta um pedaço. 

Os humanos assimilarão o aprendizado? Os homens contemporâneos se tornarão melhores no ocaso pandêmico? Cada qual responda por si. Sou um realista otimista. Projeto sem inocência e sem ilusões, conhecendo a humana natureza. 

Inumeráveis (Bráulio Bessa)

Andre Cavalcante era professor 

amigo de todos e pai do Pedrinho. 

O Bruno Campelo seguiu seu caminho 

Tornou-se enfermeiro por puro amor. 

Já Carlos Antônio, era cobrador 

Estava ansioso pra se aposentar. 

A Diva Thereza amava tocar 

Seu belo piano de forma eloquente 

Se números frios não tocam a gente 

Espero que nomes consigam tocar. 


Elaine Cristina, grande paratleta 

fez três faculdades e ganhou medalhas 

Felipe Pedrosa vencia as batalhas 

Dirigindo Uber em busca da meta. 

Gastão Dias Junior, pessoa discreta 

na pediatria escolheu se doar 

Horácia Coutinho e seu dom de cuidar 

De cada amigo e de cada parente. 

Se números frios não tocam a gente 

Espero que nomes consigam tocar. 



Iramar Carneiro, heroi da estrada 

foi caminhoneiro, ajudou o Brasil. 

Joana Maria, bisavó gentil. 

E Katia Cilene uma mãe dedicada. 

Lenita Maria, era muito animada 

baiana de escola de samba a sambar 

Margarida Veras amava ensinar 

era professora bondosa e presente. 

Se números frios não tocam a gente 

Espero que nomes consigam tocar. 


Norberto Eugênio era jogador 

piloto, artista, multifuncional. 

Olinda Menezes amava o natal. 

Pasqual Stefano dentista, pintor 

Curtia cinema, mais um sonhador 

Que na pandemia parou de sonhar. 

A vó da Camily não vai lhe abraçar 

com Quitéria Melo não foi diferente. 

Se números frios não tocam a gente 

Espero que nomes consigam tocar.   


Raimundo dos Santos, um homem guerreiro 

O senhor dos rios, dos peixes também 

Salvador José, baiano do bem 

Bebia cerveja e era roqueiro. 

Terezinha Maia sorria ligeiro 

cuidava das plantas, cuidava do lar 

Vanessa dos Santos era luz solar 

mulher colorida e irreverente. 

Se números frios não tocam a gente 

Espero que nomes consigam tocar.   


Wilma Bassetti vó especial 

pra netos e filhos fazia banquete. 

Yvonne Martins fazia um sorvete 

Das mangas tiradas do pé no quintal 

Zulmira de Sousa, esposa leal 

falava com Deus, vivia a rezar. 

O X da questão talvez seja amar 

por isso não seja tão indiferente 

Se números frios não tocam a gente 

Espero que nomes consigam tocar. 


segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Doce infância



Deus e os meus pais. Criador e cocriadores. Deus me quis por meio dos meus pais, Rogério e Gina.

Da rua Waldemar Martins, das bolinhas de gudes, das pipas, dos piões, dos esconde-escondes, do futebol, das brigas, das irmandades, das calçadas cheias de gente conversando e que não tinha tempo e nem hora pra acabar. Minha infância teve cheiro de bairro, do Parque Peruche.

Do alto de um muro da minha casa eu aprendi a contemplar o pôr-do-sol, depois de ter empinado uma pipa. Pôr-do-sol, de uma linda tarde do Parque Peruche, como um espaço da epifania divina e das possibilidades humanas. 

Dos primeiros ritmos, da Aquarela de Toquinho que logo cedo me ensinou que o futuro é uma astronave que tentamos pilotar, que não tem tempo e nem piedade, nem tem hora de chegar. De Maria, Maria, de Milton Nascimento, essa criança ouviu que quem traz na pele essa marca, possui a estranha mania de ter fé na vida.

Dos primeiros amores, das primeiras dores, dos primeiros sins, dos primeiros nãos, da alegria de andar de bicicleta depois de alguns bons tombos, dos primeiros acordes que me colocaram no processo humanizante.

Dos amigos com quem vivi e convivi. Muitos casaram, tiveram filhos, outros não, outros solteiros, outros viúvos e de outros não se sabe o paradeiro.

De outras mães, vós, pais, vôs , irmãos que tive. De Dona Irene, Seu Sérgio, Seu Jader, Dona Ana, Priscila, Ronald, Pamela e Tânia.

Se findou ao chegar a adolescência, e eu, apressado na chegada da vida adulta. E do alto da vida adulta, forjo esses versos nas lágrimas e memórias, fruto das vivências de outrora, da minha infância, com saudade de regressar. Cheiros, afetos, pessoas, risos, cores, doces, chuva, terra, aniversários.

Dissolvida na adolescência, amalgamada na juventude e que por alheiamento emerge na vida adulta, persistirá na minha velhice e me fará ser criança ao entardecer da vida que amanhecerá!

Eis um texto eternamente inacabado, no qual nunca terei a competência de fechá-lo! As vivências são mais fortes do que as memórias. As memórias mais fortes do que as palavras.


terça-feira, 29 de setembro de 2020

O primeiro e o derradeiro olhar - 27-09-98

 

Do primeiro ao derradeiro olhar. A têmpera foi forjada nas pequenas alegrias e tristezas artesanais. Havia um brilho no seu olhar. Quis a circunstância da vida que esse brilho não ficasse apenas no fundo do seu olhar. Você se transmudou naquele brilho luminoso. É por isso que sua vida vence a morte: "E quando amanhecer, o dia eterno a plena visão, ressurgiremos por crer, nessa vida escondida no pão."

sábado, 12 de setembro de 2020

O Primeiro Amor e o amor primeiro


O tempo já não passa mais para ti. Não estás sujeita às transitoriedades dessa terra. Venceste o espaco-tempo em que viveste. 12-09-79, Deus te quis humana e mulher. Mulher que se tornava humana e humana que se tornava mulher. No alto da saudade, há uma espera que não se deixa desesperar, um silêncio que transmite sem dizer, um compasso que não se deixa descompassar. Celebra tua vida continuada com o Eterno Amor. O Primeiro Amor e o amor primeiro. Nem da fé e esperança necessitas mais. Eu ainda sim, imerso na incompletude. Tenho saudade Dele e de você. Dê um beijo Nele por mim. Minha oração é o jeito de te abraçar e de dizer, uma vez mais, um eu te amo, que liga a terra ao infinito, na lágrima que cai e no sorriso agradecido.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

A fé reconfigura a saudade


 

O tempo que separa da última vez em que nos vimos é o mesmo tempo que fez nossas vidas se encontrarem.

Do primeiro ao derradeiro olhar, histórias trançadas, temperadas nas intempéries e nos sabores da existência. 

Como não lembrar daquela moça que aliava tão bem a espiritualidade carismática e a espiritualidade vicentina, dos mais pobres dentre os pobres ?

Também quis se formar no entendimento da psiquê humana, fez da sua vida uma oferta gratuita aos que tinham machucados na alma!

Cássia muito se aproximou da não-palavra do que à palavra. 

Por isso que a tarefa de te descrever não é trivial. 

A complexidade da sua simplicidade se coloca naturalmente.

Os porquês quantitativos e qualitativos não te trarão de volta.

Os "para quês" também não te trarão de volta, mas poderão fornecer subsídios na caminhada.

Descobri o que é ser um com você! 

Quando se descobre o significado de ser um, não importa viver aqui, 

nesse tempo e espaço ou no supra-físico, afinal fomos, somos e seremos um.

Não foi o contrato de casamento que nos fez um. Mas a benção sacramental, ao pé do altar, selou essa unidade que ninguém pode destruir.

Cada momento vivenciado juntos. Os sorrisos. As lágrimas. As idas. As vindas. O reencontro. 

As confissões ao pé do ouvido. O que os olhares revelavam sem nada dizer. Não cabiam nas palavras.

A aliança temporal foi quebrada sem sequer arranhar a aliança da alma. 

Não há abismo nessa ausência, pois o mesmo amor que tornou a nossa vida uma unidade, ainda que incompleta e imperfeita,

fez a mim como eu sou e fez você como foste e sempre serás! 

A vida partilhada nas minúcias.

Construímos a nossa eternidade na fugacidade do tempo. 

Nem a morte impede um amor que se foi, se ele continua sempre aqui! 

A luz do seu olhar que tanto encontrou aos outros. 

Seu coração aberto onde tantos encontraram abrigo.

Seu sorriso pertence para sempre a cada coração que te encontrou! 

Uma lágrima no sorriso.

Um pôr-de sol no amanhecer.

Uma incurável saudade no processo humano de ser. 

Seu terno olhar sempre será um estímulo para prosseguir na vida.

Seu coração aberto continua a ser minha inspiração.

Mil vezes com você me casaria, ainda que soubesse do dia de sua partida.

Viver como se fosse o primeiro e o último dia da vida.

Na passagem entre a sala e o quarto se agudiza o menino que carece do seu abraço.

Como um cruzado nominalista, sigo pela existência acreditando que a tal felicidade, cantada e decantada nas publicidades e canções, não tem razão de ser no tempo.

Apenas momentos felizes ao longo do caminho que se forja caminhando. 

Momentos felizes alinhavados sob a ternura gratuita do Senhor. 

E se pude ser feliz, é porque pude partilhar e compartilhar a minha vida por você, com você e em você.

A recíproca também é verídica. 

Em tudo o que eu fizer sendo, também serás comigo!

O preço do infinito da tua ausência é a saudade, exposta à carne viva, saberá esperar! 

A fé reconfigura a saudade! 

Já conheces o lado verdadeiro da Vida!

Já conheces, sem imagens e sinais, Àquele que te amou e te chamou à vida!

Bendito seja o Senhor que te amou e te chamou à vida!

Essa vida que se fez partilha e comunhão com tantos e com Deus.

Sua vida é um maravilhoso hino de louvor ao Criador que sempre repercutirá entre nós!

Eu daqui, dessas paragens transitórias.

Você daí, dessas margens sem margens!

"Tu eras também uma pequena folha

que tremia no meu peito.

O vento da vida pôs-te ali.

A princípio não te vi: não soube

que ias comigo,

até que as tuas raízes

atravessaram o meu peito,

se uniram aos fios do meu sangue,

falaram pela minha boca,

floresceram comigo." (Pablo Neruda)

No dia de São Bernardo de Claraval, o cantor das maravilhas de Deus na vida de Maria,

seu no Senhor!


domingo, 28 de junho de 2020

Análise do texto de Lc 2, 41-52



O trecho trata sobre o menino Jesus em Jerusalém. Relata-se a ida do menino Jesus e de seus pais, que tinha 12 anos à Jerusalém por ocasião da Páscoa dos judeus. Encerrada a festa, Jesus desapareceu dos olhares de seus pais. Maria e José pensaram que ele poderia estar na comitiva. Refizeram o percurso, o dia inteiro e nada! O buscaram entre parentes e conhecidos e nada! Retornaram à Jerusalém para continuar as buscas pelo menino Jesus. Depois de 3 dias, o encontraram no templo, sentado entre os doutores da lei, ouvindo-os atentamente e também indagando-os. E todos estavam maravilhados por seus ensinamentos e sabedoria. Quais pais e mães não passaram pela experiência do sumiço do seu filho, ainda que fosse por alguns instantes? Se tal ocasião já é motivo para ficar com o “coração na mão” na atualidade, como se diz na linguagem corrente, imagine naquela época, naquele tempo! Toda a apreensão, tensão e medo se dissolvem no encontro com o menino Jesus no templo.  Ao verem Jesus, seus pais ficaram emocionados, como ficariam emocionados todos os pais e mães ao terem encontrado o filho que se perdeu, ainda que fosse por instantes! Nos bastidores, quais pais não dariam uma lição de moral, uma “sova”, diante de tudo o que ocorreu? Por zelo, por cuidado. Imaginem, os pais de Jesus se dirigindo ao menino: “Moleque, onde é que você estava? Nós vasculhamos todo o percurso que fizermos e não te encontramos! Porque você fez isso conosco? Vai levar um tabefe e ficar de castigo!” Jesus, ao ver seus pais, questionou: “Vocês estavam me procurando? Não sabiam que eu estou cuidando das coisas do meu Pai?” A postura soa muito ousada para a época. Poderia soar como uma desobediência. Tal postura não deixa de ser cômica também. O filho pergunta aos pais se o estavam procurando, quando Jesus tinha sumido ... Na sequência, revela que está cuidando das coisas de Deus, o que revela sua consciência e missão. Os pais nada entenderam das palavras de Jesus. Seus pais o levaram para Nazaré e o relato bíblico revela que Jesus era obediente aos seus pais. Maria guardava com carinho tudo o que se passava na vida de Jesus. Qual mãe que não se recorda do nascimento de seu filho? Qual mãe não se recorda das primeiras palavras de seu filho? Qual mãe não se emociona ao relembrar as primeiras tentativas do andar de seu filho? E quando ele conseguiu se equilibrar? Assim como o coração de toda mãe é uma biblioteca de tudo o que aconteceu com seus filhos, não era diferente com Maria. Do ventre à cruz. Da lágrima do nascimento de Jesus, passando pela lágrima da morte do seu filho e chegando à lágrima da Ressurreição. A mãe conhece o filho como ninguém! Jesus crescia quantitativamente e qualitativamente, em estatura e sabedoria, em graça diante de Deus e dos homens!

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Análise do texto de Mt 11 25-30



O trecho inicia com Jesus, exultando no Espírito, louva o Pai, por ocultar a sabedoria divina dos sábios e entendidos desse mundo e ter entregue aos pequenos. Iniciativa agradável a Deus. Mais uma crítica aos fariseus, religiosos do tempo de Jesus. Deus tudo entregou a Jesus. Para operar a obra de redenção. Só o Pai conhece o Filho. Só o Filho conhece o Pai e a quem Ele quiser revelar. O Filho é um com o Pai e o Espírito Santo. Jesus faz um pedido. Uma chamada. Dirijam-se a mim, todos vocês que estão esgotados, fatigados, desmotivados, cansados e eu darei descanso. Levem a minha carga e aprendam de mim. Tudo o que é assumido, é redimido em Cristo. Cristo reivindica a autoridade de mestre. Sou manso e humilde de coração. Nas bem-aventuranças, encontramos algumas pistas sobre ser manso e ser humilde. Bem-aventurados os mansos porque eles herdarão a terra. Bem-aventurados os pobres de espírito porque deles é o reino dos céus. Felizes os serenos, pois a terra serão deles. Felizes os despretensiosos, pois o reino dos céus serão deles. E até mesmo nas atitudes mais radicais descritas na Bíblia, não deixou de ser manso e humilde de coração. Todos vocês encontrarão descanso para suas vidas. Minha carga é suave e meu fardo é leve. Quer dizer que Jesus divide com os homens o peso da viagem. Que Ele partilha com eles de suas dores, sofrimentos, alegrias e conquistas. Se não pudermos descrucificar os crucificados, que aliviemos, na medida do possível, ajudando a carregar seus fardos.

terça-feira, 23 de junho de 2020

Análise do texto de Mt 6, 7-14



O trecho trata sobre a verdadeira oração e o Pai Nosso. Jesus adverte aos seus seguidores que, na oração, não utilizem vãs repetições, tais quais os pagãos utilizavam; esses achavam que seriam atendidos pela quantidade de orações. Cristo adverte para que não sejam como os pagãos. Deus conhece o nosso ser, o nosso interior e sabe mais das nossas necessidades do que nós mesmos. Por muitas vezes, não sabemos como rezar e quando rezamos, nos aproximamos da postura de oração criticada por Jesus, Ele nos ensina o Pai nosso. A primeira parte versa sobre a manifestação do projeto de salvação de Deus entre os homens. A segunda parte trata do que é essencial para a vida humana enquanto viver por aqui, na temporalidade, e conforme o projeto de Deus. As petições do Pai nosso são dignas de maior aprofundamento, pois cada uma delas traz um elemento importante na oração e na vida humana. Contudo, prefiro me deter em duas ênfases: fraternidade e perdão. O início da oração traz: “Pai nosso”. Revela o Único Essencial da vida, de um Deus que não é eterna solidão, mas Eterna Comunhão entre as Pessoas Divinas, Deus Pai, Jesus e o Espírito Santo, que nos chama à sua intimidade de amor e vida. Essa comunhão nos chama, interpela à fraternidade com todas as pessoas. Somos chamados a nos amar como irmãos, assim como Deus ama a cada um de nós. O mesmo Deus, que nos criou, cada qual diferente, com um jeito de ser, com dons próprios, nos convida à irmandade. Somos diferentes, mas há algo que nos liga uns aos outros, ainda mais do que pela modalidade da raça humana: o fato de sermos filhos de Deus. E os filhos de Deus trazem a herança de Deus. Deus é o alimento essencial para a vida humana que precisa ser compartilhado com todos. O sinal concreto dessa herança é a unidade e o amor entre os irmãos, dom e tarefa de cada um de nós, não obstante as divisões causadas ao longo da história. No início da segunda parte traz: “o pão nosso”. Deus, além de se ofertar a cada um de nós como alimento de vida eterna, também provê o sustento da nossa vida nesse chão e nessa terra. Nos oferece os frutos dessa terra. Nos cumula de dons e habilidades para cuidar dessa terra, nos cumula de dons e habilidades para construirmos não apenas bens materiais, coisas úteis para os homens, mas também bens imateriais, como construir a fraternidade entre os homens, fazer acontecer o reino de Deus entre nós, reintegrar à vida social quem foi descartado. Dar pão a quem tem fome. Dar água a quem tem sede. Dar sua vida a quem apenas persiste no tempo. Ser amor que encarna e procura suavizar as cruzes dos outros. E nisso, somos todos iguais. É Ele quem dá as forças necessárias para quem labuta, no trabalho de cada dia. A outra ênfase é a do perdão. Jesus menciona o perdão na petição: “E perdoa-nos as nossas dívidas como também nós perdoamos aos nossos devedores.” E também “Se não perdoardes os homens e seus delitos, vocês também serão perdoados.” e “Se não perdoardes os homens e seus delitos, vocês não serão perdoados.” Todas as petições nos comprometem com Deus e com os irmãos, de maneira especial, essa do perdão. Na oração, nos responsabilizamos em perdoar àqueles que nos machucaram, que nos fizeram algum tipo de mal, pois Deus, que é amor, nos perdoa também. Se quisermos a paz de espírito, imprimir uma qualidade em nossa vida, é inevitável perdoar, é inevitável ser perdoado. E dar o perdão a si é tão importante quanto perdoar os outros e ter o perdão de Deus. O perdão é um exercício diário. Uma vigilância cotidiana. Um banho diário.

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Análise do texto de 1Pd 3, 15-18



O tema desse trecho é a confiança diante da perseguição. O versículo 13 começa com a seguinte indagação: Quem poderá fazer mal se fores constante no bem? Muitas vezes o mal nos acomete pois não somos perseverantes na prática do bem. Acabamos por permitir situações de brechas para a ação do mal em nós. Pedro, em seguida, trata que sois felizes, bem-aventurados, aqueles que bem aventuram suas vidas quando sofrerem pela justiça. Ele alerta para que não temais, pois se isso ocorrer, é sinal de um trabalho bem executado, feito com esmero. É sinal que a mensagem de Cristo está chegando a quem precisa chegar e isso nem sempre é bem visto por alguns. O apóstolo exorta adorar Cristo Jesus e que estejam sempre atentos para responder a quem indagar sobre a razão de sua esperança. Há sempre alguém que te observa, ainda que não o estejas vendo. Há sempre alguém que ao notar sua conduta e procedimento, pode querer saber um pouco mais, te perguntar o motivo de agir dessa maneira. A resposta nem sempre é simples, pois passa pela constante formação humana, espiritual, afetiva, social, psicológica. Passa pelo grau de interesse em querer saber sempre mais, de se formar sempre. De buscar leituras espirituais, culturais, sociais. O grau de interesse também passa por buscar por si mesmo e nem sempre esperar por algum estímulo externo. Isso requer maturidade e autonomia. Não é fácil explicar o mistério da fé. Há razões que só a fé pode entender. Isso não significa abdicar de continuar a buscar, aprender com o mistério. O maravilhar-se com o mistério nos impulsiona a continuar a buscar as razões de nossa esperança e comunica-las a quem quer que seja. O apóstolo fornece uma pista. Ao responder à quem te indaga sobre a razão de sua esperança, responda sempre brandamente, com mansidão e boa consciência. Responda sobre aquilo que você vive. Nem sempre acertas em tudo, mas nem sempre erras em tudo. Nesse sentido, os perseguidores ao verem a sua conduta em Cristo, ficarão confundidos. É melhor passar pelo crivo do sofrimento fazendo o bem do que fazendo o mal. O exemplo foi dado por Jesus, ao trilhar sua paixão, morrendo por nossos pecados. Um justo pelos injustos. Um inocente pelos acusados. Cristo passou pela lógica do “bode expiatório”, concepção que vem de longe, de quem alguém precisa pagar com a própria vida o mal que se acomete no mundo. Cristo é Cordeiro Expiatório que tira o pecado do mundo. Sua oferta gratuita, sua livre entrega nos indica um estilo de vida entre os homens de hoje e de sempre. Para que fôssemos reconduzidos a Deus. Todos nós, para que uma vez mortos na carne, fôssemos vivificados no Espírito.

sábado, 23 de maio de 2020

Análise do texto At 17, 15.22-18,1



O trecho trata da estadia de Paulo, Silas e Timóteo em Atenas. Paulo vai ao areópago, espaço dedicado ao encontro de notáveis para discutirem as situações de seu tempo. Dirige um discurso aos cidadãos atenienses. Constata que que eles eram religiosos. Paulo percorreu toda Atenas e notou diversos monumentos às divindades que eles cultuavam. E também encontrou um altar cuja inscrição “Ao Deus desconhecido”. Ali percebeu uma brecha, um pretexto para anunciar o Deus de Jesus Cristo. Paulo afirma que esse Deus desconhecido que era cultuado pelos gregos é o Deus vivo. Discorre sobre a criação, que Deus criou o mundo, tudo o que existe. E preconiza que Deus não habita em templos feitos por mãos humanas e nem é servido por elas. Não precisa de absolutamente nada, pois é Deus, A Vida doadora de vida. Estabelece uma crítica às divindades e ídolos cultuados por eles.  Também discorre sobre o espalhamento da raça humana sobre a terra. Há muito tempo, esse Deus foi procurado às cegas, na escuridão, às apalpadelas, sendo que Ele nunca esteve longe dos homens. Nele vivemos, movemos e existimos. Imagem e semelhança. Paulo ainda continua discorrendo que se possuímos uma gênese divina, a divindade não pode ser pensada em nenhum termo da materialidade, nem mesmo da materialidade mais preciosa considerada pelos homens, como ouro, rubi, esmeralda. A grande novidade anunciada era que Deus não levaria em conta os tempos de ignorância. Contudo, os homens deveriam reconhecer essa ignorância e se arrependerem. Dom de Deus que se abraça à tarefa humana de cada dia. Até então, o discurso de Paulo estava sendo bem assimilado pelos gregos. Ao anunciar Jesus e mais especificamente passar pelo tema da ressurreição foi o problema, pois o tema era indigesto para os gregos que não acreditavam na ressurreição. Paulo não se alongou e nem insistiu: se retirou. Aparentemente, o episódio fora um fracasso no anúncio e no testemunho. O relato nega tal versão, narrando que alguns homens abraçaram a fé, Dionísio de Areopagita, Damaris entre outros. A narrativa mostra que nem sempre teremos o tempo todo êxito na caminhada cristã do anúncio e testemunho, o que contradiz e muito a concepção da vida cristã sempre vitoriosa e próspera. Mesmo na ausência de resultados positivos e frutos abundantes, se faz necessária a semeadura. Mas nem sempre há acolhida do anúncio e do testemunho. Paulo compreendeu isso, e partiu para outra cidade, a cidade de Corinto, onde tivera resultados mais significativos. O próprio Jesus, outrora, já havia dito que ao entrar em uma cidade, se não houvesse acolhida no anúncio e testemunho, que se sacudisse a poeira dos pés em retirada do lugar. Sempre há outros lugares com pessoas sedentas da palavra de Deus. Tal discurso não é apenas uma literatura escrita em determinado espaço de tempo; é um relato de coragem e ousadia, que nos contagia no prosseguimento e caminhada com o Senhor.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Análise do texto 1 Pd 2 4-9



Cheguem mais perto de Deus por meio de Cristo Jesus. Os homens rejeitaram essa pedra viva. Mas para Deus, essa pedra viva é escolhida e preciosa. Todos vocês não são menos que isso; são pedras vivas, massa, tijolo, alicerce que concebem o templo espiritual. Seus sacrifícios espirituais são apreciados por Deus por meio de Jesus. Todos vocês têm a capacidade de serem pontes, caminhos que conduzem a Jesus, que conduzem todos à Deus. O salmista diz que “A pedra que os pedreiros rejeitaram tornou-se agora a pedra angular.” Isso significa que para quem tem fé, essa pedra viva que é Jesus é um tesouro precioso, refúgio seguro. Para quem não acredita, torna-se pedra de tropeço. Ser raça eleita não significa ser uma raça superior às demais: significa que Deus amou e escolheu a humanidade. Todos vocês são possuem o sacerdócio régio, pessoas que conduzem as outras para Jesus. São elos de ligação. Vocês são nação santa, separados no mundo para fazerem a diferença em unidade, para fazerem história, quando se deixam permear pelas palavras e ações de Jesus. O testemunho coerente entre palavra e atitude passa pela contínua integração humana da mente e do corpo. Mens sana in corpore sano.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Análise do texto Jo 14, 1-6



A nossa reflexão será o trecho do Evangelho de João, capítulo 14, 1-6. No primeiro versículo, Jesus faz um pedido aos seus discípulos, que ficassem tranquilos, que não se desesperassem, pensando demais. Que creiam em Deus e em Jesus. Muitas vezes, as situações chegam ao limite que os homens não conseguem transpor. A fé exige uma entrega, uma confiança filial de quem tem intimidade com Deus. Muitas vezes, caminhamos nessa vida desconhecendo nossa origem e meta última. O tempo que nos é concedido é uma dádiva e oportunidade para entrarmos em contato com essas realidades fundamentais da nossa vida. Jesus diz que na casa do Pai, há diversas moradas, que Ele iria para lá preparar um lugar para cada um de nós. E que depois de ter ido preparar um lugar para cada um de nós, eis que Ele voltará e nos levará para onde Ele estiver. Eis que Jesus Cristo, assumiu nossa condição humana, para nos orientar para Deus. Ele é o próprio reino despojado da realeza humana. Um rei sem adornos de ouro, rubi, esmeraldas, diamantes, prata. Passou pela vida reintegrando a quem estava descartado da sociedade e da religião da época. Ninguém está acima da lei, mas a vida está acima da lei. Passou pela experiência da dor, do abandono, da solidão e da morte. Transformou essas experiências de morte em experiências irrigadoras de vida plena. Subiu aos céus para apresentar ao Pai nossa humanidade sofrida, para um dia, contemplarmos Àquele que nos amou com amor gratuito e desmedido. Subiu à Deus para que Deus derramasse seu Espírito Santo para que fosse o nosso guia nas estradas da vida, para que nos lembrássemos das palavras de Jesus. Até o dia que finalmente voltará. E Ele continua voltando no tempo, pela palavra de Deus, pelas vidas e palavras inspiradas dos irmãos, pelo pão e vinho, corpo e sangue de Nosso Senhor, memória perpétua de sua permanente estadia entre os homens. Jesus disse aos discípulos que eles saberiam de sua procedência. Todavia, Tomé questiona: Nem sabemos para onde vais, como podemos saber qual é o caminho?”  Daí a resposta lapidar de Jesus: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim”. Manifesta a sua missão e identidade transcendentes, divinas, explicitadas em três elementos. O caminho, na qual Jesus é a travessia que liga duas pontas, da nossa humanidade imperfeita e contraditória à Deus, suma perfeição e coerência. A verdade, Cristo é a verdade do Pai que não pode ser negociada e nem instrumentalizada, que nos ensina que a verdade precisa permear nossa conduta de vida, nosso estilo de ser, viver sem hipocrisia, sem máscaras. A vida, a vida de Jesus, em seus atos e sinais são um convite a deixarmos as falsas seguranças, zonas de conforto para sermos semeadores da vida. Fazer o que estiver ao alcance para atualizar Jesus em nosso tempo e na nossa história. Jesus é nossa travessia para Deus. E em muitas situações, seremos para quem nos encontrar ou precisar de nós, uma travessia para Jesus. Madre Tereza de Calcutá, certa vez disse: “Talvez, você seja o único evangelho que seu irmão lê.” Então, trate de viver bem, de bem aventurar a vida sendo feliz!

sábado, 25 de abril de 2020

Análise do texto At 2, 42-47



O texto mostra o primeiro retrato da comunidade cristã primitiva. A assiduidade era a marca registrada daquela comunidade. Mais do que se antecipar aos compromissos, eram disponíveis. Disponíveis em aprender com os apóstolos. Tinham sede de saber mais. Não queriam ficar na teoria daquilo que foi absorvido no ensinamento, então, viviam na comunhão fraterna, entendida na comum união de tudo o que tinham e de tudo o que eram. Não se tratava de mero assistencialismo ou a um vago sentimento de solidariedade. A vida era partilhada, nunca subtraída, mas acrescida naquela comunidade. A comunhão fraterna era encarnada através do espírito de união dos corações e a gratuidade. O pão era repartido aos que tinham a fome do corpo. Jesus era o pão vivo que saciava a fome da alma. A alegria da partilha se fazia notar e era executada da forma mais simples possível, sem nenhuma ostentação.Se abasteciam comunitariamente no Templo e partiam em missão pelas casas. Se devotavam à oração comunitária, como um momento especial de profunda intimidade com Deus. Todas essas iniciativas sedimentavam a fé, a reverência para com Deus. Os frutos cada vez mais eram abundantes, nos sinais e prodígios realizados através dos apóstolos. Era característica comum daqueles que aderiam à fé colocar tudo em comum. As posses eram vendidas e os valores divididos para as reais necessidades da comunidade. Cresciam não apenas quantitativamente, mas qualitativamente!

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Análise do texto At 4, 32-37



O texto, que é um segundo retrato da primeva comunidade cristã, principia narrando que a multidão era um só coração e uma só alma. O espírito de união, de fraternidade, de irmandade, de comunhão era transbordante. Nada era de ninguém e tudo era comum a todos. Não haviam maiores e nem menores. Não haviam vencedores e nem vencidos. A autoridade dos apóstolos era a chamada para o serviço, para a partilha fraterna. A comum união nivelava a todos por cima, no espirito da simplicidade e gratuidade. O testemunho dos apóstolos era fascinante e igualmente poderoso, pois o mote desse testemunho era o anúncio de Jesus vivo e ressuscitado, de que o Reino de Deus era realidade e estava entre os homens. O testemunho dos apóstolos era convincente e atraia a muitos e muitos aceitavam e aderiam ao anúncio. Na comunidade, não havia alguém que passasse dificuldade. Tudo era dividido, tudo partilhado. Os que possuíam bens, vendiam. Traziam os valores aos apóstolos, que repartiam aos necessitados. Todos estavam no mesmo patamar de igualdade. O exemplo passa por Barnabé, que era dono de um campo, vende e traz aos apóstolos que distribui aos mais necessitados.

terça-feira, 21 de abril de 2020

Análise do texto de Jo 21, 1-14



Tal trecho é precedido por dois relatos significativos. O primeiro relato encontra-se no mesmo evangelho, capítulo 20, versículos 24 a 28, cuja narrativa central é o encontro de Tomé com Jesus. Os discípulos testemunham que viram o Senhor, mas Tomé resiste em acreditar. Passado 8 dias, Jesus manifesta-se, saúda a todos com a paz, dirige-se a Tomé, e diz para que ele o toque. Tomé vê, toca e crê. Acredita da transcendência de Jesus. Tomé foi materialista e racional até demais, mas quem de nós também não seria? Mas, cabe o aviso do Mestre que felizes são os que não viram, mas creram.  O segundo relato localiza-se no mesmo evangelho, capítulo 20, versículos 30 a 31, cujo núcleo são os diversos sinais realizados por Jesus que não foram descrito nas escrituras. O evangelista garante que todas as intervenções e fatos relatados seriam o suficiente para o despertar da fé e a vida no nome de Jesus. Logo após, vem o texto em questão, que trata da manifestação de Jesus ressuscitado aos discípulos no Mar de Tiberíades. Jesus já tinha se manifestado outras vezes para diversas pessoas. Estavam por ali Simão Pedro, Tomé Dídimo, Natanael, filhos de Zebedeu e outros dois de seus discípulos. Em um determinado momento, Pedro resolveu pescar, bateu a saudade da antiga profissão de pescador, fazendo os outros irem com ele. A liderança de Pedro era algo natural, não imposta ou fruto de técnicas retóricas, pois era simples com requintes de rudeza. Passaram toda a noite não tiveram êxito na jornada, para a decepção de Pedro, que era um pescador nato, profissional. Logo de manhã, Jesus aparece, estava em terra firme, mas ninguém reparou que era ele. O mesmo pergunta se tinham algum peixe. Mas os discípulos comentam do fracasso da tentativa da pescaria noturna. Jesus pede para que a pescaria continue, mas que se mude o lado, jogando a rede à direita. Talvez em um primeiro momento, desconfiassem daquele estranho pedido, já que tinham em Pedro, um experimentado homem de ofício. Mas atenderam o pedido. Jogaram as redes. E qual não foi a surpresa, que pegaram uma grande quantidade de peixes, nem conseguiam puxar as redes direito. Temos aí uma alusão as narrativas do Lucas, 5 4-10, da pesca milagrosa, de João 2, 6, das Bodas de Caná, como também em João 6, 11. Nesse ínterim da narrativa, João disse a Pedro que era o Senhor. O segundo estava totalmente desnudo, vestiu prontamente a túnica e lançou-se ao mar. E vieram com ele os outros. Jesus solicitou que trouxessem alguns peixes. E Pedro puxou a rede. O primeiro aspecto é que eram peixes grandes. O segundo aspecto que a quantidade era 153. Algumas análises sobre esse número. Número triangular que significa a soma de 1 a 17.17 é a soma de 10 (mandamentos / multidão) + 7 (Deus / perfeição / totalidade). São Jerônimo, o primeiro tradutor das Sagradas Escrituras afirma que 153 eram as espécies de peixes conhecidas naquele tempo, representando também todos os homens de todos os tempos e lugares. O terceiro aspecto, não menos importante, é o fato da rede não ter rompido, não obstante a grande quantidade de peixes grandes que haviam na rede. Significa a união dos homens em torno de Cristo Jesus, ainda que na história, não faltem as divisões. Jesus chama a todos, vinde e comam! Ninguém tinha a coragem de perguntar se era Ele. Já não haviam dúvidas. Estavam diante do indubitável, do fato vivo. Já tinham reconhecido. Jesus toma o pão e o peixe e os distribuem a eles. Esse trecho também faz alusão à Lucas 24, 41-43, da refeição pós-pascal. Apresentam-se algumas diferenças. No segundo, há a presença do vinho, que na escritura, significa a vida. No primeiro, não aparece o vinho, mas o peixe, uma porque estão no contexto de mar, outra porque peixe representam os seguidores de Jesus. Nas perseguições, quando os cristãos queriam comunicar que estavam por ali, desenhavam a figura de peixe. O próprio Senhor já havia proferido que o senhor não era mais do que os serventes. Os últimos passariam por ocasiões parecidas em relação ao seu Mestre. Esse relato trata da terceira manifestação de Jesus aos seus discípulos, conforme João.  

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Análise do texto de Lc 24, 13-35



O texto trata sobre o relato de dois discípulos que partiam para Emaús, um povoado um pouco longe de Jerusalém. Enquanto caminhavam, conversavam sobre os últimos acontecimentos, a trajetória de Jesus e sua paixão. De repente, Jesus aparece, aproxima-se e caminha com eles. Em um primeiro momento, não notaram a sua aproximação e mais ainda: que alguém caminhava com eles. Estavam com os olhos vendados, não enxergaram a presença de Jesus. Estavam entretidos na narrativa dos últimos acontecimentos da vida de Jesus. Jesus toma a iniciativa da palavra e pergunta sobre o assunto que eles tratavam, tendo percebido suas fisionomias sombrias e tristes. Cleófas responde se ele seria um estrangeiro que desconheceria a sucessão de fatos ocorridos naqueles dias. Jesus paga para ver e diz que não sabia. O viajante narra que tinha existido um profeta poderoso em palavras e em obras diante de Deus e dos homens, que era Jesus. Este foi entregue aos sumos sacerdotes para ser crucificado e morto. O povo tinha uma expectativa de que Ele fosse um messias político, um salvador da pátria que os livrassem das garras das autoridades romanas e judaicas. Passaram três dias e nada da ressurreição anunciada por ele. As mulheres que foram ao túmulo não encontraram seu corpo. Os homens verificaram o lugar e também não constataram seu corpo e nem viram Ele, certificando o relato feminino. Jesus os critica severamente, chamando-os de Insensatos e lentos de coração. Que era nuclear essa passagem, os sofrimentos, indiferenças, escárnios, zombarias, ultrajes, traições para chegar a glória de seu Pai. Jesus ressignifica a escritura desde Moisés, os profetas, nos pontos que convergiam para Ele. O Vétero Testamento tomado de forma literal, isolada, gera as maiores deformidades e equívocos. Ele ganha um novo sentido a partir do Novo Testamento, a partir da trajetória e vida de Jesus. Ele é a chave hermenêutica de leitura. Jesus fez que ia passar adiante e deixar eles no caminho, mas eles o interpela: Permanece conosco, é tarde e a noite já vem. A narrativa atesta que Jesus ficou com eles. Atendeu o pedido. Deus tomou a primeira iniciativa de ir ao encontro do homem. É tarefa dos homens irem ao encontro de Deus, ainda que sejam incompletos e insuficientes. O amor não se bastou a si mesmo. O amor quis ir ao encontro do amado. O amado, completo, refeito por esse amor, permanece nesse amor. Jesus abençoa o pão, reparte e distribui. Ao proceder isso, Jesus desaparece diante deles. A ficha dos viajantes cai, reconhecem Àquele que tanto sinais fez. Até o coração deles se tornava brasa nos relatos, na memória que fazia. Eis que levantaram e rumaram à Jerusalém para contar aos seus companheiros que a ressurreição de Jesus é fato. Eles tiveram o contato com esse vivo acontecimento, era prova inconteste, indubitável. Jesus que tinha se manifestado à Simão. Creram também em seu testemunho. Muitos não creram no testemunho daqueles que tiveram contato com esse vivo fato. O texto nos deixa dois elementos importantes: é fundamental ser testemunha desse fato e igualmente importante dar credito ao testemunho de muitos que tiveram acesso a esse fato. Ser testemunha para testemunhar. Quem não foi testemunha, não pode nada testemunhar. Quem diz ser testemunha de apenas relatos, de um “ouvir dizer”, pode até perseverar por certo tempo, mas se cansará e jogará “tudo pro alto”. Não teria o profundo significado para prosseguir para além dos sabores e dissabores da existência.

sábado, 4 de abril de 2020

Análise do texto de Jo 10, 31-42



Os textos anteriores a esse, como em Jo 10, 1-10, trata sobre Jesus como a porta das ovelhas, onde o mesmo coloca-se como a porta, passagem onde se encontra a salvação e pastagens para descansar. Também trata da vinda de Jesus como Àquele que fornece a vida gratuitamente em larga escala, em abundância.  No texto seguinte, seguindo a temática do pastoreio, Jesus se apresenta como o bom pastor, que conduz as ovelhas ao caminho da vida.  No texto que se sucede ao de Jo 10, em Jo 11, 1-45, relata a Ressurreição de Lázaro, um extraordinário feito de Jesus, após o corpo de Lázaro ter sido sepultado há 4 dias. O texto de Jo 10, 31-42 está no estrado do testemunho das obras e se conecta com as leituras citadas a partir da perspectiva da promoção e apologia à vida. Todos os feitos de Jesus estão diretamente comprometidos com a vida das pessoas, principalmente àquelas que estavam à margem da sociedade e da religião judaica. Era uma questão de honra trazê-las à vida normal, a sadia convivência através de suas intervenções que ao mesmo tempo que recuperava a dignidade perdida, também manifestava um novo tempo, que o Reino de Deus já estava presente entre elas. Em todas as narrativas dos Evangelhos, notamos uma profunda conexão entre o discurso e a práxis de Jesus, intrinsecamente ligados e coerentes. Vivemos em tempos pós-modernos onde a palavra há muito tempo deixou de ter valor e significado. Há um gigantesco desgaste da palavra. Outrora, não era assim. Um acordo era tecido a partir do consentimento e da palavra dada e todos respeitavam, todos cumpriam. Em determinado momento da história, alguém decidiu não sustentar a palavra dada. Alguém foi prejudicado e alguém foi beneficiado. Entraram em cena instâncias jurídicas, a criação do cartório para dar uma resposta a esse acontecimento. O fato é que a hipocrisia sempre esteve presente na história. E esta assume dimensões avassaladoras, assustadoras em nosso tempo, especialmente em nossa sociedade brasileira, pautada na lei de Gerson, de extrair o máximo de vantagem em tudo o que puder, e o famigerado jeitinho brasileiro, o jeito de burlar normas, procedimentos e leis. Combinação explosiva que explica com muita precisão o perfil de nossa sociedade atual. E como não podia ser diferente, Jesus foi um obstinado crítico da hipocrisia de seu tempo, notadamente em relação as autoridades religiosas estabelecidas. Após essas considerações, vamos ao texto. No versículo 31, os judeus já estavam na espreita de Jesus para apedrejá-lo. No próximo versículo, Jesus os questiona em que outras eles querem o apedrejá-lo. No Evangelho de João, narra-se a cura do filho do oficial, do paralítico na piscina, a multiplicação dos pães, o caminhar sobre o mar, o episódio da mulher adúltera, onde Jesus desarma as pedras judaicas a começar pelos anciãos e depois os mais novos e a cura do cego de nascença. Mas os judeus respondem que as obras não estavam em pauta, mas sim sua atribuição como filho de Deus, se fazendo Deus. Jesus responde que na lei judaica há referência de que “sois deuses”. Se consideram deus aquele na qual a palavra é transmitida e que a anuncia, ainda mais para Àquele que foi enviado e consagrado pelo Pai. Notamos um questionamento, uma constatação e um primeira tentativa de aproximação. A próxima argumentação de Jesus vai girar em torno da relação entre fé e obras. Se Ele não faz as obras, não seria necessário crer Nele, mas se Ele faz, a crença Nele se faz necessária, pois as obras que realiza e as palavras que profere indica que sua permanência em Deus o leva a guardar a sua palavra e vice-versa. Temos aí um segundo movimento de aproximação, uma tentativa de identifica um ponto de contato para o diálogo. Mas os judeus não estavam para o diálogo e tentaram prender Jesus, mas não conseguiram, pois Ele passou para o outro lado do Jordão onde João batizava. Aí Ele encontrou os discípulos de João, onde estes diziam que o que tinha sido dito de João sobre Jesus era coerente e tinha fundamento, mesmo que João não tivesse feito nenhum milagre. Ora, a missão de João Batista era anunciar Àquele que era maior do que ele, que não era digno de desatar o nó de suas sandálias, nas suas palavras.

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Um ano no atemporal







O brilho do teu olhar dissolveu-se entre as estrelas.
O calor do teu abraço encontra-se no sol nascente que rompe a madrugada.
O teu carinho transmudou-se na brisa de chuva ao entardecer.
Honrado por ter feito parte do teu processo humano de viver.
Alegrias e tristezas. Lutas e vitórias.
Tudo fez, faz e fará parte do tecido da vida.
Teu coração aberto nunca foi utopia, sempre um sólido caminho rumo a humanização.
Me faz pensar e aprender que a humanidade tem jeito, pois tiveste jeito com os humanos de seu tempo.
Não há como não pensar em você. A cada segundo, a cada minuto.
Ensinou a viver contigo, só não ensinou a te esquecer.
O tempo que me restar nessa terra sei que estarás comigo, na mente e no coração.
Quisera ter te dado o último beijo e abraço.
Mas cada beijo, abraço e carinho foram únicos, primeiros e derradeiros, tais quais em todos os momentos em que estivemos juntos.
Se o teu olhar e sorriso eram a porta de entrada de sua presença na vida das pessoas,
hoje, minha solidão não é solitária, é imersa e povoada das mais vivas lembranças,
na gratidão pela existência de um ser desse quilate.
Laço que se quebra não impede um amor que continua!
Nossas vidas prosseguem, tais quais dois rios que correm em paralelo e desaguarão, ao final, no coração de Deus.
Voa, ternura rara, voa que o teu lugar é o infinito!
O inesquecível ocorre no tempo e repousa no atemporal!
Cássia, 1 ano de atemporalidade, com nossas saudades.